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Introdução à Sociologia

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Programa de Formação da CNTE

Um novo conceito de atuação sindical Eixo 1 – Fascículo 1

 

 

 

Introdução à Sociologia

Eudson de Castro Ferreira

 

 

3ª Edição, 1ª Reimpressão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Brasília, DF CNTE/ESFORCE 2014

 

© 2014 CNTE

Qualquer parte deste caderno pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. Disponível também  em: http://cnte.org.br/index.php/secretarias/formacao.html

Coordenação: Gilmar Soares Ferreira – Secretário de Formação

Heleno Araújo Filho – Secretário de Assuntos Educacionais

 

Secretaria da Escola de Formação (Esforce): Cristina S. de Almeida

 

Equipe de edição: Claudia Santiago, Marina Schneider, Sheila Jacob, Luisa Santiago e Ana Lúcia Vaz

 

Projeto gráfico e editorial: Vito Giannotti

 

Capa e diagramação: Daniel Costa e Frisson Comunicação

 

Ilustrações: Latuff / Hélio Arakaki

 

1ª Edição: Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (SINTEP/MT), em 2000 2ª Edição (revisão): Escola Centro-Oeste de Formação da CUT (ECO/CUT), em janeiro de 2007 3ª Edição: 2011

Edição 1ª Reimpressão: 2014

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esta publicação obedece às regras do Novo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa.

Foi feito depósito legal.

 

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

 

 

Bibliotecária: Cristina S. de Almeida CRB 1/1817

 

Gestão 2014/2017

Direção Executiva da CNTE

 

 

Presidente

Roberto Franklin de Leão (SP)

Vice-Presidente

Milton Canuto de Almeida (AL)

Secretário de Finanças

Antonio de Lisboa Amancio Vale (DF)

Secretária Geral

Marta Vanelli (SC)

Secretária de Relações Internacionais

Fátima Aparecida da Silva (MS)

Secretário de Assuntos Educacionais

Heleno Manoel Gomes de Araújo Filho (PE)

Secretário de Imprensa e Divulgação

Joel de Almeida Santos (SE)

Secretário de Política Sindical (licenciado)

Rui Oliveira (BA)

Secretário de Formação (licenciado)

Gilmar Soares Ferreira (MT)

Secretária de Organização

Marilda de Abreu Araújo (MG)

Secretário de Políticas Sociais

Antonio Marcos Rodrigues Gonçalves (PR)

Secretária de Relações de Gênero

Isis Tavares Neves (AM)

Secretário de Aposentados e Assuntos Previdenciários

Joaquim Juscelino Linhares Cunha (CE)

Secretário de Assuntos Jurídicos e Legislativos

Francisco de Assis Silva (RN)

Secretária de Saúde dos(as) Trabalhadores(as) em Educação

Maria Antonieta da Trindade (PE)

Secretária de Assuntos Municipais

Selene Barboza Michielin Rodrigues (RS)

Secretário de Direitos Humanos

José Carlos Bueno do Prado – Zezinho (SP)

Secretário de Funcionários

Edmilson Ramos Camargos (DF)

Secretária de Combate ao Racismo

Iêda Leal de Souza (GO)

Secretária Executiva (licenciada)

Claudir Mata Magalhães de Sales (RO)

Secretário Executivo

Marco Antonio Soares (SP)

Secretário Executivo

Cleiton Gomes da Silva (SP)

Secretária Executiva

Maria Madalena Alexandre Alcântara (ES)

Secretária Executiva

Paulina Pereira Silva de Almeida (PI)

Secretário Executivo

Alvisio Jacó Ely (SC)

Secretária Executiva

Rosana Souza do Nascimento (AC)

Secretária Executiva

Candida Beatriz Rossetto (RS)

Secretário Executivo

José Valdivino de Moraes (PR)

Secretária Executiva

Lirani Maria Franco (PR)

Secretária Executiva

Berenice D’Arc Jacinto (DF)

Secretário Executivo (licenciado)

Antonio Júlio Gomes Pinheiro (MA)

SUPLENTES

Beatriz da Silva Cerqueira (MG) Carlos Lima Furtado (TO)

Elson Simões de Paiva (RJ)

Francisca Pereira da Rocha Seixas (SP) João Alexandrino de Oliveira (PE)

Maria da Penha Araújo (João Pessoa/PB) Marilene dos Santos Betros (BA)

Miguel Salustiano de Lima (RN)

Nelson Luis Gimenes Galvão (São Paulo/SP) Rosilene Correa Lima SINPRO (DF)

Ruth Oliveira Tavares Brochado (DF) Suzane Barros Acosta (Rio Grande/RS) Veroni Salete Del’Re (PR)

CONSELHO FISCAL – TITULARES

José Teixeira da Silva (RN)

Ana Cristina Fonseca Guilherme da Silva (CE) Flávio Bezerra da Silva (RR)

Antonia Benedita Pereira Costa (MA) Gilberto Cruz Araujo (PB)

CONSELHO FISCAL – SUPLENTES

Rosimar do Prado Carvalho (MG) João Correia da Silva (PI)

João Marcos de Lima (SP)

Coordenador do DESPE: Mário Sérgio Ferreira de Souza (PR)

 

 

CNTE

SDS Ed. Venâncio III, salas 101/106, Asa Sul, CEP: 70.393-902, Brasília-DF, Brasil.

Telefone: + 55 (61) 3225-1003 Fax: + 55 (61) 3225-2685 E-mail: [email protected] » www.cnte.org.br

 

48 Entidades Filiadas à CNTE

 

 

SINTEAC/AC – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre

SINTEAL/AL – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas SINTEAM/AM – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas SINSEPEAP/AP – Sindicato dos Servidores Públicos em Educação do Amapá APLB/BA – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia ASPROLF/BA – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Lauro de Freitas SIMMP/BA – Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista SISE/BA – Sindicato dos Servidores em Educação no Município de Campo Formoso SISPEC/BA – Sindicato dos Professores da Rede Pública Municipal de Camaçari APEOC/CE – Associação dos Professores de Estabelecimentos Oficiais do Ceará SINDIUTE/CE – Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará

SAE/DF – Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar no Distrito Federal

SINPRO/DF – Sindicato dos Professores no Distrito Federal

SINDIUPES/ES – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo

SINTEGO/GO – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás

SINPROESEMMA/MA – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica das Redes Públicas Estadual e Municipais do Estado do Maranhão

SINTERPUM/MA – Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Timon/MA

Sind-UTE/MG – Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais FETEMS/MS – Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul SINTEP/MT – Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso SINTEPP/PA – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará SINTEM/PB – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município de João Pessoa SINTEP/PB – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Paraíba

SIMPERE/PE – Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial de Recife SINPC/PE – Sindicato dos Professores do Município do Cabo de Santo Agostinho SINPMOL/PE – Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Olinda

SINPROJA/PE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Município do Jaboatão dos Guararapes

SINTEPE/PE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco SINPROSUL/PI – Sindicato dos Professores Municipais do Extremo Sul do Piauí SINTE/PI – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica Pública do Piauí APP/PR – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná SISMMAC/PR – Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba SISMMAR/PR – Sindicato Dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária

SINTE/RN – Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública do Rio Grande do Norte

SINTERO/RO – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Rondônia

SINTER/RR – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima

APMI/RS – Sindicato dos Professores da Rede Pública de Ijuí

CPERS/RS – Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul – Sindicato dos Trabalhadores em Educação

SINPROCAN/RS – Sindicato dos Professores Municipais de Canoas SINPROSM/RS – Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria SINTERG/RS – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande

SINTE/SC – Sind. dos Trab. em Educação da Rede Pública de Ensino do Estado de Santa Catarina

SINDIPEMA/SE – Sindicato dos Profissionais de Ensino do Município de Aracaju SINTESE/SE – Sind. dos Trab. em Educação Básica da Rede Oficial de Sergipe AFUSE/SP – Sindicato dos Funcionários e Servidores da Educação

APEOESP/SP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo SINPEEM/SP -Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo SINTET/TO – Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado do Tocantins

 

 

Apresentação……………………………………………………………………………………………………………. 9

Introdução…………………………………………………………………………………………………………… 10

1 – Breve Histórico: A Sociologia e o Mundo Moderno…………………………… 12

2 – A Construção do Conhecimento em Sociologia…………………………………. 18

  1. Senso Comum………………………………………………………………………………………………………………………………… 19
  2. Conhecimento Científico………………………………………………………………………………………………………….. 22

3 – Questões centrais na Construção das Ciências Sociais……………… 26

  1. A Relação Sujeito e Objeto…………………………………………………………………………………………………. 27

Relação de Exterioridade………………………………………………………………………………………………………… 28

Relação de Cumplicidade………………………………………………………………………………………………………… 29

Relação de Reciprocidade……………………………………………………………………………………………………… 30

  1. Momentos Lógicos da Reflexão Sociológica…………………………………………………………… 31
  2. Paradigma: Princípio Explicativo………………………………………………………………………………… 33
  3. Contribuições ao Estudo da Sociedade…………………………………………………………………….. 42
  • – Teoria Sociológica: Pioneiros da Sociologia…………………………….. 50

Augusto Comte………………………………………………………………………………………………………………………….. 52

Herbert Spencer……………………………………………………………………………………………………………………….. 55

Karl Marx…………………………………………………………………………………………………………………………………….. 57

  • – O Desenvolvimento da Sociologia………………………………………………… 64

Émile Durkheim…………………………………………………………………………………………………………………………. 65

Max Weber……………………………………………………………………………………………………………………………………. 67

  • – O Funcionalismo…………………………………………………………………………………. 70

Bronislaw Malinowsky……………………………………………………………………………………………………………………………………. 71

Radcliffe-Brown…………………………………………………………………………………………………………………………………………………… 71

Roberto K. Merton…………………………………………………………………………………………………………………………………………….. 72

Talcott Parsons…………………………………………………………………………………………………………………………………………………….. 73

Novo Significado Teórico e Metodológico do Funcionalismo………………………………………………………… 74

  • – Roteiro para o Projeto de Pesquisa Social Crítica………………………….. 76
  • – Textos de Apoio para Estudo e Discussão……………………………………………… 82

Frei Betto. ONU Reprova Brasil e Critica a Globalização…………………………………………………….. 83

Karl Marx. Prefácio à Crítica da Economia Política………………………………………………………………… 84

Michael Lowy. Ideologia…………………………………………………………………………………………………………………………. 85

Moacir Gadotti. A Dialética: Concepção e Método……………………………………………………………………….. 89

Madalena G. Peixoto. Notas sobre Contribuição à Crítica da Economia Política de Marx……… 95

Madalena G. Peixoto. A Modernidade e o Século XX………………………………………………………………….. 100

  • – Sugestões de Filmes………………………………………………………………………………………….. 102
  • – Indicações Bibliográficas…………………………………………………………………………………… 106

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nossa homenagem ao professor Eudson de Castro Ferreira falecido em 12/12/2006, que foi professor de sociologia, membro fundador do

GERA-UFMT e assessor em Educação da Unesco/Seduc-MT

 

Introdução à Sociologia • 7

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução à Sociologia

 

Eudson de Castro Ferreira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Até hoje, os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo.”

(Karl Marx)

 

 

 

Introdução à Sociologia • 9

 

 

APRESENTAÇÃO

   APRESENTACÃO              

 

Após um período de discussão, de forma participativa,

como é a nossa tradição na CNTE, temos o prazer de apresentar, não apenas aos trabalhadores e trabalhadoras em educação, mas ao conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil,

o nosso Programa de Formação.

 

Ressaltamos que a principal peculiaridade deste Programa decorre do fato de ser todo ele concebido

e estruturado pelos trabalhadores e trabalhadoras em educação, a partir da concepção de uma Educação Integral e de uma proposta político-metodológica pautada pela compreensão de sujeito e de realidade como totalidades históricas e do trabalho como princípio educativo e de construção coletiva do conhecimento.

 

Para nós, esses aspectos são relevantes na implementação deste Programa. Este não se restringe apenas ao objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre os conteúdos políticos, sociais e históricos da luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Visa, sobretudo, possibilitar que os trabalhadores e trabalhadoras

em educação tenham uma visão crítica da realidade concreta, das relações sociais e do mundo em que estão inseridos. Que se percebam como sujeitos da história: capazes de analisar a realidade, elaborar propostas para transformá-la e agir coletivamente com convicção e consistência no dia-a-dia educacional e sindical.

 

Constituem o primeiro eixo os seguintes fascículos:

 

A publicação dos fascículos só foi possível em parceria com o SINTEP/MT, que disponibilizou para a CNTE os textos elaborados para o seu Programa de Formação.

Para o Programa Nacional, os textos foram revisados e atualizados, e contou com o importante apoio logístico do Sindicato dos Educadores da Suécia (Lärarförbundet), no período de 2007 a 2009. E aqui registramos o agradecimento em nome dos(as) trabalhadores(as) da educação básica pública do Brasil.

É com grande satisfação que apresentamos o fascículo Introdução à Sociologia.

Este material, como todos os outros, servirá de apoio aos participantes nas atividades desenvolvidas pela Secretaria de Formação.

Os temas abordados nos vários fascículos proporcionarão a todos e a todas, fundamentações teóricas e metodológicas, ferramentas fundamentais para o enfrentamento qualificado no movimento sindical e popular. Desejamos que os debates, as leituras e os estudos em grupo proporcionem transformações no nosso cotidiano, bem como, contribuam para a construção de um sindicalismo classista e de luta, na perspectiva de uma sociedade mais justa e igualitária.

 

Sucesso para todos nós A Direção

 

10 • Introdução à Sociologia

 

 

INTRODUÇÃO

   INTRODUCÃO                    

 

 

 

A Sociologia é uma ciência em construção que, desde seu início, em meados do século XIX, procurou explicar as estruturas e os processos sociais, políticos, econômicos e culturais da sociedade moderna. Trata-se de uma ciência que surgiu no decurso da consolidação

do Estado Liberal Burguês. Isto nos ajuda a compreen- der que, também ela, não está ilesa das contradições que caracterizam a moderna sociedade capitalista.

Pelo fato de vivermos em uma sociedade altamen- te complexa em sua forma de organização, em seus diferentes níveis de funcionamento e em seus avança- dos meios de comunicação, adquirimos muitas noções básicas que podem nos ajudar a compreender os acon- tecimentos sociais.

Somente quando estudamos, criticamente, as questões teóricas e metodológicas das diferentes teo- rias sociológicas, estamos nos apropriando das ferra- mentas necessárias e próprias para a compreensão da organização social e da vida humana em sociedade.

O presente fascículo foi elaborado com a inten- ção de alcançar dois objetivos. O primeiro, fornecer a base teórica e metodológica das principais teorias so- ciológicas que se empenham em explicar as estruturas, os processos e os fenômenos sociais.

 

 

 

 

 

Para alcançar o primeiro objetivo, apresentamos determinados temas que julgamos importantes para a compreensão teórica e metodológica das Ciências Sociais. Procuramos relacionar os temas apresenta- dos com o processo de construção de novos saberes em Sociologia. Privilegiamos a discussão sobre o senso comum, o conhecimento científico, a relação entre o sujeito e o objeto, os paradigmas, os momentos lógicos da reflexão sociológica.

No estudo das teorias, foram priorizados os pio-

neiros da Sociologia: Augusto Comte, Herbert Spencer e Karl Marx. Émile Durkheim, Max Weber, Roberto Merton e Talcott Parsons foram lembrados, em razão de suas relevantes contribuições para o desenvolvimento da Sociologia.

Tanto as questões apresentadas quanto àquelas que só foram mencionadas poderão ser estudadas e apro- fundadas, valendo-se da Indicação e da Contribuição Bibliográficas ao Estudo do Novo Paradigma e dos Textos de Apoio.

 

Introdução à Sociologia • 11

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Este fascículo não é uma peça pronta e, menos ain- da, um tratado de Sociologia, mas, fundamentalmente, um trabalho em permanente processo de construção. Assim, a prática refletida dos (as) trabalhadores (as) da educação, na sala aula, nos sindicatos, no processo de formação, nos embates políticos, no dia-a-dia de sua vida pública e privada, ditará a “permanente ree-

dição” do presente texto.

E mais, a discussão e a socialização dos temas teóricos e práticos, que ocorrerão nos diferentes momentos proporcionados pela formação de qua- dros da CNTE, deverão ser encarados como reedição avançada do “fazer-saber-sociológico” que, neste fascículo, apenas se encontra iniciado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Breve Histórico

 

A Sociologia e o mundo moderno

 

 

 

A Sociologia surgiu em meados do sécu- lo XIX, quando já havia ocorrido a Revolução Burguesa na Inglaterra no século XVII e iniciado a Revolução Francesa, no final do século XVIII, em 1789. Estes dois movimentos revolucionários implantaram o processo liberal que deu susten-

tação ao desenvolvimento do modo de produção capitalista e ao Estado Burguês no mundo oci- dental. Desenvolve e consolida-se, no decorrer do tempo subseqüente, o capitalismo que assegurou as condições de produção e reprodução do Mundo Moderno.

 

 

 

 

Quando desencadearam as revoltas populares no campo e nos centros urbanos industriais europeus na Inglaterra, desde 1835, e a revolução de 1848-49, na França e Europa, emerge e desenvolve-se, também, a Sociologia. Ela nasce, portanto, de mãos dadas com a

 

Como diz Ianni:

modernidade. Pode-se dizer que, a Sociologia é o resul- tado desse Mundo Moderno, da mesma forma que ela se posiciona e se coloca para desvendar e explicar os di- lemas fundamentais deste novo mundo que surge, su- perando, rompendo e propondo negar todo o passado.

 

 

 

1 IANNI, Octávio. A Sociologia e o Mundo Moderno. Aula Inaugural. UNICAMP, Campinas, IFCH, março-1988, pág. 8.

 

 

 

O Mundo Moderno surge e ganha corpo com a re- volução burguesa no ocidente. Historicamente, e com ele, ficam estabelecidas e vão sendo consolidadas as forças produtivas e as relações sociais capitalistas de produção. Trata-se de uma época em que a origina- lidade e as contradições do Estado burguês se encar- regam de construir e fortalecer os alicerces da atual sociedade. De lá para cá, se aprimora a construção das estruturas da economia e do Estado, das tecnologias, dos atores e dos sujeitos sociais que assegurarão a ori-

ginalidade do capitalismo. Se estrutura uma sociedade que produz mais-valia ou trabalho não pago. Uma so- ciedade que vai se tornando cada vez mais complexa; uma sociedade que concentra, de um lado, os meios de produção e a riqueza nas mãos de poucos e, de outro lado, cria uma imensa massa original e diferenciada de trabalhadores. Estes deverão vender sua própria força de trabalho para se manterem vivos, para reproduzirem trabalhadores novos que continuarão a produzir, de for- ma cada vez mais sofisticada, a magia da mercadoria.

 

 

Leonardo Boff, em uma de suas críticas ao modelo atual

da sociedade em que vivemos, escreve em seu livro a Ética da Vida2.

 

 

É necessário deixar claro que o Mundo Moderno e que a atual sociedade burguesa são o resultado de um processo de construção histórica e social da hu- manidade. “Processo de transformações que podem ser vistas como rupturas, pois alteram toda uma forma de viver da sociedade. É, porém, uma ruptura que foi len- tamente preparada, que está sempre ligada com algo que já existia, pois não se pode admitir o surgimento de uma situação nova sem ligação com os anteriores”.3 Portanto, o Mundo Moderno é o resultado de um gran- de processo. Processo que inclui sujeitos, objetivos ou

resultados esperados, tempo, lugar, recursos, relações, reciclagem, avaliações, planejamentos, replanejamen- tos. Estes fatos irão produzir fenômenos sociais com- plexos, construídos e aprimorados pelos homens em suas relações de classes sociais.4

Por isso mesmo, jamais devemos entender os fatos ou fenômenos sociais como ocorrências naturais, como defendem os pensadores positivistas, como querem al- guns fundadores da Sociologia, principalmente, Comte e Spencer, em suas questões teórico-metodológicas e, in- clusive, como defende Durkheim, na questão do método.

 

 

2 BOFF, Leonardo. Ética da Vida. Editora Letraviva, Brasília, 1999, pág. 42.

3 BORGES, Vavy Pachego. O Que É História. Editora Brasiliense, nº 13, 13ª, ed, 1988, pág. 49

4 Sobre o conceito e significado de Classe Social, ver página 44, Proposições e Conceitos básicos do Materialismo Histórico.

Ver também, LÊNIN, V.I. Las Clases Sociales. Una gran iniciativa. Obras escogidas. Vol. X Ed. Progresso, Moscú, 1977, (pág. 11-12).

 

 

 

Em oposição aos pensadores positivistas, vamos encontrar filósofos, historiadores, cientistas e analis- tas sociais, históricos críticos e dialéticos , a exemplo de Marx, Engels, Lênin, Lukács, Gramsci, Goldmann, Perry Anderson, Florestan Fernandes, Hobsbawm, E. P. Thompson, entre outros.

Estes defendem serem os fatos ou fenômenos sociais, produtos ou resultados, conflitantes ou não, das ações das pessoas que vivem em diferentes clas- ses, grupos e segmentos sociais. Pessoas, segmentos, grupos e classes sociais que interagem e atuam em di-

ferentes sociedades concretas e, historicamente, loca- lizadas. Estas sociedades e situações concretas devem ser estudadas, fazendo história, como considera e ana- lisa Marx em “O Capital” e o mesmo Marx e Engels em a “Ideologia Alemã”.

 

No contexto histórico, do passado e do presen- te, a Sociologia apresenta-se como uma ciência em construção. Ela tem por objetivo desvendar, segundo as diferentes óticas de seus autores, como a socieda- de se produz e se reproduz na paz e na guerra.

 

 

 

 

 

O ofício do analista social consiste em construir o objeto, o método e as explicações das estruturas e fe- nômenos sociais. Consiste em ver, desvendar, analisar e explicar as relações de classe, os interesses e lutas de classe, a organização do Estado, da sociedade civil, o público e o privado, o capital, a concentração do poder e riqueza, a inclusão e exclusão social, a globalização ou neoliberalismo projeto capitalista mais recente e concentrador de riquezas.

 

Este exercício que gostaríamos de chamar “lei- tura crítica da realidade social” não é apenas uma recreação ou um prazer intelectual diferente, mas, fundamentalmente, refere-se a um exercício útil, necessário e indispensável para a compreensão crí- tica da vida em sociedade; compreensão possível para repensarmos a nossa prática social e política. Portanto, a Sociologia pretende, como as de-

mais ciências históricas e sociais, possibilitar-nos a construir novos saberes da realidade social.

Contudo, construir saberes e realizar novas leituras da realidade não devem ser um exercí- cio intelectual descomprometido com a mudança e com a transformação social, como insiste Paulo Freire em seu projeto educacional6 ; menos ainda, estudar, analisar, conhecer e criticar a sociedade não podem ser um privilégio de poucos, como vem ocorrendo no Brasil.

Com toda certeza, a construção de saberes é ma- nifestação concreta de competência técnica, mas deve ser, também, o exercício prático de compromisso polí- tico7. Na compreensão de Gadotti, não existe compe- tência técnica sem compromisso político.

Este é o sentido da crítica que o filósofo mate- rialista, Feuerbach, recebeu de Marx e Engels, quando escreveram:

 

 

 

 

 

 

5 PASSERON, Jean Claude. O Raciocínio Sociológico. O espaço não-popperiano do raciocínio natural. 1995, pag. 42.

6 FREIRE, Paulo. Educação e Mudança, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979. A tese da educação comprometida com a transformação do educando e da sociedade perpassa toda obra de Freire. Ver Indicação Bibliográfica.

7 GADOTTI, Moacir. A Pedagogia da Práxis. Ver Indicação Bibliográfica.

 

 

“Até hoje, os filósofos interpretaram a seu modo o mundo de diferentes formas,

mas o que interessa e transformá-lo”.8

 

 

 

 

8 MARX, K e ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 6a. Ed. Hucitec, SP, 1987. Teses sobre Feuerbach. Tese XI, pág.14.

 

Cadernos de Educação

 

 

A série Cadernos de Educação é um tradicional instrumento da CNTE, que produz opinião e consolida as intervenções da entidade em diversos espaços sociais.

A publicação está presente na comunidade educacional há mais de 15 anos e, nesta gestão, contou com a coordenação dos membros da Secretaria de Assuntos Educacionais da CNTE e da Coordenação da Escola de Formação da CNTE (Esforce).

Disponível no site da CNTE

www.cnte.org.br

 

 

 

 

 

 

Cadernos de Educação

Ano XIV – no 21 – 2a edição – novembro/2009 Diretrizes para a Carreira e Remuneração

 

 

Cadernos de Educação

Ano XVI – no 24 – janeiro a junho de 2011 PNE: a Visão dos(as) Trabalhadores(as) em Educação

Cadernos de Educação

Ano XV – no 22 – janeiro a junho de 2010 Saúde dos(as) Trabalhadores em Educação

 

 

Cadernos de Educação

Ano XVII – no 25 – julho a dezembro de 2013 Direito à Aposentadoria

Cadernos de Educação

Ano XVI – no 23 – julho a dezembro de 2010

V Encontro Nacional do Coletivo Antirracismo “Dalvani Lellis”

 

 

Cadernos de Educação

Ano XVIII – no 26 – janeiro a junho de 2014 Políticas Educacionais em Debate

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A construção

do conhecimento em Sociologia

 

O conhecimento necessário à prática social

 

 

 

A primeira modalidade de conhe- cimento que devemos considerar nas Ciências Sociais é o SENSO COMUM.

Trata-se de um conhecimento popular distinto do

código culturalmente dominante. Refere-se a um con- junto de opiniões, recomendações, conselhos, práticas e normasrelativasàvidaindividualecoletivaemsociedade.

 

 

 

 

Geertz reflete sobre a positividade do senso co- mum quando considera “que suas opiniões foram resga- tadas diretamente da experiência e não de um resultado de reflexões deliberadas sobre estas… é uma sabedoria coloquial de pé no chão… Quando dizemos que alguém demonstrou ter bom senso, queremos expressar algo mais que o simples fato de que essa pessoa tem olhos e ouvidos. O que estamos afirmando é que ela manteve seus olhos e ouvidos bem abertos e utilizou ambos ou pelo menos tentou utilizá-los com critério, inteligên- cia, discernimento e reflexão prévia, é que esse alguém é capaz de lidar com os problemas cotidianos, de uma forma cotidiana, e com alguma eficácia.”9

 

Assim, estamos admitindo que os fatos sociais10 adquirem compreensão, também, ao nível do senso comum. E mais, o saber adquirido pelo senso comum orienta as ações pessoais e coletivas da imensa massa da população excluída dos benefícios sociais e do co- nhecimento científico dominante.

 

 

 

 

 

O desemprego, a prostituição de toda ordem, in- clusive a infantil, o esfacelamento da família, as crian- ças atiradas na rua, o manter-se vivo num estado per- manente de fome, o baixo salário, a doença, a migra- ção na busca de trabalho, busca de terra rural e teto urbano, a desfiguração da própria identidade e perda concreta da cidadania são, entre outras situações-

-problema. São fenômenos sociais não resolvidos, mas vividos, percebidos, entendidos e “explicados” ao nível do senso comum, em razão das “quase-qualidades” ou características que Geertz, nos estimula a encontrar e a refletir sobre o bom senso: “naturalidade, praticabi- lidade, leveza, não metodicidade e acessibilidade”.11

 

 

 

9 GEERTZ, Clifford. O Saber Local. Editora Vozes, Petrópolis, 1998, pág 114-115.

10 Para Émile Durkheim “É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo

uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais”. As Regras do Método Sociológico. Martins Fontes, São Paulo, 1995, pág. 13.

11 Geertz, opus cit. pág. 129-139.

 

 

 

Muitas vezes, no trabalho de campo, nos espanta- mos com a naturalidade e praticabilidade da resposta do morador e moradora do bairro de periferia urbana, ao atribuírem o desemprego dos jovens e adultos de origem rural à incapacidade de se adaptarem às exigên- cias do mercado de trabalho urbano.

Em nenhum momento, quando entrevistados, esses(as) trabalhadores(as) excluídos(as) do mercado de trabalho, se intimidam em afirmar que a caneta que dominam é a enxada. Dizem, com todas as letras, que retirados da terra e jogados na cidade, sentem-se im- prestáveis e inúteis.

Não raro afirmam, com naturalidade, sentirem-se semelhantes ao peixe fora d’água. Durante uma pesqui- sa no meio rural, fiquei maravilhado com o depoimento de uma mãe camponesa humilde que me afirmou, entre lágrimas, que perdoava a prostituição de sua filha de

quinze anos. Perdoava e a queria de volta. Dizia que não tinha como dar o conforto que a filha agora se acostu- mara e iria exigir para voltar a conviver com os pais. Dizia a mãe que o desconforto e a miséria são castigos que doem no corpo e na alma. Dificilmente, a filha fica- ria em casa para sofrer.

A mãe insistia em dizer que ela e o marido se sen- tiam muito tristes e humilhados porque trabalhavam muito, mas eram incapazes de colocar o básico dentro de casa para os seis filhos mais novos. Fiquei maravilha- do quando a mãe arrematou a sua fala, com sabedoria e bom senso, dizendo: “na idade de minha filha, o lugar certo dela não é a prostituição, é a casa dos pais e a escola; pode ser, também, um trabalho que não roube o tempo da escola. Agora, concluiu a mãe, isto é solução que tem que vir de cima; solução de governo; não só de gente pobre como nós”.

 

 

Em 1986, por ocasião do acampamento dos Sem Terra de Jaciara, na Praça do Rosário

em Cuiabá/MT, registrei o seguinte depoimento de uma acampada que insistia na necessidade da organização dos (as) trabalhadores (as) para se conquistar a terra:

 

 

As descrições, justificativas e narrativas dos depoentes, acima referidos, não estão vazias de racionalidade, embora eles não tenham utilizado “METODICIDADE” (procedimentos científicos) para explicar os fatos e situações sociais vividos: desem- prego, desqualificação para o trabalho, organização, identidade, ser gente, migração, expulsão da terra, miséria, má distribuição da riqueza, prostituição precoce, idade escolar, etc. Contudo, as descrições, as análises e “QUASE EXPLICAÇÕES” apresentadas

têm o mérito de ir além da simples impressão ou apreensão dos fenômenos sociais.

Isto fica suficientemente claro quando os(as) depo- entes, valendo-se de suas observações e do bom senso, deixam claro que os problemas e as soluções dos mes- mos situam-se numa esfera superior; como ficou explici- tado, situam-se na esfera da política, seja ela municipal, estadual e/ou federal; mas isto é importante, as solu- ções exigem, também, a organização e a luta dos(as) trabalhadores(as).

 

 

 

12 Associação Lut – MT. Sem Terra – Vida e Luta. (Org. Eudson de Castro Ferreira). Gráfica EMATER, Cuiabá, 1987, pág. 18, 19, 30.

 

 

Este “processo assistemático” (bom senso), de fazer e testar saberes populares, está sendo enriquecido, através dos tempos, com originalidade e sabedoria popular. Estas são situações concretas que não nos permitem negar, em nome da ciência e do saber acadêmico, a positividade do acúmulo de experiências, de práticas e resultados múltiplos.

 

 

Mais do que simples costumes e tradições, a vida e a prática popular têm demonstrado que, embora limi- tados, o bom senso, o conhecimento popular, o senso comum asseguraram e continuam assegurando as con- dições de vida de “povos civilizados” e “primitivos”.

São notáveis, por exemplo, o conhecimento e as práticas desenvolvidos por povos indígenas: conhecimentos, tradições, domínios e práticas cobiçados pelas multinacionais, principalmente

em questões medicinais.

Reconhecemos que, o senso comum é um saber qualitativamente diferenciado do saber científico e acadêmico.

Por isso devemos nos colocar na disposição de reconhecer os méritos que necessitam ser atribuí- do ao senso comum. Este muito tem acrescentado à construção de novos saberes para a vida humana em sociedade.

 

 

Contudo, é triste saber que milhões

de brasileiros chegarão à idade adulta, viverão e morrerão neste estágio de conhecimento humano de senso comum.

 

 

Mesmo assim, não se trata de negar, no co- tidiano, o bom senso, o conhecimento popular, pois dele depende a vida de milhões de brasileiros e brasileiras que não tiveram, e continuam não tendo, acesso à escola de qualidade e à convivên-

cia social mínima. Estes não tiveram, e continuam não tendo, acesso aos bens materiais mínimos e necessários para uma vida saudável com comida, roupa, moradia, saúde, educação, lazer, sanea- mento básico, etc.

 

 

 

13 Expressão popular que retrata a saberia do bom senso.

 

 

 

 

 

 

 

Vamos discutir o conhecimento científico, com o objetivo de adquirir uma ferramenta intelectu- al que deverá nos ajudar, no cotidiano, a realizar três operações teóricas e práticas importantes: a) construir novos saberes sobre a realidade social; b) compreender, analisar e explicar o funcionamento da sociedade e c) orientar a nossa prática social transformadora. Pontuemos, inicialmente, os três objetivos mencionados.

A construção de novos saberes sobre a realidade social deve ser entendida como um ato de criação de conhecimento, através do processo de investigação.

Como veremos, neste ensaio, o processo de in- vestigação realiza-se através de uma criativa relação entre a teoria, a observação e a interpretação. Todos os momentos da pesquisa exigem rigorosa vigilância do pesquisador sobre a adequação dos passos ou procedi- mentos que serão assumidos.

Exigem, também, a definição, a escolha e a apli- cação de um método e de técnicas de pesquisa ajusta- dos à realidade do objeto que será estudado.14

Compreender o funcionamento da sociedade é um ato intelectual que, segundo Weber, supõe a “apreen- são interpretativa do sentido ou da conexão do senti- do”15 , da ação dos atores no processo histórico e social estudados. Todo processo de análise é também um processo de interpretação que procura verificar os fins pretendidos e a conquista ou não dos mesmos pela população.

A prática social transformadora requer um compromisso de classe, sem perder de vista a po- pulação que deve ser o alvo das políticas públicas municipais, estaduais e federais.

O referido compromisso é uma atitude de permanente vigilância e de luta em de- fesa dos interesses dos (as) trabalhadores (as) que formam uma classe social, por for- ça do lugar que eles ocupam na sociedade, do trabalho que exercem, das tarefas que executam e da parte que lhe cabem na divi- são da riqueza social produzida.16

 

 

 

14 Veja o Roteiro para Projeto de Pesquisa Social Crítica neste fascículo.

15 Weber, Max. Economia e Sociedade. Vol. 1, 3a. Edição, Editora da Universidade de Brasília, 1994, pág. 6-13.

16 Basicamente são estes os atributos apontados por Lênin na definição de classe social. Ver Lênin na Indicação Bibliográfica.

 

 

Roberto Machado17, ao discutir as posições de Canguilhem e Bachelard,

sobre a ciência e o saber, coloca em destaque, o trabalho científico como necessário para a construção do conhecimento e para a conquista da verdade. Escreve Machado:

 

5 questões básicas

estão aqui colocadas, sobre ciência:

 

 

 

 1    Ciência é uma produção cultural, um objeto construído; portanto, a ciência não é um fenômeno natural, como ocorre com uma semente sadia que germina, naturalmente, quando plantada numa

terra fértil e úmida.

 

 2

Ciência é um discurso, uma formulação discursiva: uma sentença ou enunciado que contém sujeito, verbo e predicado que interroga, afirma ou nega alguma coisa.

 

 3    Ciência é um discurso que tem a intenção de formular verdades.

 4    A ciência não produz uma verdade para explicar tudo.

 5    Cada ciência produz verdades que explicam fenômenos da mesma natureza. Assim, a Ciência Biológica não explica os fenômenos astronômicos que são de outra natureza.

 

Continua Machado:

É a questão da verdade que determina a originalidade das ciências com rela- ção a outras manifestações culturais e desqualifica o projeto de uma história descritiva ou factual. A ciência é o lugar específico, próprio da verdade… A ciência não é a comprovação de uma verdade que ela encontraria ou desve- laria. Também é inteiramente despropositado procurar fundar a verdade nas faculdades de conhecimento ou em uma realidade ontológica…

 

17 As citações apresentadas foram retiradas do trabalho de Machado, Ciência e Saber, opus cit., pág. 20-21.

 

 

Vamos colocar, em destaque, 3 dos 5 enunciados de Machado no parágrafo acima:

 

 

 1      A construção da verdade é que determina a especificidade da ciência, diferenciando, portanto, a ciência das demais manifestações culturais.

 

 2      A ciência não é a comprovação de uma verdade que já existe ou está dada, antecipadamente.

 3

A verdade não está dada na faculdade intelectual do cientista, nem tampouco,

na realidade do ser (realidade ontológica): a verdade é o discurso que retrata a realidade como ela é fora da mente do cientista.

 

E conclui Machado:

 

 

 

Vamos destacar dois aspectos desse parágrafo:

  1. a) certamente, queremos obter resultado verdadei- ro quando fazemos ciência; contudo, a dimensão do processo de construção da ciência para conquistarmos verdade é mais importante; a produção científica exige

rigor e método, quando construímos a relação entre a teoria, a observação do objeto e a interpretação que será dada do objeto; b) a ciência não reproduz uma verda- de que já existe antecipadamente, mas, as diferentes ciências deverão produzir as suas diferentes verdades.

 

 

 

 

O conhecimento científico é, fundamentalmente, trabalho intelectual,

é uma produção cultural, um objeto construído, produzido,

como afirma Machado.

 

 

Diante do conhecimento científico, o senso comum, as pré-noções

e o conhecimento convencional colocam-se em patamares qualitativamente diferenciados que, como vimos, nem por isso não devem ser negados.

 

 

O conhecimento científico é teórico. Enquanto tal, ele exige a definição de uma teoria: um conjunto de conhecimentos que apresentem graus e recursos de sistematização que se propõem analisar, explicar, elu- cidar, interpretar os fenômenos de uma mesma natu-

reza. Toda teoria requer, como veremos mais adiante, a existência e a definição de um feixe de conceitos pró- prios, requer a formulação de hipóteses e leis, supõe, ainda, a definição de procedimentos metodológicos e de princípios de explicação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Questões centrais à construção das Ciências Sociais

 

 

 

A TERCEIRA

Três questões relevantes

 

 

Em seu trabalho “Crise de Paradigmas em Sociologia”, Octávio Ianni aponta, para discussão, três questões rele- vantes para a construção das Ciências Sociais, em geral, e

coloca, em discussão, o paradigma, ou princípio explicativo.

 

A PRIMEIRA

da Sociologia, em particular.

diz respeito à

Vamos pontuar os três temas, procurando re-

 

relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento.

A SEGUNDA

refere-se aos principais momentos lógicos da reflexão sociológica.

ftetir, inicialmente, sobre o significado dos mesmos em nossa análise e em nosso esforço para a cons- trução de novos saberes sobre a realidade social.

 

 

   Relação Sujeito e Objeto    

 

 

Na Sociologia, o debate sobre a relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento é polêmico, nada consensual. Trata-se de uma discussão epistemoló-

gica18, portanto, de uma discussão relativa ao fazer ciência; discussão complexa com sérias implicações no sujeito, no objeto e no método do conhecimento.

 

 

 

 

Sob dois outros aspectos, a relação sujeito e objeto

do conhecimento, diz respeito a cada um de nós, trabalhador (a) da educação. PRIMEIRO, a modalidade da relação

que estabelecemos com a realidade social irá determinar a coloração dos óculos, através do qual vemos a realidade.

SEGUNDO, a nossa intervenção no social irá depender

da relação que assumimos com a realidade em que vivemos.

 

 

 

 

Portanto, com toda certeza, o debate sobre a rela- ção entre sujeito e o objeto do conhecimento é central à construção das ciências históricas e sociais; central, também, à visão e intervenção nossa na realidade so- cial. Vamos apresentar as possibilidades desta relação, tendo a convicção de que não esgotaremos a questão.

 

 

18 Epistemologia (episme = ciência + logos = discurso, fala); Epistemologia é Teoria da Ciência. Refere-se ao estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados da ciência elaborada, bem como à vigilância que se impõe durante o processo de construção da ciência,

do saber, com o objetivo de verificar e determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance dos objetivos que foram propostos.

 

 

 

Ü Relação de Exterioridade  

 

 

Para muitos cientistas e analistas sociais (sociólo- gos, antropólogos, historiadores, economistas, geógra- fos, sindicalistas, professores, entre outros), só existe ciência se houver “absoluta objetividade” na produção científica. Absoluta objetividade significaria retratar a realidade estudada sem qualquer interferência pessoal do pesquisador e do analista na realidade. No ponto de

vista desses “pesquisadores” e “analistas”, só se atin- ge a objetividade quando se estabelece uma separação (ruptura) entre o sujeito e a realidade (objeto) a ser estudada e/ou trabalhada. Este procedimento é essen- cialmente positivista e encontra-se no passado e no presente das ciências sociais; no passado e no presente da Sociologia.

 

 

 

 

Para ilustrar este ponto de vista, vamos imaginar que o analista es- teja na lua, sem qualquer possibilidade de relacionar-se diretamente com o seu objeto no Planeta Terra. De lá, com o emprego de potentes telescó- pios, ele observaria as favelas das metrópoles brasileiras para estudar o inchaço urbano, a escassez de moradia, as conseqüências sócio-político-

-econômicas do desemprego, da escassez de políticas e recursos destina- dos à saúde, à educação, à moradia, etc.

Distante da realidade e sem se confundir com ela, o analista estuda- ria a omissão do Estado, o surgimento dos poderes localizados e associados à rede de drogas, ao “poder de fogo” das armas e violência.

Sem se relacionar diretamente com o objeto em estudo, o analista seria tanto mais “cientista” quanto mais “objetivo” ele fosse; somente assim, suas análises dos fatos não seriam con- taminadas pelos seus pontos de vistas, pelos seus valores, pela sua cultura e ideologia.19

 

 

A força e a precisão de seu estudo estariam

na definição e no emprego do “método científico”,

que assegurariam êxito e qualidade ao trabalho realizado.

19 Ideologia é um tema proposto para a discussão nos Textos de Apoio no presente estudo.

 

 

 

Ü Relação de Cumplicidade  

 

 

A Fenomenologia e a Gestalt procuram demonstrar que não há diferença entre sen- sação e percepção, pois, não temos sensações parciais ou pontuais. Sentimos e percebemos formas ou totalidades estruturadas, dotadas de sentido ou de significação.

Nesta perspectiva, a percepção é uma relação do su- jeito com o mundo exterior e não uma relação com feixes de estímulos externos; nem tampouco uma ideia formulada pelo sujeito.

A relação dá sentido ao percebido e ao perceptor. O objeto percebido é qualitativo, significativo, estruturado; o sujeito está no objeto como sujeito ativo. A relação sujeito e objeto é intercorporal; relação entre corpos; uma forma de comunicação entre o sujeito e o objeto, relação comuni- cativa entre seres. A percepção envolve toda a personalida- de do sujeito, toda sua história social.

A percepção oferece ao sujeito um acesso ao mun-

do dos objetos práticos e instrumentais, orientando as ações cotidianas e as ações técnicas. Assim, a percep- ção para a Fenomenologia e a Gestalt não é uma ideia confusa ou inferior, pois o mundo é percebido qualita- tivamente, afetivamente e valorativamente.

Na produção do conhecimento, a percepção é con- siderada originária e parte principal do conhecimento humano. Contudo, sua estrutura é diferente da es- trutura do pensamento abstrato, do pensamento que opera com as ideias. Enquanto a percepção capta por parte, o intelecto capta a totalidade, de uma só vez, sem precisar examinar cada parte ou face do real.

As posições da fenomenologia e da Gestalt so- bre o conhecimento chocam-se, na prática, com a posição daqueles que defendem ser o conhecimen- to humano uma operação discursiva. Na perspecti- va discursiva, o raciocínio, a indução, a dedução e a demonstração são operações mentais, que compro- vam o poder e o limite do intelecto humano.

 

 

20 CARDOSO, Mirian Limoeiro. O mito do método. Ver Indicação Bibliográfica.

21 Chauí considera a mudança de rumo que sofreu a discussão sobre sensação e percepção a partir da nova concepção

do conhecimento sensível. Para uma introdução ao assunto, ver Marilena Chauí. Convite à Filosofia. 5a. Edição, Editora Ática, São Paulo, 1995, Unidade 4, cap. 2, A percepção, pág. 120-125.

 

 

 

Ü Relação de Reciprocidade  

Na relação de reciprocidade, o sujeito e o objeto constituem-se simultânea e reciprocamente: o sujeito interfere na constituição do objeto, da mesma forma que o objeto interfere no sujeito.

 

Toda ação direta entre o sujeito e o objeto interfere na constituição dos dois, inclusive na constituição do método trabalhado.

 

Por esta razão, escreve Ianni em A Crise de Paradigma na Sociologia:

 

 

22 IANNI, Octávio. A Crise de Paradigma na Sociologia. Caderno UNICAMP, Campinas, IFCH, março-1992. pág. 34, mimeo.

 

 

 

Em outros termos, o fazer ciência impõe a cons- trução de conceitos, que são a representação ou defi- nição mental (intelectual) do objeto concreto. Não há ciência sem conceito.

Todo aquele que se sente comprometido com as mudanças sociais encontra afinidade com a relação de reciprocidade para sua análise e para sua prática social.

Isto porque a Sociologia de inspiração dialética insere o sujeito na realidade, por força de sua pro- posta teórico-metodológica; a partir deste momento,

o sujeito é parte comprometida com o processo his- tórico e social.

Quando o sujeito, que analisa ou trabalha a realidade social, se posiciona na relação de reciprocidade, ele se des- cobre partícipe da história. Enquanto sujeito do processo histórico, ele coloca suas energias, seus esforços e tempo de trabalho para desvendar, compreender, analisar e interferir na realidade. Desta forma, enquanto agente da história, ele se torna crítico do agir isolado, sem alimentar, contudo, – isto é importante – sem alimentar qualquer esperança no mito da força cega ou autônoma da organização coletiva.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há requisitos lógicos essenciais para a inter- pretação dos fenômenos sociais. A historicidade do fato social é uma dimensão ou requisito essen- cial à compreensão dos fenômenos estudados na

Sociologia. A interpretação que minimiza, perde ou desconsidera a historicidade dos fatos sociais abandona o que há de mais específico na produção científica sobre ele.

 

 

 

 

Na verdade, a noção de processo perde seu senti- do, se não for desvendada a relação existente entre os sujeitos, as partes e o todo que integram o processo. São componentes do processo os sujeitos envolvidos, as necessidades ou problemas detectados, o tempo da ocorrência, o lugar das ocorrências, as relações identi-

ficadas entre os sujeitos, os grupos ou classes sociais, os recursos empreendidos, as estruturas estabelecidas, os resultados, as avaliações e reavaliações. Assim, para dar vida à historicidade, é necessário traba- lhar as relações existentes entre os componentes do processo social e histórico.

 

 

 

 

 

Passado e presente referem-se, também, à dimensão histórica. Apresentam duas faces de uma mesma realida- de: faces necessárias à compreensão do movimento dia-

lético do ser.23 São expressões da tese, antítese e síntese que necessitam ser apreendidas, desveladas e explicadas para se dar conta do movimento interno e externo do ser.

 

 

 

 

SINCRONIA

A                          apresenta o objeto num determi- nado momento de sua apreensão, seu aspecto estático, algo semelhante a uma foto instantânea que permite visualizar as estruturas do ser que está sendo estuda- do; ou algo semelhante a um mosaico que visualiza o mural ricamente trabalhado em suas configurações estáveis, estáticas, sincrônicas.

DIACRONIA

A                          empenha-se, intelectualmente, em manifestar o contraponto do estático, ou seja, o ser em movimento, em mudança, evolucionando-se, vindo a ser. Algumas das limitações das teorias do

passado e do presente residem, exatamente, no estreitamento das abordagens dinâmicas, não trabalham a historicidade dos fenôme- nos sociais.

Ignoram, também, que os fenômenos so- ciais ganham compreensão quando os movi- mentos lógicos são revelados e trabalhados em suas dimensões:

 

 

 

 

  • aparência e essência,
  • parte e todo,
  • singular e universal,
  • quantitativo e qualitativo,
  • sincrônico e diacrônico,
  • histórico e lógico,
  • passado e presente,
  • sujeito e objeto,
  • teoria e prática,
  • sinergia e assinergia.

 

 

 

 

Quando não se levam em conta estas con- quistas sociológicas, que definem e redefinem as manifestações da realidade social, sacrificamos as tensões que necessitam ser reveladas ou, pior ain- da, colocamos o trabalho científico numa moldura

puramente descritiva. Numa e noutra situação, o trabalho realizado perde seu caráter científico que deve se marcado pela busca permanente da- quelas dimensões que estão além da aparência imediata do objeto.

 

 

 

23 Sobre dialética, ler o texto indicado em Textos de Apoio:

A Dialética: concepção e método e demais bibliografias que tratam das dialéticas contidas no presente caderno.

 

 

 

 

 

 

Paradigma: Princípio Explicativo

 

 

Trata-se, portanto, de um debate relevante so- bre o qual não existe consenso, mas controvérsias. A palavra paradigma tem mais de um sentido: refere-se à visão de mundo, às normas e princípios das ações desejadas dos membros de uma determinada cultura; diz respeito, também, às práticas de intervenção na natureza e na sociedade.

 

 

 

Em seu livro, “Ecologia:

grito da terra, grito dos pobres”,

Leonardo Boff, discute o significado

de paradigma, partindo

do estudo de Kunt, “Estrutura das Revoluções Científicas”.

 

 

 

 

 

 

No que se refere ao social, os procedimentos não são padronizados, mas devem levar em consi- deração as diferenciações das culturas, costumes e tradições dos povos.

Como mencionamos, na Sociologia paradigma refere-se ao princípio que sintetiza as possibilidades de explicação científica. Contudo, a multiplicidade de teorias não implica na multiplicidade de fundamentos, de alcance e de valores da ciência sociológica (epistemo- logia). Isto porque, dada epistemologia pode fundamen- tar propostas teóricas diferentes, como ocorre de fato. NoentenderdeIanni,JohnElstersugerequeexis-

tem basicamente “três tipos principais de explicação científica: a causal, a funcionalista e a intencional”.

Afirma que a abordagem causal é comum a todas as ciências, naturais e sociais. Mas, diz Elster que a ex- plicação funcionalista não tem cabimento nas ciências sociais. Baseia-se em uma analogia equívoca, retirada da biologia”.25

Elster acrescenta que nas ciências sociais as ex- plicações podem ser baseadas na “causalidade in- tencional”, com variações conforme se trata de pro- cesso internos aos indivíduos ou processos relativos à interação entre indivíduos. Conclui Elster que “O paradigma adequado para as ciências so- ciais é uma explicação causal -intencional mis- ta – compreensão intencional das ações indivi- duais e explicação causal de suas interações”.

 

 

 

 

24 BOFF, Leonardo. Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres. 3a. Edição, Editora Ática, São Paulo, 1999, pág. 27-62.

25 A Crise de Paradigma em Sociologia. IFCH, UNICAMP, Campinas, 1992, pág. 34 -36.

 

 

Determinados princípios explicativos fundamentam diferentes teorias, man- tendo, contudo, as variações, as convergências e divergências existentes entre elas. Assim, o princípio de causalidade funcional coloca-se na base explicativa do funcionalismo, estrutural funcionalismo, neofuncionalismo, positivismo, entre outras teorias. São teorias aparentadas que dialogam entre si, que ora se aproxi- mam, ora se distanciam em suas análises e explicações da realidade.

 

 

Paradigma, para Ianni, compreende… “uma teoria básica, uma fórmula epistemológica ge- ral, um modo coerente de interpretar ou um princípio explicativo fundamental. Envolve requisitos epistemo- lógicos e ontológicos, caracterizando uma perspectiva

 

CONHECIMENTO OCIDENTAL

     Paradigma Emergente    

interpretativa, explicativa ou compreensiva, articula- da, internamente consistente”. Por outro lado, os prin- cípios que imprimem ao paradigma sua força de expli- cação, segundo o autor, são os seguintes: “evolução, causação funcional, estrutura significativa, redução fenomenológica, conexão de sentidos e contradição”.26

 

 

 

Em nossos dias, uma das discussões mais ricas

transita o

dominante,

 

no campo do conhecimento e construção do saber refere-se ao novo paradigma emergente.27

De forma simplificada, podemos dizer que

que fraciona o todo para compreender a parte; na outra mão, começa a transitar e a ser reconhecido o vestígio de um conhecimento mais próximo das

 

essa discussão se apresenta como algo parecido com uma estrada de mão dupla: em uma das mãos,

raízes do

PENSAMENTO ORIENTAL,

todo para entender a parte.

que privilegia o

 

 

26 Idem

27 Encontra-se neste fascículo uma Bibliografia de apoio ao estudo do Novo Paradigma.

 

 

Modo de pensar ocidental segundo Fritjof Capra:

 

 

A fragmentação interna do Eu, diz Capra, espe- lha nossa visão do mundo “exterior”, que passa a ser visto, entendido e explicado como sendo constituído por uma imensa quantidade de objetos e fatos isolados. A fragmentação do sujeito espelha no ambiente natu- ral que passa a ser entendido em partes separadas. O pensamento se torna escravo da fragmentação do real: conhecer é separar, é situar no tempo e espaço carte- sianos; é, em última análise, isolar a parte do todo.

A fragmentação da realidade torna-se ainda mais ampliada, quando se trata da sociedade: povos, nações, culturas, raças, agrupamentos, classes, estamentos, grupos políticos e religiosos.

 

Diz ainda Capra:

Entende Capra que “A crença de que todos esses fragmentos – em nós mesmos, em nosso ambiente e em nossa sociedade – são efetivamente isolados e podem ser encarados como a razão essencial para a atual série de crises sociais, ecológicas e culturais”.

O aprofundado conhecimento e exploração do mun- do atômico e subatômico têm demonstrado a fragilidade e limitação das ideias da Física clássica, que serviu de alicerce ao conhecimento ocidental até os nossos dias. A revisão dos conceitos de espaço, tempo, lugar, velocidade, energia, matéria, entre outros, é imprescindível em razão da inadequação destes conceitos diante da teoria da rela- tividade, da exploração do mundo atômico e subatômico.

 

 

O conceito de matéria na Física subatômica, por exem- plo, é totalmente diverso da ideia tradicional de uma subs- tância material conforme encontramos na Física Clássica… Tais conceitos, não obstante, são fundamentais em nossa percepção do mundo; a partir de sua transformação radical, nossa perspectiva também passou a conhecer um processo de transformação.29

 

28 CAPRA, Fritjof. O Tal da Física – um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental. Ed. Cultrix, São Paulo, pag 21-27. Ver, também, do mesmo autor, O Ponto de Mutação, Sabedoria Incomum, Teia da Vida.

29 Na perspectiva apontada por Capra, ver Bibliografia: Novo Paradigma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ianni: do Nacional ao Global

 

 

No campo específico da Sociologia, o texto or- ganizado por Sérgio Adorno, “A Sociologia entre a Modernidade e a Contemporaneidade”, apresenta um

artigo de Octávio Ianni que se aproxima da discussão que estamos considerando sobre o novo paradigma emergente: “Globalização: novo paradigma das Ciências Sociais”.31

 

Introdução à Sociologia • 37

30 BOFF, Leonardo. Ecologia Grito da Terra, Grito dos Pobres. 3a. Edição, Ed. Ática, São Paulo, 1999, pág. 30.

31 IANNI, Octávio. Globalização Novo Paradigma das Ciências Sociais. In ADORNO, Sérgio (org.).

A Sociologia entre a modernidade e a contemporaneidade. Editora da Universidade – UFRS, Porto Alegre, 1995, pág. 13-25.

 

 

Estamos diante de um processo de nova constituição dos estados. Processo que leva em consideração para a sua constituição os princípios e interesses que orientam o projeto político, econômico, social, cultural e tecnológico neoliberal.

 

Este fato novo, certamente, abala as teorias que elaboraram conceitos, hipóteses, metodologias de trabalho, paradigmas levando-se em consideração o cenário social, político, econômico, cultural, religioso, artístico, dos estados nacionais.

 

 

A sociedade global não é mera extensão quantitati- va e qualitativa das sociedades nacionais, embora, estas sejam ainda o sustentáculo para a globalização e centra- lização do capital e do poder político. Para tanto, basta avaliar a filosofia e a prática do “estado mínimo”, da cres- cente dependência dos estados em desenvolvimento, da

centralização das decisões no mercado internacional, da força política dos países do norte. O êxito da globalização para o capital depende das medidas e decisões oriundas dos órgãos e instâncias que centralizam os planos e pro- jetos que convêm aos países capitalistas de ponta: ONU, OTAM, FAO, BIRD, G7, GATT, NAFTA, entre outros.

 

 

Um mundo a ser mudado

 

 

Os países em desenvolvimento experimentam o en- gessamentodesuaseconomias,oretrocessodesuaspolíti- cas sociais, o esgotamento do Estado de Bem-estar Social.

Não é apresentada alternativa capaz de revitalizar a prestação de serviços básicos: educação, saúde, mo-

radia, lazer, transporte, qualificação, emprego, salário. É o mundo de cabeça para baixo. Os pobres trabalham para o enriquecimento daqueles que já são ricos. São inúmeras e preocupantes as situações que comprovam a referida inversão.

 

 

Anos 1980… o drama da América Latina

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) nos diz que os 5% mais ricos aumentaram sua riqueza em 8%, enquanto 75% da população empobreceram na ordem de 13%.

 

 

 

Em 1970, 136 milhões dessa população (41%) estavam subempregada ou desempregada; em 1980 os números aumentaram para 170 milhões (43%); em 1986, saltaram para 184 milhões (45%) de pessoas que viviam sem garantias mínimas de salário.

 

Os números e percentuais comprovam o enfraquecimento dos estados nacionais po- bres que são presos à lógica da globalização.

 

A ONU (Organização das Nações Unidas) reconhe- ce que, desde 1982, o sistema financeiro mundial tem exigido duramente o pagamento da dívida externa, ab- sorvendo entre 35% a 50% da arrecadação de cada país. Para poder pagar, a cada mês, como é o caso do Brasil, 1,2 bilhões de dólares em juros do principal da dívida

aos bancos mundiais, os governos não realizam os in- vestimentos indispensáveis à área social.33

 

 

 

32 Dados da FAO, citados por Leonardo Boff, em Ética da Vida, pág. 78. Ver indicação bibliográfica.

33 ONU Reprova Brasil, artigo do Frei Betto citado anteriormente.

 

 

O PARADIGMA NEOLIBERAL

 

 

Caminhando no sentido da construção deste novo paradigma, a CNTE vem inserindo um debate novo até então, que é o debate da conversão da dívida exter- na em investimentos na educação. “A CNTE quer que o Brasil aplique os recursos da dívida externa, avalia- da hoje, em cerca de R$ 503,2 bilhões, na melhoria da

educação pública. É o que chamamos de “Conversão da Dívida Externa em Recursos para a Educação”. O Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira, proposto em 1999, recomenda um investimento de 10% do Produto Interno Bruto (a soma de todas as riquezas do País) na Educação, o que daria, hoje, cerca de R$ 185 bilhões”.

 

 

 

O que seria possível fazer com esse dinheiro

 

“Os novos recursos poderiam contribuir para atingirmos os objetivos

do Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira. Porém, poderíamos iniciar pela conquista de algumas metas do plano aprovado em 2001.

 

 

1

Ampliar a oferta de educação infantil de forma a atender, em cinco anos, a 30% da população de até 3 anos de idade, e 60% da população de 4 a 6 anos e, até o final da década,

alcançar a meta de 50% das crianças de 0 a 3 anos, e 80% das de 4 e 5 anos.

 

2

Garantir transporte escolar na Zona Rural para alunos e professores.

 

3

Atender, em dois anos, todos os egressos do Ensino Fundamental, inclusão

dos alunos com defasagem de idade e daqueles com necessidades especiais no Ensino Médio.

Alfabetizar dez milhões de adultos, em cinco anos, e erradicar o analfabetismo em dez anos.

 

 

4

Alfabetizar dez milhões de adultos, em cinco anos, e erradicar o analfabetismo em dez anos.

 

5

Assegurar a adaptação de todos os prédios escolares, em cinco anos, aos padrões mínimos de infraestrutura para o atendimento de alunos com necessidades especiais.

 

6

Triplicar a oferta de cursos básicos de Educação Profissional, a cada cinco anos.

 

7

Dotar, em cinco anos, as escolas indígenas com equipamento didático-pedagógico básico.

 

8

Regularizar o ftuxo escolar, reduzindo as taxas de repetência e evasão em 50%, em cinco anos.

 

9

Implementar programas de valorização profissional, em todos os níveis de governo recuperar os salários e implantar, gradualmente, a jornada de trabalho em tempo integral.

 

10

Garantir que 70% dos professores da educação infantil e ensino fundamental tenham formação em nível superior, em cursos de licenciatura plena.

 

 

Só para se ter uma ideia, basta dizer que o Fundef (que financia o Ensino Fundamental, 1ª a 8ª séries) tem, em 2005, um orçamento de R$ 31 bilhões frente a um gasto, em 2004, de R$ 146 bilhões com juros e encargos da dívida.

É importante ressaltar, porém, que o dinheiro da dívida externa não substitui os recursos já previstos para a educação. Trata-se, portanto, de dinheiro adi- cional, para aumentar as verbas para a Educação”.34

 

 

 

 

 

 

Não há saber mais ou menos, há saberes diferentes.

(Paulo Freire)

 

 

34 Texto da Cartilha publicada em 2006 pela CNTE, A Verdadeira dívida é com a Educação

 

 

  Contribuições ao estudo da sociedade     

 

 

Como ficou registrado no esboço Histórico, a Sociologia inicia-se tão logo foram consolidados os marcos do capitalismo que definiram a sociedade burguesa moderna. Contudo, cabe reconhecer que inúmeras contribuições ao estudo da sociedade

foram produzidas em épocas distantes, principal- mente, a partir dos pensadores helênicos. Vamos mencionar algumas contribuições significativas dos estudiosos do passado ao estudo da sociedade.

 

 

Panorama: Do Pensamento Helênico ao Século XIX

 

 

 

 

No que diz respeito à sociedade, escreveu A República , As Leis e O Governante. Em A República35, Platão trata da sociedade ideal, que deve ser regi- da pelo princípio permanente da justiça. O livro, As Leis, refere-se à “sociedade normal”’, que deve ser construída a partir da relação entre o número de ha- bitantes e as leis vigentes, valendo-se dos fatores ge- ográficos e populacionais. Em O Governante

(cuja autoria é duvidosa), Platão trata dos aspectos políticos da socieda-

de, referindo-se a modelos e procurando es- tabelecer sis-

tema de governo. Considera:

MONARQUIA (governo de um só, com uma cons- tituição); TIRANIA (governo de um só, sem uma cons- tituição); DEMOCRACIA (governo de muitos, apoiados na constituição) e OLIGARQUIA (governo de um pe- queno grupo sem uma constituição).

 

 

 

 

 

Em sua obra A Política36, após estudar mais de uma centena de constituições das cidades gregas, con- cluiu que “o homem é um animal político”; sua vida se realiza na relação e gestão da vida em sociedade.

 

Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e Ibn Khaldun foram os mais destacados “filósofos sociais” da Idade Média. Na Idade Média Europeia, o cristianismo foi determinante para a concepção histórica da vida e das relações sociais. A ética e a moral estavam subjugadas à ética católica; os valores, os conhecimentos e costumes sociais fo- ram submetidos ao padrão dos valores e conhecimentos cristãos. No Islamismo, coube a Ibn Khaldun difundir a influência da Filosofia da História iniciada por Santo Agostinho.

Aristóteles estuda também as diferentes formas de mudança e a passagem de uma economia natural para uma economia mercantilista. Desenvolve sua con- cepção de modelo político, discutindo os três “tipos normais” de formas de governo:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bispo africano da Igreja Católica, escreveu a sua mais importante obra, A Cidade de Deus, que pas- sou a ser considerada como o primeiro estudo de filosofia da história.37 A queda do Império Romano é atribuída por Santo Agostinho ao vício e corrupção

  1. A) A MONARQUIA; B) A ARISTOCRACIA E C) A REPÚBLICA; considera, também, as três negações des- sas formas normais de governo: a) a tirania; b) a oli- garquia e c) a demagogia. Em A Ética a Nicomaco, faz referência à teoria do valor (desenvolvida mais tarde por Ricardo e Karl Marx); trata, ainda, das noções sobre “associação” relacionada à vida e organização política.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

da época. A Cidade de Deus é um estudo teológico que procura demonstrar a luta que persistirá, até o final dos tempos, entre as duas cidades, entre os dois reinos – o Reino de Deus e o Reino dos Homens. No fim dos tempos, defende Santo Agostinho que vencerá a cidade de Deus.

 

 

 

 

 

Santo Tomás de Aquino situa-se entre os maio- res teólogos e filósofos da Igreja Católica de todos os tempos. Sua principal obra é a Súmula Teológica. Trata-se a um “estudo acabado” de filosofia e teologia que se tor- nou uma escola: o Tomismo, ensino escolástico assu- mido pela Igreja Católica para a formação do clero. Na

Súmula Teológica, Santo Tomás de Aquino coloca o pro- blema da sociedade, enquanto um lugar natural e capaz de ofertar às pessoas as suas finalidades. Refere-se à ci- dade como o lugar perfeito e voltado para o bem comum. Tomás de Aquino resgata todo o pensamento aristotéli- co, procurando interpretá-lo à luz da revelação cristã.

 

 

36 Ver Aristóteles. A Política. Editora Edipro. Bauru, SP, 1995. Ver referência Bibliográfica.

37 A Cidade de Deus e a Cidade de Deus Contra os Pagãos. Ver Santo Agostinho citado na Contribuição Bibliográfica.

 

 

 

 

 

 

Na Renascença são inúmeras e significativas as contribuições ao estu- do da sociedade. Situam-se neste período os precursores da Sociologia que estabeleceram a ruptura com o pensamento medieval. Maquiavel, Thomas Moore, Campanella, Locke, Spinoza, Hobbes, entre outros, aju- daram a construir uma nova visão da sociedade, superando o enfoque teológico, teocêntrico e metafísico que norteou toda a Idade Média. Coube a esses pensadores alimentar a mobilização humanista que colo- cou, principalmente nos centros urbanos, as bases para o renascimen- to do humanismo grego que havia sido varrido do mundo ocidental.

No mundo islâmico, Ibn Khaldum desvincu- lou-se do pensamento fundamentalista e religioso ao escrever Prolegômenos, tratado sobre a história universal que procura dar uma explicação causalis- ta para as questões sociais. Khaldun foi o primeiro a considerar a sociedade humana como objeto especial de estudo. Realizou pesquisa sobre os fatores da evolução

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Maquiavel é o autor da conhecida obra, O Príncipe. Trata-se de um tratado para ditadores. Para manter-se no trono, o príncipe deve cuidar dos sú- ditos e de seu território. O fim justifica os meios. Admite que a natureza humana é má, mas o homem se torna bom quando coagido. A pobreza e a fome fazem do

histórica, chegando a concluir sobre a forma que os dife- rentes povos empregam para manterem sua subsistência. O conceito de solidariedade foi empregado por Khaldun. Para ele, solidariedade expressa uma relação entre seres específica da sociedade humana. Da mesma for- ma, defendeu que todos os elementos da vida política e intelectual estão em função da evolução econômica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

homem um ser industrioso; a lei o torna bom porque o reprime. Maquiavel escreveu, também, o Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio. Nesta obra considera que entre as forças que agem sobre o Estado estão a tradição, a religião, a ideologia, as classes sociais, as instituições políticas e a pessoa do ditador.

 

 

 

 

 

Moore é um chanceler inglês que escreveu o romance político A Utopia. Nesta obra, Moore cri- tica as condições sociais na Inglaterra ao revelar

as possibilidades de uma nova vida num outro tipo de sociedade que vive o “comunismo fun- damental”.

 

 

 

 

 

Campanella foi um monge italiano que, acusa- do de ideias eróticas, passou vinte e sete anos na prisão. Escreveu A Cidade do Sol. A obra analisa a

ordem social fundada nas relações sociais regi- das pelos princípios do poder, da inteligência e do amor.

 

 

 

 

 

 

Com o desenvolvimento do capitalismo comercial no século XVII, multiplicam-se os tratados de economia que passaram a abordar no- vas e inúmeras questões sociais. O Leviatã, de Hobbes (1588-1679), segue a trilha de O Príncipe, de Maquiavel, procurando descobrir e justificar as razões para estimular o uso da força, como medida ne- cessária à vida em sociedade. Estas obras exerceram enorme influ- ência em sua época e continuam vivas e estudadas nos nossos dias.

Bodin foi um professor da Universidade Francesa de Toulouse. Sua produção é extensa e condizente com a preocupação do mestre. No livro, O Método (1566),

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escreveu os livros A Cidade (1642) e Leviatã (1651). Ele é um dos fundadores do empirismo. Para os empiristas, a sensação e a percepção de- pendem das coisas exteriores que agem sobre os sentidos externos e sobre o sistema nervoso. O co- nhecimento é obtido através da soma e da associação

para facilitar a compreensão da história procura definir um método para estudar a história e anali- sar a sociedade ao mesmo tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

das sensações. Hobbes estuda e procura entender a integração social a partir da experiência da realidade. Ele expõe seu pensamento social valendo-se do mé- todo comparativo, procurando, por exemplo, explicar as diferenças existentes entre vespas e abelhas e a sociedade humana.

 

 

 

 

 

Locke sustentava que o estado natural dos indi- víduos era a liberdade perfeita para o agir dos homens em sociedade, sem que se impusesse a necessidade da permissão de outro homem. Na sua obra Dois Tratados

sobre o Governo, Locke defendeu a tese de que o povo constituía a força suprema da sociedade e, como tal, deveria agir para definir as formas de legislação de seu interesse.

 

 

 

 

 

Spinosa, judeu-holandês, em sua obra, Tratado Teológico Político, defendia a ideia de que o homem na sua origem era anti-social e de natureza preda- tória, possuindo, contudo, impulsos sociais no iní- cio de sua constituição. Por isto mesmo, em razão de

sua natureza, o homem não poderia ser mau, mas era anti-social. A sociedade surge exatamente para corri- gir este desvio do homem, surge com o objetivo de garantir os ganhos e glórias que o homem só consegue alcançá-los na vida em sociedade.

 

 

 

 

Ainda que presas aos esquemas religiosos, as contribuições do cientificis- mo foram significativas e relevantes para o desenvolvimento da Filosofia da História e o estudo da sociedade. Neste sentido, situa-se o trabalho de Sir Francis Bacon (1561-1626). Coube ao “Novum Organum”, principal obra de Bacon, abrir o caminho para a investigação da natureza pelo teste do conheci- mento. Da mesma forma, Descartes (15961650), com o “Discurso do Método”, estabeleceu as quatro regras que, até os dias de hoje, norteiam a constru- ção do conhecimento: a) a da evidência; b) a da análise; c) a da ordem e

  1. d) a da enumeração. Com toda certeza, a metodologia cartesiana influenciou o pensamento social e as doutrinas políticas por força de seu

 

 

 

O Século XVIII, denominado também século do Iluminismo e do Humanismo, foi profundamente fecundo para a produção do conhecimento do homem e de sua vida em sociedade. Neste período, o pensamento social e a reflexão para a compreensão das questões sociais passam a ser dirigidas na direção do homem, do mundo e da vida humana em sociedade. Foram produzidas obras que se cons- tituíram em verdadeiros marcos da política, da economia e sociologia. Hume (1711-1776), continuador do empirismo de Locke, escreveu o Tratado sobre a Natureza Humana; Adam Smith (1723-1790), em A Riqueza das Nações, relacio- na suas análises econômicas ao conjunto da sociedade; enquanto o fisiocrata, Smith, defende que a riqueza de uma nação resulta da terra e de sua exploração.

 

 

 

 

 

Montesquieu escreveu significativas obras, como As Cartas Persas, Considerações sobre as Causas da Grandeza dos Romanos e de sua Decadência e O Espírito das Leis, em que desenvolve o princípio de causalidade social. Nesta obra, ele afirma que as leis são relações necessárias que derivam da natureza das coisas. Os ho- mens e os grupos não são determinados arbitrariamen-

te, pois obedecem às diversas causas de natureza física e moral.

Para ele, existem quatro leis fun- damentais: a) necessidade da paz b) a satisfação da fome c) a necessidade de sexo d) o desejo de viver em sociedade.

 

 

 

 

 

 

No final do século XVIII e início do século XIX, foram produzidas as obras das “Doutrinas Socialistas” que se colocaram contrárias à con- centração da riqueza e exploração dos (as) trabalhadores (as). Entre outros pensadores, cabe destacar: Fourier (1772-1837), criador das comunidades de produção (falanstérios), composta por 1.800 traba- lhadores. Saint Simon (1760-1825), reconhecido como o fundador do socialismo. Owen (17711858) escreveu Uma Nova Visão da Sociedade, fundador das primeiras sociedades cooperativas. Proudhon (1809- 1865), escreveu “O que é a Propriedade”. Em O Manifesto do Partido Comunista, Marx considera as virtudes, as práticas e os equívocos das referidas “Doutrinas Socialistas”.

Rousseau é reconhecido como um dos maiores enciclopedistas, bem como, um importante precur- sor da Sociologia. Entre outros, dois de seus escritos ficaram para a história: O Contrato Social (1762) e Émile (1762). Uma das teses de Rousseau é que as ciências e as artes são fontes de decadência mo- ral, que tudo corrompem, provocando uma vida de luxo e de costumes irregulares. Por isso, ele inci- ta o retorno à natureza, à simplicidade primitiva. Vivia-se melhor e mais feliz enquanto primitivo. Como não é mais possível voltar ao estado primi-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hegel, filósofo idealista alemão, procurou traba- lhar o movimento de entrosamento entre os princípios filosóficos e as ciências sociais. Hegel é o fundador da dialética idealista que atribui o movimento do real à ordem dos conceitos e não à realidade. Coube a Marx, colocar a dialética de Hegel de cabeça para cima, de pés no chão.

Para Marx, o movimento do real está nas coisas mesmas. A mente capta e explica o movimento da na- tureza, valendo-se dos conceitos. Ricardo (1772-1823)

tivo, Rousseau propõe o Contrato Social. Para fun- damentar o contrato, as pessoas devem colocar suas vidas e posses sob o controle da sociedade. Caberia ao monarca cuidar da coletividade. Suas principais ideias podem ser assim resumidas: a) a natureza é boa, mas a sociedade a prejudica; b) a vida social guia-se mais pelo instinto e sentimento, menos pela inteligência; c) vida, liberdade e busca de fe- licidade são direitos que os homens não podem renunciar. Em Émile, Rousseau desenvolve suas posições educacionais e pedagógicas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

escreveu a obra Princípios de Economia Política, tor- nando-se, na época, o principal teórico da economia capitalista. Malthus (1766-1834) ficou famoso com sua teoria da população, afirmando que a correlação entre os recursos materiais e a excessiva fecundidade humana resulta em graves problemas de sobrevivência para a humanidade futura; para Malthus, a população cresce numa velocidade semelhante à média geomé- trica, enquanto a produção de alimentos cresce numa média aritmética.

 

 

 

 

 

Tudo é loucura ou sonho no começo.

Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira. Mas já tantos sonhos se realizaram,

que não temos direito de duvidar de nenhum.

(Monteiro Lobato)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Teoria Sociológica

 

 

UMA PREMISSA

Magia ou Criação

 

 

Produzir uma teoria é um ato de magia, ato de construção e criação. Cada teoria contém elementos essenciais, específicos e diferenciados. Existem tan- tas teorias sociológicas quantos são os feixes de con- ceitos específicos de leis, de metodologia para a aqui- sição do objeto trabalhado, e de princípios explica- tivos dos fatos e/ou fenômenos estudados. Existem,

também, pressupostos à construção teórica que dizem respeito à forma como o analista se coloca diante da construção do objeto e do método. Estamos nos ref3e8– rindo às questões especificamente epistemológicas , por exemplo: a vigilância epistemológica38 que deve- mos ter durante todo o percurso da construção do co- nhecimento independentemente da teoria assumida.

 

 

 

De saída, poderíamos nos colocar 3 perguntas:

Por que trazer para discussão os primeiros fundadores da Sociologia? O debate sobre o passado traz contribuições ao presente?

Falaremos das ideias e propostas de todos os fundadores da Sociologia?

 

Vamos iniciar com respostas resumidas:

 

 

Respondendo à primeira pergunta que, até os dias de hoje, incorremos em erros de análise da sociedade em razão da influência, conveniência e oportunismo das eli- tes políticas, econômicas e sociais em manter e impor à população a leitura e compreensão da sociedade, confor- me a visão que interessa às elites. Ir às fontes das teo- rias básicas ajuda-nos a superar o estado passivo de aceitação que se baseia em normas como: o “mestre disse”, “ordem e progresso”, “saiu na mídia”, etc. Estas são formas que repassam a visão ideológica con- servadora dominante.

Em parte, a resposta à segunda pergunta já está contemplada na primeira. Contudo, podemos acrescentar algo mais: conhecer os erros e acertos do passado ajuda-

-nos em nossas decisões presentes e futuras. Como é im- portante podermos falar com “os poderosos” em pé de igualdade, podendo, inclusive, desmontar suas estraté-

gias, suas “armadilhas intelectuais”. Pergunto: não tem sido este artifício intelectual uma poderosa ferramen- ta para manter as elites políticas, econômicas e inte- lectuais no poder? Não tem sido este um recurso que os dominantes utilizam para dominar a classe trabalhadora? Quanto à terceira pergunta, podemos dizer que não dispomos de tempo e espaço para apresentar e discutir as ideias teóricas e metodológicas de todos os fundadores, “criadores” e inovadores da Sociologia. Interessa-nos, sim, colocar os marcos que definiram as principais linhas e tendências de visão da sociedade, bem como os objetivos

que prevalecem até os dias de hoje.

Pontuaremos as visões e propostas de Comte, Spencer, Marx, Durkheim, Weber. Falaremos do Positivismo de Parsons e Merton. Não falaremos de Tönnies, Tarde, Cooley, Simmel, Pareto, entre muitos ou- tros sociólogos igualmente importantes.

 

 

 

38 Epistemologia (episme = ciência + logos = discurso, fala); no texto epistemologia significa Teoria da Ciência. Refere-se ao estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados da ciência elaborada, bem como da vigilância durante o processo de construção da ciência, com o objetivo de verificar e determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance dos objetivos que foram propostos.

 

 

 

 

 

Físico francês, nascido e criado no bojo da revo- lução liberal burguesa que derrotou, a um só tempo, as críticas teóricas dos “pensadores socialistas” e as expressivas lutas e resistências do operariado, consoli-

dando o Estado Liberal Capitalista no ocidente. Os qua- tro componentes sócio-histórico, político-econômico mencionados, foram fundamentais para a formação do pensamento e da sociedade de Comte.

 

 

 

 

Daí, a preocupação de Comte com a “máxima ob- jetividade teórico-metodológica” ao conduzir seu estu- do da sociedade.

Daí, seu empenho e “reação positivista”, principal- mente contra as doutrinas e pensadores socialistas que criticavam, em suas análises, a sociedade capitalista.

Comprometido com o Estado nacio- nal, liberal capitalista, que se consolidava em nome do “progresso”, Comte preocupava-se, contudo, com a devassa da guilhotina nos “estratos médios” da sociedade francesa, criando, segundo ele, um “desequi- líbrio social” que ameaçava o “desenvolvimento natu- ral” e o “progresso social”.

 

 

 

 

Este seria o único capaz de situar as pessoas no intrincado e complexo mundo dos comportamentos so- ciais e das relações dos homens em sociedade, para

restabelecer a pretendida “ordem e equilíbrio social”. Entende-se porque seu estado denominava-se, inicial- mente, Física Social, mais tarde, Sociologia.

 

 

 

 

São dois, os conceitos chaves originários da fí- sica, e assumidos por Comte no estudo da sociedade:

 

1 – ESTÁTICA SOCIAL: estudo da ordem social em determinado momento. A sociedade pode ser estudada a partir da identificação de seus componentes estrutu-

rais internos (estado, instituições, família etc)

 

2 – DINÂMICA SOCIAL: estudo da evolução das sociedades no tempo (observação e comparação das so- ciedades em seu processo evolutivo, tomando-se como referência a História Universal).

 

 

 

 

 

São três os princípios

que nortearam a sociologia de Comte:

  1. PRIORIDADE DO TODO SOBRE AS PARTES: para compreender e explicar um fenômeno social particular devemos situá-lo no contexto global a que
  1. O PROGRESSO DOS CONHECIMENTOS QUE É CARACTERÍSTICO DA SOCIEDADE HUMANA: as suces- sivas gerações se encarregam de repassar seus saberes que vão sendo acumulados e enriquecidos nas gerações subsequentes ou

 

  1. IGUALDADE E IDENTIDADE DO HOMEM QUE É SEMPRE O MESMO POR TODA PARTE E EM TODOS OS TEMPOS; os homens possuem idêntica constituição biológica e idêntico sistema

 

 

 

 

Em razão dos princípios assumidos, conclui Comte: a evolução das sociedades ocorre da mesma maneira e em todas as partes do planeta. Todas as civilizações

Partindo da evolução natural,

saem de um estado rústico e atingem um mesmo cume.

 

Comte classifica as sociedades em três leis.

A Lei dos Três Estados

  1. Estado teológico ou fictício. Estágio em que a humanidade procura explicar os fenômenos naturais recorrendo-se aos Subdivide-se em:

 

  • fetichismo: confere vida e poder a seres inanimados;
  • politeísmo: atribui a diversos deuses certos traços da natureza humana;
  • monoteísmo: desenvolve a crença em um único Deus.

 

  1. Estado metafísico ou

As ideias gerais substituem as causas primeiras.

 

  1. Estado positivo ou científico. Estágio em que o homem busca

a compreensão do mundo “natural e social” através da observação e do raciocínio.

 

      Contribuição Crítica ao Positivismo Comtiano                  

 

 

Na Sociologia, é próprio do teórico “positivista mecanicista” procurar a compreensão e explicação da sociedade através da analogia mecânica. É verda- de que não se trata de identificar a sociedade com uma máquina complexa, mas procurar na compara- ção, na similitude com a máquina, compreender e

explicar a organização interna e funcionamento da sociedade. Comte recorreu ao relógio como analo- gia explicativa: um todo complexo com unidade de organização e de funcionamento. O todo é mais im- portante do que as partes; as partes só podem ser explicadas em função do todo.

 

 

 

 

Todas as sociedades, diz Comte, partem da estaca zero e atingem o cume da organização social, do saber, da tecnologia, etc., por um processo natural, regido por leis naturais. A história comprovou e tem compro- vado que não é bem assim.

A tese da igualdade e identidade do homem tam- bém está colocada.

Nos termos propostos pelo autor, fica difícil sus- tentar que o homem e a mulher se fazem no processo social, no processo histórico.

 

Estas e outras afirmações positivistas comtianas incidem

no “erro teórico-metodológico”, ao admitir e defender que os fatos

e os fenômenos sociais são coisas da mesma natureza física, da Biologia, da Química e, enquanto tal, são regidas por leis naturais,

e que somente nesta “condição objetiva” devem ser estudadas.

 

 

 

 

Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre. (Paulo Freire)

 

 

 

 

 

Coube a Darwin, na segunda metade do século XIX, inftuenciar inúmeros estudiosos com seu estu- do sobre a evolução das espécies. Depois da Biologia, a Sociologia foi a ciência que mais assumiu as ideias darwinistas. A Escola Biológica que se desenvolveu na Inglaterra comprova essa inftuência.

Na concepção de Spencer, a sociedade asseme- lha-se a um organismo vivo, um corpo biológico,

altamente complexo. O processo de evolução da so- ciedade ocasionou a complexidade de sua estrutura. A estrutura social se manifesta na interdependência de suas partes. Assim, como acontece no organismo vivo, o braço não tem razão de ser fora do corpo; os dedos não têm razão de ser neles mesmos, mas nas mãos; as mãos só têm sentido nos braços, os braços no corpo.

 

 

 

A evolução é o princípio explicativo utilizado por Spencer no estudo da sociedade

 

Segundo ele, a história demonstra que pequenas coletividades nômades, homogêneas, indiferenciadas, sem qualquer organização política e de reduzida divi- são de trabalho, tornaram-se cada vez mais complexas, mais heterogêneas, compostas de grupos diferentes, com progressiva organização política, econômica e so- cial e com maiores exigências na divisão do trabalho. Spencer realizou inúmeras viagens aos Estados Unidos, tendo sido muito aceito e divulgado pelos americanos que aceitaram e divulgaram suas ideias. Em

suas principais obras (Princípios de Sociologia (1876- 1896) e o Estudo da Sociedade (1873)) ele expõe suas proposições e teoria sociológica.

Como procuramos exemplificar, Spencer trabalha com analogias de forma semelhante ao Comte. Spencer trabalha com a analogia biológica, enquanto Comte tra- balha com a analogia mecânica. Fica claro que, também para Spencer, os fatos e fenômenos sociais devem ser estudados e explicados através de semelhanças e com- parações, mas não diretamente neles e por eles mesmos.

 

 

Crítica à Abordagem Biológica na Sociedade

 

 

Os modelos teóricos que recorrem a elementos ex- ternos para explicar as estruturas, o funcionamento, os processos e fenômenos sociais cometem o erro teórico e metodológico crucial imputado ao Positivismo: admi- tir que a sociedade só pode ser compreendida através de comparação. Com toda certeza, a sociedade pode ser vista e compreendida como ser vivo, porque ela é uma realidade social e histórica viva; mas, ela necessi- ta ser entendida e caracterizada de forma totalmente

diferenciada de um organismo vivo, por mais complexo que ele seja. Os homens, as mulheres, os grupos, os segmentos e classes sociais fazem sua história indi- vidual e coletiva. A construção do processo histórico está reservada, unicamente, a este tipo específico de ser vivo. Assim, conhecer a sociedade é desvelar os mecanismos e processos que possibilitam compreender este tipo especial de vida, a vida social, a vida humana em sociedade.

 

 

 

 

 

Se hoje, poucos têm terra de trabalho, maté- rias primas, dinheiro, etc, é porque foram expro- priados, é porque sofreram a má distribuição das riquezas. Em contrapartida, se poucos acumulam a riqueza, os fatores de produção (terra, tecno-

logia, capital, matérias primas, máquinas), etc, é porque expropriaram os demais, é porque fica- ram com a parte maior da distribuição da rique- za, é porque realizaram ou realizam a exploração do trabalhador.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marx foi um filósofo social e economista alemão, fundador do Materialismo Histórico. Ele con- tribuiu muito para o desenvol- vimento da Teoria Sociológica

ao analisar e criticar a organi- zação social, política, econô- mica, jurídica, ideológica, cultu-

ral da sociedade capitalista.

No Prefácio à Crítica da Economia Política40, Marx menciona os fundamentos teóricos e metodológicos do Materialismo Histórico, quando escreve que:

 

  1. podemos conhecer a sociedade concreta a partir das relações das pessoas no processo produtivo dos bens materiais e,
  2. buscando a compreensão do estágio de desen- volvimento que se encontram as forças

 

 

 

 

 

Marx escreve no referido Prefácio: “… A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adqui- rida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: os homens na produção social da sua existência estabelecem relações determinadas, necessárias, independen- tes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvol- vimento das forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a es- trutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral…”

 

 

40 MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. Prefácio. Martins Fontes, São Paulo, 1986.

 

 

 

Marx escreveu inúmeras obras de caráter filosó- fico, econômico e político-social. Em O Capital, sua principal obra econômica, ele realiza a mais profunda análise crítica do processo global de produção capita- lista. Em a Contribuição à Crítica da Economia Política, como veremos, são dois os objetos do estudo de Marx: primeiro, “a produção material”; segundo, “o método da economia política”. Em A Ideologia Alemã, obra escrita em parceria com Engels, é realizada a crítica

da filosofia alemã, partindo dos filósofos materialis- tas e idealistas, novos e velhos seguidores de Hegel. Em o Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels convocam os (as) trabalhadores (as) do mundo intei- ro a se unirem para derrubar a sociedade capitalista e iniciarem a implantação de uma sociedade socialista de transição para a sociedade comunista: sociedade sem classes sociais antagônicas, sem a exploração do homem pelo homem.

 

 

Marx e Engels fizeram referência e propuseram uma classificação das sociedades, segundo o tipo predominante de suas relações sociais de produção.

 

 

As situações ou elementos sócio-históricos privilegia- dos na análise do Materialismo Histórico estão expressos nos conceitos e proposições que retratam relações sociais

concretas, globais, gerais e específicas; os conceitos são de- nominações, definições, formas intelectuais de representa- ção do concreto; são abstrações; são o “concreto pensado”.

 

 

      Proposições e Conceitos Básicos do Materialismo Histórico                                                                                              

Vamos listar um feixe de conceitos e proposições do Materialismo Histórico,

sem qualquer pretensão de mencionar a todos eles e, menos ainda, sem pretender defini-los com o rigor acadêmico exigido pela teoria do Materialismo Histórico.

 

 

Modo de produção capitalista:

organização das forças produtivas e das relações sociais com o intuito de gerar mais-valia que garanta a produção material e a reprodução social do Estado Capitalista.

Forças produtivas:

terra, trabalho, capital, tec- nologia: elementos essenciais à produção capitalista.

Classes sociais:

Relações sociais de produção: organização e inte- raçãodaspessoasedasclassesnasociedade, tendoemvis- ta a produção material e a reprodução social, a manuten- ção e ampliação das relações sócio-político-econômicas.

grupos de pessoas que se dife- renciam, entre si, pelo lugar que ocupam no sistema

de produção social historicamente determinado, pelas relações em que se encontram no que diz respeito aos meios de produção, pelo papel que desempenham na organização social do trabalho, e, conseqüentemente, pelo modo de receber e pela proporção que recebem a parte da riqueza social de que dispõem. As classes são grupos humanos, um dos quais pode apropriar-se do trabalho do outro, por ocupar posto diferente, num regime determinado da economia social.41”

Infraestrutura:

base econômica da produção dos bens materiais de determinada sociedade que condi- ciona o surgimento da superestrutura.

 

 

 

 

41 LÊNIN, V.I. Las Clases Sociales. Una gran iniciativa. Obras escogidas (Em doce tomos), Vol. X Ed. Progreso, Moscú, 1977, (pág. 1112).

 

 

 

Superestrutura:

organização das instâncias polí- tica, jurídica e ideológica nas diferentes manifestações do Estado e da sociedade civil.

Mais-valia:
Luta de classes:

relações conflitantes de interes- ses entre as classes sociais; processo dialético que atua como motor da história, criando o movimento perma- nente em razão das contradições, da exploração das clas- ses dominantes; para Marx, toda história transcorrida até então tinha sido uma história de lutas de classes.42

processo histórico de exploração do trabalho que propicia a acumulação do capital; deno- mina-se também trabalho não pago e apropriado pelo capitalista, e trabalho morto.

Propriedade privada dos meios de produção: re- sultado concreto do processo histórico que possibilitou a concentração da riqueza nas mãos de poucos (terra, trabalho, capital, matérias primas, ouro, prata, pedras preciosas), através da expropriação, pirataria, guerras, etc, viabilizando a organização de um modo de produção que se mantém e amplia pela exploração daqueles que só têm sua força de trabalho para vender ou negociar. Contrato: dispositivo sócio-jurídico, político-eco-

nômico que assegura às partes contratantes, direitos e deveres pré-estabelecidos e sujeitos a sanções, em caso de inadimplência.

Produção ampliada:

processo produtivo que par- te do capital para produzir mercadoria que, vendida no mercado, permite obter o capital inicial acrescido da mais-valia.

Salário:

pagamento pelo tempo de trabalho reali- zado pelo trabalhador e que deverá garantir a produção e reprodução social do trabalhador, produção de futu- ros trabalhadores (as).

Juros:

Renda da terra: percentual pago pelo arrendatário ao proprietário do imóvel, para que possa utilizar a terra na produção de mercadorias; a renda da terra é um custo social pago pela sociedade para que ela possa desfrutar dos bens e alimentos necessários e produzidos no campo. tributação imposta em razão do emprésti-

mo e aplicação do dinheiro alheio.

Mercadoria:

produto para o mercado; bem de uso e bem de troca que se constitui no produto do modo de produção capitalista, capaz de assegurar ganhos, lucros e mais-valia no mercado.

 

 

 

Contribuições Metodológicas do Materialismo Histórico às Ciências Sociais

Em a “Contribuição à Crítica da Economia Política43”, Marx propõe dois objetivos:

  • demonstrar como ocorre “a produção material”;
  • como se desenvolve “o método da economia política”.

 

O primeiro objetivo refere-se à explicação dialé- tica do modo de constituição da totalidade social; o segundo objetivo consiste na exposição do método de conhecimento da totalidade social, totalidade consti- tuída por estruturas e processos – método que resulta do conceito de “concreto pensado”.

Vamos considerar, de forma simplificada, o pri- meiro objetivo: a explicação do modo de constituição da totalidade social.

Marx inicia seu estudo discutindo a produção em geral. O primeiro objeto a considerar é a produção ma- terial. O processo produtivo contém “determinações comuns”, ou “determinações gerais”, que se aplicam pela comparação às diferentes épocas. Cada processo produtivo contém, também, “determinações específi- cas”; as determinações específicas referem-se a cada processo produtivo em seus diferentes momentos de desenvolvimento histórico:

 

 

42 Ver Marx, Karl. As Lutas de Classes. Livraria e Editora Cátedra. Rio de Janeiro,

1986 e O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. 5a. Ed. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1986.

43 MARX, Karl. Opus. cit. Produccion, consumo, distribucion, cambio, (Circulacion). Elementos Fundamentales para la crítica de la economia politica (Borrador 1857 – 1858). Siglo veintiuno Argentina editores, sa. Buenos Aires, Argentina, 1972, Introduccion, pág. 3-20.

44 Idem, pág. 5.

 

 

Por outro lado, “as determinações específicas, caracterizam as diferenças históricas”:

 

 

O homem é um ser social, da mesma forma que toda produção é social, desde a apropriação da natu- reza, que envolve a produção social dos indivíduos. Cada produção material é acompanhada por formas

de propriedade e por formas de estrutura jurídico-

-políticas, historicamente, determinadas. Assim, a propriedade é uma forma de produção de sujeitos so- ciais e de objetos.

 

 

 

 

PRODUÇÃO

A partir dessa premissa de produção, enquanto totalidade, trata-se de demons- trar os momentos que constituem a pro- dução. Os momentos que constituem o processo produtivo são os seguintes: a propriamente dita, ou trans-

formação da natureza pela atividade hu-

razão da repartição social; e o

CONSUMO,

ou o momento da passagem dos produtos a objetos de desfrute individual47.

Os momentos apresentados encontram-

-se em relação dialética uns com os outros, num movimento recíproco que demonstra sua unidade. Assim, existe uma identidade

 

mana; a

do produto; a

ou a repartição ou o fornecimento

que pode ser verificada, pois, a produção é consumo, o consumo é produção. Produção

 

dos produtos que coube aos indivíduos em    consumidora. Consumo produtivo.

 

45 Idem, ibidem.

46 Idem, ibidem, pág. 6.

47 Idem, pág. 9.

 

 

 

 

Produção e consumo aparecem como momentos                    A criativa análise dialética de Marx estende-se,

 

DISTRIBUIÇÃO

contrários, exteriores entre si que se movimentam em

também, à

de produtos. Primeiro, ela é

 

CONSUMO

dependência recíproca um do outro. A materiais e fornece objetos para o

cria

PRODUÇÃO

, ou seja,

distribuição de produtos e, em seguida, distribuição dos membros da sociedade pelos diferentes tipos de produção.

 

oferece ao objeto do consumo sua forma exterior e, ao mesmo tempo, o consumo cria sujeitos para o produto, ou seja, põe o objeto da produção como imagem exterior.

 

De fato, cada um não é apenas imediata- mente o outro, nem apenas intermediário do outro: cada um, ao realizar-se, cria o outro.

Essa distribuição dos instrumentos de produção e dos gru- pos sociais no interior do processo produtivo constitui o arranjo das forças produtivas e das relações de produção que retratam a divisão social do trabalho. Finalmente, o momento da troca, ou é diretamente incluído na produ- ção ou é determinado por ela. O consumo, que é parte do processo, situa-se fora da economia, salvo quando ele se torna uma fonte de realimentação do processo produtivo.

 

 

A análise de Marx, que se estende à relação de todos os termos do processo, atende, igualmente, a compreensão “lógica formal” do processo produtivo:

 

 

 

Vamos considerar, em grandes linhas, o segundo objetivo proposto por Marx em a Crítica da Economia Política: a exposição do método de conhecimento da

totalidade social, totalidade constituída por estruturas e por processos – método que resulta do conceito de “concreto pensado49”.

 

 

Em toda investigação científica da realidade, trabalhamos com conceitos.

 

 

 

48 Idem, pág. 11.

49 Elementos Fundamentales para la crítica de la economia política, opus cit. (nota 29), pág. 20-30.

 

 

 

Começamos o trabalho intelectual com conceitos que são, ainda, sínteses amplas e abstratas da realidade a ser trabalhada. Marx nos dá o exemplo da população. A população é um todo, mas o conceito de população permanece vago se nós não conhecermos a divisão dela em classes; a divisão da população na cidade e no campo, em seus diferentes ramos de produção, etc. Da mesma forma, só podemos conhecer as classes se estudarmos os elementos sobre os quais elas se apoiam para existi- rem, o que fazem, o que recebem, etc. Estes elementos, contudo, supõem o comércio, a divisão do trabalho, os preços, etc. Desta forma, “Se começo pela população, portanto, tenho uma representação caótica do conjun- to; depois, através de uma determinação mais precisa, por meio de análises, chego a conceitos cada vez mais simples. Alcançando tal ponto, faço a viagem de volta e retorno à população. Desta vez, contudo, não terei

sob os olhos um amálgama caótico e sim uma totali- dade rica em determinações, em relações complexas50”.

Veja que o ponto de partida proposto por Marx é uma noção (população) repleta de determinações que assinala, ainda de modo confuso, uma realidade muito complexa. Assim, uma determinada compreensão, ain- da que vaga do todo, precede a possibilidade para que se possa aprofundar o conhecimento das partes.

Marx vai além quando diz que pela análise, eu compo- nho e recomponho o conhecimento, valendo-me do conceito amplo que escolhi como ponto de partida. No fim, realizada a viagem inversa do mais complexo (ainda abstrato) ao mais simples e feito o retorno do mais simples ao mais complexo (já concreto), a expressão população passa a ter um conteú- do bem determinado. Portanto, o concreto é o resultado de um trabalho intelectual: “o concreto é concreto porque é a síntese de várias determinações, é unidade na diversidade51”.

 

 

 

      Crítica ao Materialismo Histórico                                         

 

 

Como sintetiza Lakatos: “o postulado básico do marxismo é o determinismo econômico, segundo o qual o fator econômico é determinante da estrutura do de- senvolvimento da sociedade. ”Firmado nessa proposição,

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

50 Idem, pág. 21.

51 Idem, pág. 21.

por sinal rígida e generalizada, é que surgem inúmeras críticas ao Materialismo Histórico, sem que seja apro- fundado o sentido de “fator econômico” e, menos ainda, de “determinismo econômico”, na perspectiva de Marx.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Desenvolvimento

da Sociologia

 

 

 

Durkheim, nascido na França, é tido e aceito pelos estudiosos das Ciências Sociais como um dos principais fundadores da teoria

sociológica. São inúmeras as contribuições e tentativas de Durkheim para superar o que já havia sido produzido sobre o estudo da sociedade até a sua época. Vejamos um exemplo relevante:

 

 

Em    “A     Divisão   Social    do Trabalho” (1893), Durkheim nega as ideias mecanicistas de Comte e combate as ideias biologistas de Spencer. A partir de estudos e pes- quisas, cria e enuncia conceitos e princípios básicos para o estudo da sociedade: a consciência in- dividual, consciência coletiva, solidariedade mecânica e soli- dariedade orgânica. O princípio de divisão de trabalho está base- ado nas diversidades das pessoas e

grupos. A divisão do trabalho gera um tipo de solidariedade específica. Refere-se ao encontro de interesses que se complementam nos trabalhos distintos e necessários para a vida

em sociedade; trabalho que gera um laço social novo.

Por CONSCIÊNCIA COLETIVA deve-se entender a soma de crenças e sentimento comuns à média dos membros da comunidade; sistema autônomo, realidade que persiste no tempo e une as gerações. A Consciência Coletiva envolve a mentalidade e a moralidade. É de- terminante nos agrupamentos e nos homens primitivos.

Durkheim trabalhou e desenvolveu dois conceitos de Sociedade: A SOCIEDADE PRIMITIVA que é regida por leis e costumes que acentuam os valores da igualdade, liberdade, fraternidade e justiça. Nela, a Solidariedade Mecânica é responsável pela unidade e pela ordem das ações sociais esperadas.

A SOCIEDADE COMPLEXA é regida pela Divisão Social do Trabalho e pelas diferenças entre os indivídu- os. Nesta, prevalece a SOLIDARIEDADE ORGÂNICA que conduz a uma crescente independência das consciências individuais e coletivas.

 

 

Em “As Regras do Método Sociológico”,

Durkheim define fato social e estabelece as leis para o seu estudo:

 

 

São seis “As Regras do Método Sociológico” tra- balhadas por Durkheim. Como diz o autor, “A primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos so-

ciais como coisas”, a exemplo dos fatos da física, quí- mica, biologia, astronomia, etc. Coisas que se opõem às ideias.

 

 

 

52 DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico. Ver bibliografia, pág. 1-13.

 

 

 

As pré-noções e a pressuposição devem ser aban- donadas na análise social. O Senso Comum e o Bom Senso são atitudes e obtenções ingênuas da mente, não podem ser considerados na ciência.

A ciência deve analisar apenas os fenômenos que se apresentam isolados de manifestação indivi-

dual. Deve-se procurar a causa que produz os fatos ou fenômenos e revelar a função que ele desempe- nha. Deve-se procurar a causa nos fatos sociais ante- riores e não individuais; a função deve ser encontra- da através da relação que o fato mantém com algum fim social.

 

 

Em sua análise, Durkheim aponta três características do fato social:

è Exterioridade: os fatos sociais têm existência própria, independem das consciências sociais; por exemplo, em cada sociedade concreta, o matrimônio impõe direitos e deveres aos cônjuges, etc.

è Coercitividade: o fato social exerce coerção sobre os indivíduos e a coletividade; exemplo: nas comunidades cristãs, o batismo é a porta de entrada na vida religiosa.

è Generalidade: o fato social se estende ao indivíduo, ao grupo e à toda sociedade.

 

 

      Crítica ao Positivismo                                                               

 

 

 

Foram inúmeras as contribuições de Durkheim à Sociologia. Mas Michel Lowy53, em seu livro “Método Dialético e Teoria Política”, após analisar as posições de Comte e Durkhein, sintetiza sua crítica ao posi- tivo da seguinte forma:

 

O erro fundamental do positivismo é a incompreensão da especificidade metodológica das ciências sociais com relação às demais ciências naturais, especificidade cujas causas principais são:

 

Œ o caráter histórico dos fenômenos sociais, transitórios, perecíveis, susceptíveis de transformação pela ação dos homens;

 a identidade parcial entre o sujeito e o objeto do conhecimento;

Ž o fato de que os problemas sociais suscitam a entrada

em jogo de concepções antagônicas das diferentes classes sociais;

 as implicações político-ideológicas da teoria social: o conhecimento da verdade pode ter conseqüências diretas sobre a luta de classes.

Conclui Lowy:

 

 

Essas razões (estreitamente relacionadas entre si) fazem com que o método das ciên- cias sociais se distinga do científico-naturalista não somente no nível dos modelos teóri- cos, técnicas de pesquisa e processos de análise, mas também e principalmente no nível da relação com as classes sociais…54

 

53 LÖWY, Michael. Método Dialético e Teoria Política. Ver Bibliografia, pág. 15.

54 Idem.

 

 

 

 

 

 

 

 

Max Weber não é um sociólogo positivista. Teve divergências im- portantes com o positivismo. Há uma situação em que ele coincide com o positivismo: quando defen- de que a ciência social deve estar

livre de juízo de valor. Para ele, deve-se realizar ciência valendo-se dos juízos dos fatos, sem introduzir qual- quer ordem de juízo de valor nas análises sociológicas. Weber defende a ideia de que as ciências da natureza e as ciências sociais têm métodos diferentes. Basta esta posição para distanciá-lo dos positivistas.

 

 

Duas obras relevantes de Weber, entre outras:

A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905) e a Economia e Sociedade (1922), publicação póstuma.

 

 

 

Para    Weber,   membro da        aristocracia       alemã,  a Sociologia é o estudo das intera- ções significativas de indivídu-

 

os que formam uma teia de relações sociais. Para Weber, o objetivo da Sociologia é o estudo e a compreensão da conduta social, a busca de compreensão subjetiva da ação social, que é a conduta humana pública ou não.

 

 

Conduta Social

A                                 apresenta-se sob quatro formas ou categorias em Weber:

  • conduta tradicional: relativa às antigas tradições;

 

  • conduta emocional: reação emocional, comportamento dos outros, que se expressa em termos de lealdade ou antagonismo;

 

  • conduta valorizadora: impele as pessoas a agir como os outros esperam;

 

  • conduta racional-objetiva: consiste em agir segundo

um plano concebido em relação ao que se espera dos demais.

 

 

      Contribuição à Metodologia                                                    

 

 

Weber fez distinção entre método científico que aborda dados sociológicos e o método valor-julga- mento. Para ele, valor é questão de fé. O principal ob- jetivo da análise sociológica consiste em compreender a conduta humana, fornecer explicação causal de sua origem e resultado. Formular regras sociológicas que permitam verificar a conexão de sentidos da conduta. Tipo ideal: instrumento de análise dos aconte- cimentos ou situações concretas que exige conceitos precisos e claramente definidos. Quando a realidade concreta é estudada desta forma, possibilita estabele-

cer relações causais entre seus elementos.

Em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber quer comprovar seu método. “Espírito” para Weber é um sistema de máximas de comportamento hu- mano. Ele quer demonstrar histórica e socialmente, que o surgimento do capitalismo não é automaticamente as- segurado só por condições econômicas, deve haver uma segunda condição que pertence ao mundo interior do homem. Poder motivador específico: a aceitação psicoló- gica de ideias e valores favoráveis a essa transformação. O espírito de poupar e não gastar sem razão antecede a implantação do capitalismo e, por isso mesmo, são rele- vantes ao estudo do surgimento do capitalismo.

 

 

 

      Crítica à Sociologia de Weber                                                 

 

 

 

Embora seja importante reconhecer que as obras de Weber demoraram a ser conhecidas no Brasil, por fal- ta de tradução e publicação de seus trabalhos, mesmo assim, sempre permaneceu um ponto crucial de crítica ao seu trabalho; trata-se da referida distinção entre juízo de fatos e juízo de valores. Weber que sempre lu- tou, em vida, para que os marxistas não assumissem a universidade na Alemanha, argumentava que a ciência

fica prejudicada quando as análises da realidade deixam passar os juízos de valores dos cientistas sociais. Para Weber, os marxistas deixam-se mover pela ideolo- gia. Quanto ao juízo de valor, esta é uma questão já refutada. Não existem condições de isolar o analis- ta, de retirar-lhe seus valores, sua cultura, etc, em seus estudos e análises. Mais tarde, o próprio Weber ameniza sua posição radical sobre esta questão.

 

 

 

 

 

 

O sonho pelo qual eu brigo,

exige que eu crie em mim a coragem de lutar

ao lado da coragem de amar

(Paulo Freire)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Funcionalismo

 

 

 

Bronislaw Malinowski e Radcliffe-Brown foram os legítimos mentores e criadores do moderno funciona- lismo ou abordagem holística. Mas, a abordagem de totalidade (holismo) da sociedade não é recente; ela pode ser encontrada na antiga Grécia, na Idade Média e entre os pensadores e filósofos sociais a partir do

século XV. Da mesma forma, como ficou registrado, é inegável a contribuição de Comte, Spencer e, principal- mente Durkheim para a construção do funcionalismo e do estrutural funcionalismo. Segundo Cohen, nenhum dos precursores do moderno funcionalismo referiu-se a si próprio por esse nome55.

 

 

As primeiras contribuições de Malinowski para a construção do funcionalismo decor- rem de suas pesquisas de campo entre os povos primitivos; portanto, referem-se a trabalhos etnográficos. São duas as ideias fundamentais defendidas por Malinowski: se desejo com- preender um pormenor cultural devo referi-lo:

 

  1. A) a certos princípios gerais da conduta humana;

 

  1. B) a alguns outros pormenores da mesma sociedade e fornecer o contexto dentro do qual o pormenor ocorre56.

 

 

Foi reftetindo e verificando, na prática, a possibi- lidade de desvendar o pormenor cultural, a partir do todo em que ele se insere, que Malinowski elaborou um “sistema holístico de ideias” mais rigoroso. Ele partiu do pressuposto de que todos os homens possuem certas necessidades primárias de alimento, abrigo, satis- fação sexual, paz, proteção, exploração, etc. Para realizar as suas necessidades, os homens imaginam “técnicas para cultivar ou encontrar e distribuir comida, erguer habita- ções, estabelecer relações heterossexuais e associar-se. O processo de satisfação dessas, cria outras necessidades, derivadas ou secundárias: a necessidade de comunicação produz a linguagem; a necessidade de controlar os con- flitos e promover a cooperação dá origem a normas de reciprocidade e a sanções sociais; o desenvolvimento da consciência das vicissitudes e perigos da vida e dos pon- tos significativos de mudança do ciclo vital originam a

magia e outras formas de rituais e crenças, tais como a religião, as quais mitigam as ansiedades produzidas pela incerteza. A satisfação dessas necessidades secundárias dá origem, por sua vez, à necessidade de instituições coorde- nadoras, mais elaboradas; a existência destas, cria a neces- sidade de regras de sucessão e de alguns mecanismos de legitimação de autoridade, tal como o mito, que fornecem um regulamento para certas instituições fundamentais.57”

É por demais clara a construção holística “causal e funcional” arquitetada por Malinowski, com o in- tuito de demonstrar a totalidade social que garante o preenchimento das necessidades dos homens em sociedade. Com certeza, a linearidade expressa pela relação “causa e efeito”, que se processa num siste- ma aparentemente fechado, é que dá margem para as inúmeras críticas e questionamentos a este enfoque funcionalista construído por Malinowski.

 

 

 

 

Radcliffe-Brown não se denominava funciona- lista, mas, com certeza, foi o principal mentor da doutrina. A motivação de seu trabalho nesta linha

de construção do conhecimento social se deu pela rejeição aos excessos do evolucionismo e do difu- sionismo58.

 

 

55 COHEN, Percy S. Teoria Social Moderna. 2ª Edição. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1976, pág. 50-84.

56 Cohen, obra citada, pág. 56-57.

57 Cohen, obra citada, pág. 59.

58 Determinada linha etnográfica que procura explicar o desenvolvimento cultural a partir do processo de expansão (difusão) de

elementos culturais de um povo a outro, ou de determinados centros que concentram saberes e culturas mais avançados para outros menos avançados.

 

 

 

Seguindo de perto a posição de Durkheim, Radcliffe-Brown defendeu que a natureza dos fenômenos sociais só po- dia ser explicada através de razões sociais. Sua explicação, que se tornou muito aceita, parte dos seguintes pressupostos:

  1. A) se a sociedade tem de sobreviver, deve haver alguma solidariedade mínima entre seus mem- bros; a função dos fenômenos sociais é criar ou sustentar essa solidariedade de grupo ou, então, apoiar aquelas instituições que assim o fazem;

 

  1. B) dessa forma tem de haver uma congruência (coerência) mínima nas relações existentes entre as partes de um sistema social;

 

  1. C) cada sociedade ou tipo de sociedade apresenta certos aspectos estruturais básicos e pode-se de- monstrar que diversas práticas a eles se relacionam de maneira a contribuir para a sua manutenção59”.

SKIDMORE entende que o funcionalismo preen- che as exigências de uma teoria:

 

  1. ele reúne conceitos e categorias teóricas pró- prias: estrutura, função, sistema, parte e todo, integração, estabilidade, função manifesta, fun- ção latente, entre outros;

 

  1. constrói hipóteses na medida que tematiza os problemas que existem na realidade concreta, norteando linhas de estudo para comprovação das questões levantadas e

 

  1. sugere explicação, pois o modelo é derivado de tentativas sérias de entender a organização social humana, o processo do mundo real que é análogo ao modelo teórico. Conclui Skidmore: “O funcio- nalismo realiza mal muitas coisas, daí não conse- guir impedir seu uso literal como uma descrição, mas certamente fornece conceitos e categorias úteis a partir dos quais podemos ajustar nossos pensamentos, de modo a dar-lhes sentido60.

 

 

 

 

 

Sociólogo norte-americano. Em Teoria Social e Estrutura Social (1957), Merton contesta o pressuposto básico do funciona- lismo, a saber: que os elementos da cultura são funcionalmente inter-relacionados. Para

Merton, portanto, os itens culturais e indivi- duais não se integram em sistemas sociais e culturais, como sustenta Parsons. Em Teoria e Estrutura Social, ele critica três postulados dessa suposta integração dos sistemas:

 

 

o postulado da unidade funcional da sociedade; para Merton, não tem como comprovar que as atividades padronizadas e culturais atendam aos objetivos e às finalidades de todos os sistemas cultural ou social;

 

o postulado do funcionamento universal; não há como comprovar, também, que todos os itens culturais e sociais preencham as funções (os objetivos) da vida social;

 

o postulado da necessidade, que defende serem os itens culturais e sociais indispensáveis à vida em sociedade.

 

 

 

 

 

59 Cohen, obra citada, pág. 59.

60 SKIDMORE, William. Pensamento Teórico em Sociologia. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1976, pág. 190-91.

 

 

Merton desenvolveu novos conceitos sociológicos

com o intuito de relativizar os três referidos postulados:

equivalente funcional ou substituto funcional: um elemento pode ter várias funções; uma mesma função pode ser desempenhada por muitos elementos ou sujeitos;

noção de disfunção: conseqüências que perturbam a adaptação ou o ajustamento do sistema; função manifesta e função latente. Funções manifestas são conseqüências

objetivas e observáveis de práticas compreendidas e desejadas pelos participantes do sistema;

exemplo: melhorando a tecnologia de produção, deve-se esperar maior quantidade produzida, com a queda do custo de produção; as funções latentes são conseqüências de práticas

não pretendidas nem previstas, ou perceptíveis somente para o observador.

 

 

 

É um sociólogo norte-americano que escreveu inúmeros trabalhos. Entre outros, Estrutura da Ação Social (1937), Ensaios de Teoria Sociológica Pura e Aplicada (1949), Sistema Social (1951), Para uma Teoria

Geral da Ação Social (em parceria com Edward Shils (1951), Estrutura e processo na Sociedade Moderna (1959). Parsons é re- conhecido como um continuador da obra de Max Weber.

 

 

 

 

 

Seu esforço inicial foi colocado no sentido de superar “o dualismo positivista do moderno pensa- mento social”. Com o intuito de superar o positivis- mo mecanicista, Parsons procura construir o mun- do social a partir da compreensão de um universo de significados que determina a ação social. Assim, a ação social deve ser estudada tanto num nível des- critivo quanto analítico que constitui a menor unida- de social a ser identificada e estudada. Constituída de atos e unidades-atos que exigem a presença de um ator ou agente. Neste ponto, o trabalho de Parsons manifes- ta um esforço de continuidade do trabalho de Weber.

O funcionamento das estruturas tornou-se o tema central da Teoria Sociológica de Parsons. Estrutura para ele é a resultante do processo de institucionali-

zação – tradução das ideias, valores e símbolos – em nor- mas de ação. Exemplo: o va- lor geral da “educação” ins- titucionaliza-se no papel do professor, da escola, dos ór- gãos educacionais em ge- ral; o valor geral da “jus- tiça” institucionaliza-se

no papel do juiz, dos tri- bunais61. Assim, a institu- cionalização é um processo de integração e de estabili- dade, formando laços entre a sociedade e a cultura, etc.

 

 

 

 

 

 

 

61 Ver LAKATOS, obra citada; também, ainda, FERRARI, Alfonso Trujillo. Fundamentos da Sociologia. McGraw-Hill, São Paulo, 1983, pág. 34.

 

 

 

A ação social fornece os elementos di- nâmicos para o estudo das estruturas so- ciais. Dentro dos sistemas sociais é possí-

vel descobrir quatro funções sociais espe- cíficas, voltadas para atender os seguintes problemas:

 

 

  1. estabilidade normativa; função menos dinâmicas dos sistemas sociais,

que objetiva levar os membros da sociedade a reconhecerem e aceitarem seus valores;

  1. o postulado do funcionalismo universal: todos os itens sociais e culturais preenchem funções sociológicas;
  2. consecução de fins previsto e estabelecidos pelos objetivos dos sistemas;
  3. adaptação, ou somatória dos meios para contemplar a conquista dos objetivos

 

 

 

A abordagem holística adquire novo signi- ficado a partir da discussão   do   novo   paradig- ma emergente. Esta emergência, no entender de Boff, apenas encontra-se iniciada, mesmo porque o Funcionalismo, enquanto tratamento holístico, aplica-se apenas aos estudos da sociedade; trata-

-se, por essa razão, de uma teoria limitada, que se restringe aos estudos sociais. Em contrapartida, o novo paradigma emergente tem a ambição de se estender, e realmente se estende, a totalidade dos sistemas orgânicos e inorgânicos, micro e macro, representativos da realidade total.

 

 

Ainda que limitada, a abordagem holística da sociedade tem experimentado inúmeras críticas que se enquadram em três ordens ou dimensões:

CRÍTICA LÓGICA, que predominantemente tem insistido no caráter da explica- ção teleológica do funcionalismo. Exemplo de explicação teleológica: a religião existe, tendo por função manter as bases morais da sociedade ou, que o Estado existe com a finalidade de coordenar as diversas atividades que são encontradas nas sociedades complexas. Em ambos os casos, uma conseqüência é usada para explicar uma causa: a existência da religião e do Estado.

 

CRÍTICA SUBSTANTIVA, principalmente as seguintes: o funcionalismo destaca em demasia o elemento normativo da vida social; minimiza o conflito social, exaltando em demasia o papel da solidariedade social; exalta a natureza harmo- niosa dos sistemas sociais; não explica a mudança social e até chega a tratá-la como anormal. Possivelmente, esta seja a crítica mais justa ao funcionalismo: exalta em demasia a natureza harmoniosa dos sistemas sociais – o que, na verda- de, não ocorre gratuitamente;

 

CRÍTICA IDEOLÓGICA, que procura comprovar a relação existente entre o fun- cionalismo e o comprometimento dessa teoria com a sociedade conservadora, incentivando as relações harmoniosas entre as diferentes partes de um sistema social que se manifesta desigual e irreverente em suas relações de propriedade, da riqueza, de distribuição dos bens produzidos que, por isso mesmo, consolida as relações inabaláveis de poder.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Roteiro para

Estudo e Discussão de Pesquisa

Social Crítica

 

 

 

Este plano de trabalho pretende orientar a elaboração de projetos de pesquisas em ciências sociais, a partir de uma perspectiva crítica da realidade social. Trata-se de explicar a significa- ção de cada momento da montagem dos proje- tos, em termos da construção de uma problemá-

tica teórica e metodológica, da definição de um objeto científico, da escolha de um método, da investigação e do planejamento do trabalho de campo. Objetiva, assim, delinear várias etapas: a construção da problemática; a observação da realidade e a interpretação da realidade social.

 

 

 

 

Trata-se de indicar, de modo genérico, quais as estruturas,

processos e relações que serão objeto da investigação e da interpretação.

 

 

 

  • Os interesses e/ou objetivos científicos dizem respeito às implicações teóricas da ativi- dade da pesquisa, explicitando as possibilidades de desenvolvimento da ciência social que o tema contém, com base em seu potencial explicativo, em sua criatividade, ou na documentação origi- nal que poderá produzir ou

 

  • Os interesses e/ou objetivos prático-po- líticos dizem respeito ao engajamento da pesquisa

nos processo de transformação da sociedade, seja por se tratar de pesquisa inserida nas lutas sociais e políticas, seja pelos efeitos das implicações po- líticas dos resultados interpretativos do trabalho.

 

  • Os interesses e/ou objetivos aplicados dizem respeito às pesquisas de caráter aplicado, contratadas por instituições públicas, empresas privadas ou organizações não-governamentais, sindicais, com objetivos pragmáticos.

 

 

 

 

 

Significa realizar uma primeira elaboração sobre o tema, principiando a convertê-lo em problema destinado a substituir a indicação de uma questão social, indicação ainda marcada por noções de senso comum ou da ciência

convencional, por uma noção científica preliminar. Ao mesmo tempo, consiste no momento de estabelecer os limites teórico-metodológicos do problema, bem como de delimitar os contornos espaço-temporais da pesquisa.

 

 

 

 

 

Montagem de uma bibliografia referente ao tema, pelo estabelecimento de um conjunto de pala- vras-chaves (descritores) que permitirão a localiza- ção das fontes secundárias pertinentes, segundo os procedimentos da pesquisa bibliográfica. Realização do fichamento analítico das obras pertinentes ao tema, mediante o cotejo dos estudos já realizados e

das pesquisas, atualmente em curso, sobre o assun- to. O objetivo principal é realizar uma avaliação crítica do conhecimento vigente sobre o tema, e dele anotar as proposições, hipóteses, metodolo- gias de interpretação e de investigação e conclu- sões que forem julgadas pertinentes para o pro- blema da pesquisa.

 

 

 

 

 

Trata-se de expor quais as metodologias de inter- pretação que poderão ser, virtualmente, utilizadas na pesquisa; ou seja, quais os princípios explicativos dis-

poníveis nas diversas lógicas reconstruídas do trabalho sociológico que poderão orientar as etapas da investi- gação e da interpretação.

 

 

 

 

 

Consiste em um contato inicial com o tema a ser analisado: com os sujeitos-investigados, com as fontes primárias e com as fontes secundárias dis- poníveis. Nesta fase, deve existir uma atitude de receptividade interna do investigador para as infor- mações e dados expressos pela realidade social in- vestigada, em uma postura absolutamente flexível e não-formalizada.

Tal aproximação intuitiva do campo da pesquisa,

tanto pode testar o conhecimento existente quanto suscitar novas dimensões da realidade para serem ana- lisadas. Assim, a pesquisa exploratória pode propiciar rupturas com o senso comum e com o saber convencio- nal sobre o tema, auxilia no encaminhamento da defi- nição dos objetivos da investigação e sugere hipóteses para o trabalho. Por outro lado, esta observação preli- minar indica as possibilidades práticas da efetivação do trabalho de campo posterior.

 

 

 

 

 

A partir dos passos anteriores, pode-se delinear uma primeira visão teórica do investigador sobre o ob- jeto da pesquisa, constituindo na compreensão sintéti- ca preliminar possível na ocasião, a fim de encaminhar as tarefas da investigação e da interpretação. Significa elaborar uma explanação lógica, na qual a problemati- zação teórica do tema propicie a conversão em proble-

ma sociológico, a definição dos conceitos, a formulação das hipóteses conduzam à montagem da orientação te- órica da investigação.

Em outras palavras, consiste na construção do ob- jeto científico possível, após a ruptura com o senso co- mum e com conhecimento convencional e viável, pelos procedimentos de constatação das hipóteses que aponta.

 

 

 

 

Momento crucial do percurso, no qual, toman- do por base a compreensão preliminar do obje- to e sua percepção intuitiva, constrói-se, racio- nalmente, uma questão para interrogar, seja a partir de dimensões crítica da realidade, seja a partir de dilemas teóricos.

Definir o problema sociológico con- siste em formular um interrogante à re- alidade investigada, o qual parte do co- nhecido e avança para o desconhecido, estabelecendo a possibilidade e a procura de um conhecimento crítico da sociedade. Enfim, consiste no momento da ousadia do investigador que se propõe a conhecer o obs- curo, contraditório e desconhecido na realidade

social e na teoria sociológica.

 

7.2. Formulação dos conceitos:

Trata-se de explicitar os conceitos em uso na pesquisa, entendendo-se por conceito a representação te- órica de uma realidade social pelo pensamento, obtida pela generalização.

O conceito é uma simbolização das estrutu-

ras e dos processos sociais observados, que sem- pre se relaciona à prática social, seja por emergir de uma abstração da experiência possível, em dado espaço e tempo, seja por servir para deli- mitar e organizar a realidade social em análise.

 

7.3. Construção do sistema de Hipóteses:
7.1. Definição do Problema Sociológico:

A hipótese consiste em uma proposição que antecipa a resposta explicativa a uma questão colocada para a investigação, conduzindo, necessariamente, a um pro- cesso de constatação.

Ou seja, a hipótese significa a conexão ne- cessária entre a teoria e a realidade, mediação que conduz a novos conhecimentos, pois através da pesquisa, as formulações, anteriormente acei- tas, são criticadas e superadas por outras expli- cações descobertas.

Construir um sistema de hipóteses significa estabelecer uma suposição pro- visória de interpretação das estruturas, processos e relações sociais, isto é, um ju- ízo provável que orienta os procedimen- tos da constatação.

 

 

  1. Metodologia da investigação                                

 

 

 

 

8.1 Delimitação do campo da investigação:

Trata-se de definir e justificar, face ao problema da investigação, o âmbito espacial e temporal que vai configurar a referência histórica e empírica da pesquisa.

 

8.2. Detalhamento das hipóteses:

Trata- se de converter a linguagem explanatória das hi- póteses em uma linguagem de investigação, ou seja, especificar o conjunto de dimensões conti- das nas formulações teóricas que, investigadas em particular, possibilitarão a constatação na realidade social dos enunciados das hipóteses.

 

A problemática teórica e metodológica da pes-

quisa orienta a escolha dos métodos e técnicas utilizadas para coleta das informações necessá- rias para a constatação das hipóteses.

 

Por método de investigação entende- mos um conjunto de procedimentos que, visando atender aos objetivos teóricos da pesquisa, coordena a ação das técnicas de coleta da informação.

Os principais métodos de investiga- ção são: o estudo de caso; a observação etnográfica; a reconstrução histórica; a pesquisa participante; a pesquisa-ação e a enquete operária; e o método de inter- venção sociológica.

 

 

 

Por técnicas de investigação, entendemos as ope- rações efetivas, adaptadas a um objetivo definido, que estão ligadas aos elementos imediatos da realidade ob- servada, com a finalidade de coletar os dados e as infor- mações necessárias para constatação das hipóteses de pesquisa. As principais técnicas são: a pesquisa biblio-

gráfica; a análise de dados; as diversas modalidades de entrevista; a história de vida; as técnicas de análises de mensagem (análise de conteúdo e análise de discurso); as técnicas audiovisuais de pesquisa (fotografia, mi- crofilmagem e vídeo) os diversos programas da micro-

-informática aplicáveis à pesquisa nas ciências sociais.

 

 

 

  1. Planejamento da Pesquisa

 

 

9.1 Cronograma:

Devem ser estabelecidos a duração total da pesquisa e os períodos das seguin- tes etapas: revisão do quadro teórico; planejamento do trabalho de campo; desenho da análise; trata- mento do material; relatório preliminar com as ge- neralizações descritivas; relatório com as explana-

ções interpretativas, e redação final do relatório da pesquisa.

9.2. Orçamento:

Precisam ser detalhados e estimados os recursos humanos e os recursos materiais, permanentes e de custeio, necessá- rios para a execução da pesquisa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEXTOS DE APOIO

para Estudo e Discussão

 

 

 

 

FREI BETTO. ONU Reprova o Brasil e Censura a Globalização. Revista Caros Amigos, setembro de 1999, setembro de 1999, pág. 15.

 

 

“O Brasil foi reprovado no relatório de 1999 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Razão: má distribuição de renda”.

Entre 174 países, o Brasil está no 79o lugar, atrás do Chile (34o), Argentina (39o), Uruguai (40o), México (50o), Cuba (58o), Equador (72o). Somos 163 milhões de brasileiro. Destes, 26 milhões são analfabetos (16%). Fora os analfabetos que só sabem desenhar o nome, ou são analfabetos virtuais, incapazes de lidar com cartão magnético, equipamento eletrônico.

Das crianças e jovens em idade escolar, 20% estão fora da escola: 32,6 milhões. A média de vida do povo brasileiro é de 66,8 anos; a renda per capita: 6.480 dólares por ano, mas quem fica com os dólares? O país é campeão de desigualdade social.

Os 20% mais pobres (32,6 milhões) dividem en- tre si 2,5% da renda nacional, cerca de 22,5 bilhões de reais, considerando o Produto Interno Bruto (PIB) em 900 bilhões. Os 20% mais ricos abocanham 63,4% da renda: 570,6 bilhões de reais. 10% da população (16,5 milhões) possuem  50% da renda  nacional. 1%

(1,63 milhões) embolsa 15% da renda, cerca de 135 bilhões de reais.

Segundo a ONU: 26 milhões de brasileiros não têm acesso a condições mínimas de saúde, educação e serviços básicos; 39 milhões não dispõem de água potável; 48,9 milhões carecem de esgoto; 27,71 mi- lhões vivem em estado de permanente miséria; 18,745 milhões morrem antes de 40 anos de idade. FHC gasta apenas 21% do PIB com a área social.

ONU comprova: a Globalização agrava as desigual- dades sociais no mundo.

Em 1870, os 20% mais ricos do planeta possuíam renda sete vezes superior à dos 20% mais pobres. Em 1997, a diferença era de 30 para 1.

Dado alarmante: a fortuna dos três homens mais ricos do mundo é superior à soma do PIB de todos os países subdesenvolvidos (incluindo o Brasil) e de seus 600 milhões de habitantes.

A Ford na Bahia: a multinacional exigiu de FHC, até o ano 2010, isenção de impostos no valor de 180 milhões de reais por ano.

A população do Planeta é de 6 bilhões de pessoas; 20% da população (1,2 bilhões) vivem entre a América do Norte e a Europa ocidental e detém em mãos: 86% do PIB mundial; 82% das exportações; 68% dos investi- mentos produtivos diretos; 74% das linhas telefônicas (inclusive no Brasil, graças à generosíssima política de privatização de FHC)”.

 

Sobre a Dívida Externa, considera Frei Betto:

Juntos, os países subdesenvolvidos devem 2,465 trilhões de dólares. Por força do pagamento de juros e amortizações dessa dívida, a cada 5 segundos morre uma criança no terceiro mundo.

A dívida externa do Brasil atinge a cifra de 233 bilhões de dólares (a interna, 519 bilhões); o país de- verá pagar em curto prazo, 23 bilhões de dólares – o equivalente à média do que obtém com as exportações anuais. Isso significa menos recursos para a saúde, a habitação, a educação, o saneamento básico, reforma agrária etc.”

 

 

 

 

KARL MARX. Contribuição à Crítica da Economia Política Martins Fontes, São Paulo, 1986.

 

“… A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estu- dos, pode formular-se resumidamente assim: na pro- dução social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais.

 

 

Em certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradi- ção com as relações de produção existentes ou, o que é sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham movido até então. De for- mas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se no seu entrave. Surge então uma época de revolução social.

A transformação da base econômica altera, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superes- trutura. Ao considerar tais alterações é necessário sempre distinguir entre a alteração material – que

se pode comprovar de maneira cientificamente ri- gorosa – das condições econômicas de produção e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste confti- to, levando-o às suas últimas conseqüências. Assim como não se julga um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio, não se poderá julgar uma tal época de trans- formação pela mesma consciência de si; é preciso, pelo contrário, explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção.

 

 

 

 

 

É por isso que a humanidade só levanta os proble- mas que é capaz de resolver e assim, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as condições materiais para o resolver já exis- tiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer. Em um caráter amplo, os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno podem ser qualificados como épocas progressivas da formação econômica da sociedade. As relações de produção burguesas são a última

forma contraditória do processo de produção social contraditória, não no sentido de uma contradição in- dividual, mas de uma contradição que nasce das con- dições de existência social dos indivíduos. No entanto, as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo as con- dições materiais para resolver esta contradição. Com esta organização social termina, assim, a Pré-História da sociedade humana…62”

 

 

 

 

Michael Lowy. (Retirado do livro do autor: Ideologias e Ciência Social. 10a.

Ed. Cortez Editora, São Paulo, 1995, pág. 11-25).

 

 

“É difícil encontrar na ciência social um conceito tão complexo, tão cheio de significado, quanto o con- ceito de ideologia. Nele se dá uma acumulação fantás- tica de contradições, de paradoxos, de arbitrariedades, de ambigüidades, de equívocos e mal-entendidos, o que torna extremamente difícil encontrar o seu cami- nho nesse labirinto.

O conceito de ideologia não vem de Marx: ele simplesmente o retomou. Ele foi literalmente inven- tado (no pleno sentido da palavra: inventar, tirar da cabeça, do nada) por um filósofo francês pouco conhe- cido, Destutt de Tracy, discípulo de terceira categoria dos enciclopedistas, que publicou em 1801 um livro chamado Eléments d’Idéologie… A ideologia, segundo Destutt de Tracy, é o estudo científico das ideias e as ideias são o resultado de interação entre o organismo vivo e a natureza, o meio ambiente. É, portanto, um subcapítulo da zoologia – que estuda o comportamento dos organismos vivos…

… Alguns anos mais tarde, em 1812, Destutt de Tracy e seu grupo, discípulos todos do enciclopedis- mo francês, entraram em conflito com Napoleão que, em discurso em que atacava Destutt de Tracy e seus amigos, os chamou de ideólogos. Para Napoleão, essa palavra já tem um sentido diferente: os ideólogos são

metafísicos, que fazem abstração da realidade, que vi- vem em um mundo especulativo.

Deste modo, paradoxalmente, Destutt e seus ami- gos, que queriam fazer uma análise científica materia- lista das ideologias, foram chamados de ideólogos por Napoleão, no sentido de especuladores metafísicos e, como Napoleão tinha mais peso, digamos, ideológico, que eles, foi a sua maneira de utilizar o termo que teve sucesso na época e que entrou para a linguagem corrente.

Quando Marx, na primeira metade do século XIX, encontra o termo em jornais, revistas e de- bates, ele está sendo utilizado em seu sentido na- poleônico, isto é, considerando ideólogos aqueles metafísicos especuladores, que ignoram a realida- de. É nesse sentido que Marx vai utilizá-lo a partir de 1848, em seu livro chamado A Ideologia Alemã. É esse o caminho tortuoso do termo: começa com um sentido atribuído por Destutt, que depois é modificado por Napoleão e, em seguida, é retomado por Marx que, por sua vez, lhe dá um outro sentido. Em A Ideologia Alemã, o conceito de ideologia apa- rece como equivalente à ilusão, falsa consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida

e as ideias aparecem como motor da vida real.

 

 

 

 

 

62 MARX, Karl. Prefácio à Crítica da Economia Política. Ver Bibliografia.

 

 

 

 

Para Marx, claramente, ideologia é um conceito pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou se refere à consciência deformada da realidade que

se dá através da ideologia dominante: as ideias das classes dominantes são as ideologias dominantes da sociedade.

 

 

 

 

Para Lenin, existe uma ideologia burguesa e uma ide- ologia proletária. Aparece, então, a utilização do termo no movimento operário, na corrente leninista do movimento comunista, que fala de luta ideológica, de trabalho ideo-

lógico, de reforço ideológico, etc. Ideologia deixa de ter o sentido crítico, pejorativo, que tem em Marx, e passa a designar simplesmente qualquer doutrina sobre a realidade social que tenha vínculo com uma posição de classe.

 

 

 

 

Assim, a palavra vai mudando de sentido, não só quando passa de uma corrente intelectual para outras, mas também no seio de uma mesma corrente de ideias: o marxismo. Há uma mudança considerá- vel de significado entre, por exemplo, Marx e Lenin.

Finalmente, há uma tentativa sociológica de pôr um pouco de ordem nessa confusão. Essa tentativa é realizada pelo famoso sociólogo Karl Mannheim em seu livro Ideologia e Utopia, onde procura distinguir os conceitos de ideologia e utopia. Para ele, ideologia é o conjunto das concepções, das ideias, representa- ções, teoria, que se orientam para a estabilização, ou

legitimação, ou reprodução, da ordem estabelecida. São todas aquelas doutrinas que têm um certo cará- ter conservador no sentido amplo da palavra, isto é, consciente ou inconscientemente, voluntária ou invo- luntariamente, servem à manutenção da ordem estabe- lecida. Utopias, ao contrário, são aquelas ideias, repre- sentações e teorias que aspiram uma outra realidade, uma realidade ainda inexistente. Têm, portanto, uma dimensão crítica ou de negação da ordem social exis- tente e se orientam para sua ruptura. Deste modo, as utopias têm uma função subversiva, uma função crítica e, em alguns casos, uma função revolucionária.

 

 

 

 

Mannheim utiliza para esse fenômeno, para este conjunto vinculado à posição das classes sociais, o termo “ideologia total”.

 

 

Deste modo, o conceito de ideologia, na obra de Mannheim, aparece com dois sentidos diferentes: ide- ologia total, que é o conjunto daquelas formas de pen- sar, estilos de pensamento, pontos de vista, que são

vinculados aos interesses, às posições sociais de grupos ou classes; ideologia em seu sentido estrito, que é a for- ma conservadora que essa ideologia total pode tomar, em oposição à forma crítica, que ele chama de utopia.

 

 

 

 

Vamos acrescentar algumas passagens deste mes- mo texto em que Löwy realiza uma análise dialética de uma visão de mundo, de uma ideologia ou de uma utopia. “A hipótese fundamental da dialética é de que

não existe nada eterno, nada fixo, nada absoluto. Não existem ideias, princípios, categorias, entidades ab- solutas, estabelecidas de uma vez para todas. Tudo o que existe na vida humana e social está em perpétua transformação, tudo é perecível, tudo está sujeito ao fluxo da história… Esse princípio dialético se aplica à natureza onde existe uma transformação perpétua,

mas existe uma diferença entre a história natural e a história humana que está muito bem resumida numa fórmula do filósofo italiano Vico, que diz o seguinte: “A diferença entre a história natural e a história hu- mana é que fomos nós que fizemos a história humana, mas não a história natural…”

Obviamente, esse princípio também se aplica às ideologias, ou às utopias, ou às visões sociais do mun- do. Todas elas são produtos sociais. Todas elas têm que ser analisadas em sua historicidade, no seu desenvol- vimento histórico… Portanto, essas ideologias ou uto-

 

 

 

pias, ou visões de mundo têm que ser desmistificadas na sua pretensão a uma validade absoluta. Uma vez que não existem princípios eternos, nem verdades ab- solutas, todas as teorias, doutrinas e interpretações de realidade têm que ser vistas na sua limitação históri-

  1. Este é o coração mesmo do método dialético, é o primeiro elemento do método e da análise dialética. Nessa consideração radical da historicidade… o próprio marxismo tem que aplicar a si próprio esse princípio, tem que considerar a si mesmo em sua transitoriedade.

 

 

 

CONTRADIÇÃO.

O princípio da totalidade como categoria me-                O terceiro elemento do método dialético é a

 

todológica, obviamente, não significa um estudo da

categoria da

Uma análise dialética

 

totalidade da realidade… A realidade é infinita, ines- gotável… Significa a percepção da realidade social como um todo orgânico, estruturado, no qual não se pode entender um elemento, um aspecto, uma di- mensão, sem perder a sua relação com o conjunto. Concretamente, no caso das ideologias, não se pode entender uma ideologia, uma utopia, uma visão so- cial de mundo, uma doutrina social, uma concepção prática da teoria social, sem ver como ela se relaciona com o conjunto da vida social, com o conjunto histó- rico do momento, isto é, com os aspectos sociais, eco- nômicos, políticos, religiosos, de classes sociais, etc.

é sempre uma análise das contradições internas da realidade. Por exemplo, em uma formação social, a análise das contradições entre forças e relações de produção ou, sobretudo, das contradições entre as classes sociais. Isso parece óbvio, mas, muitas vezes, se fala em ideologias como sendo algo con- sensual, sobretudo na sociologia acadêmica.

Na sociologia funcionalista, as ideologias são vis- tas como valores consensuais. Insiste-se muito na ideia de consenso social. Mesmo no marxismo existem cor- rentes que falam da ideologia como se fosse uma só: a ideologia dominante, a ideologia da sociedade.

 

 

 

 

Em nenhuma sociedade existe um consenso total, não existe, simplesmente, uma ideologia dominante, existem enfrentamentos ideológicos, contradições en- tre ideologias, utopias ou visões sociais de mundo con-

flituais, contraditórias. Conflitos profundos, radicais, que são, geralmente, irreconciliáveis, que não se resol- vem em um terreno comum, em um mínimo múltiplo comum.

 

 

 

 

 

É aí que se dá o divisor de águas fundamental entre a dialética de Marx e a de Hegel. É a dimen- são revolucionária da dialética marxiana contra a posição de caráter conservador e legitimador do status quo da dialética hegeliana. A isto, eu consi- dero mais importante que a diferença entre o ma- terialismo e o idealismo.

“Isto, obviamente, se aplica também à análise das ideologias e é por isso que uma análise dialética das ideologias e das utopias ou das visões de mundo tem que começar com a distinção essencial entre aquelas visões de mundo que visam manter a ordem estabe- lecida, as ideologias, e aquelas que visam ou aspiram transformá-la, que são as utopias”.

 

 

 

 

GADOTTI, Moacir. In Concepção Dialética da Educação; um estudo introdutório. 5ª ed. São Paulo, Cortez Editora, pág. 15-38.

 

 

“Origem da dialética. Na Grécia Antiga, a pa- lavra ‘dialética’ expressava um modo específico de argumentar que consistia em descobrir as contra- dições contidas no raciocínio do adversário (aná- lise), negando, a validade de sua argumentação e

to e da sociedade, ela se iniciou com Zenão de Eléia. Outro filósofo pré-socrático que está na origem da dialética é Heráclito de Éfeso. Para ele a realidade é um constante devir (vir a ser), onde prevalece a luta dos opostos: frio-calor, bem-mal, saúde-doença, etc. Um se

 

superando-a por outra (síntese).

foi con-

transformando no outro. Tudo muda tão rapidamente,

 

Sócrates

siderado o maior dialético da Grécia. Utilizando- se da dúvida sistemática, procedendo por análises e sínteses, elucidava os termos das questões em disputa, fazendo nascer a verdade como um parto no qual ele (o mestre) era apenas uma instigador, um provador e o discípulo o verdadeiro descobri- dor e criador.”

Lao Tsé,

autor do célebre livro, Tao Te King (O li- vro do Tao), é considerado o “autor” da dialética, não por ter elaborado suas leis, mas por tê-las incorporado à sua doutrina… No sentido que chegou, até nossos dias, como lógica da natureza, dos homens, do conhecimen-

diz ele, que não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio: na segunda vez o rio já não será mais o mesmo e nós mesmos já teremos também mudado.

Parmênides de Eléia

Ao contrário de Heráclito,

sustentava que o movimento era uma ilusão e que tudo era imutável.

Como vemos, a questão que deu origem à dialé- tica é a explicação do movimento, da transformação das coisas. Na visão metafísica do mundo, o univer- so se apresenta como um aglomerado de “coisas” ou “entidades distintas”, embora relacionadas entre si, detentoras, cada qual de uma individualidade própria

 

 

 

Platão,

e exclusiva, que independem das demais “coisas” ou “entidades”63. A dialética considera todas as coisas em movimento, relacionadas umas com as outras.

tural própria das determinações do conhecimento das coisas e, de uma maneira geral de tudo que é finito.”65 A dialética, segundo ele, é o momento negativo de

 

Para

a dialética era um método de as-

toda realidade, aquilo que tem a possibilidade de não

 

censão ao inteligível, método de dedução racional das ideias…

ser, de negar-se a si mesma. Entretanto, para Hegel, a razão não é apenas o entendimento da realidade como

 

Para sador da

a quem Marx chama de “o pen- Antigüidade64, a dialética era apenas auxi-

queria Kant, mas, a própria realidade: “o racional é real e o real é racional”. A ideia, a razão, é o próprio mun-

 

Aristóteles,

liar da filosofia. Ele a reduzia à atividade crítica… Não era, portanto, um método para se chegar à verdade; era apenas uma aparência da filosofia, uma “lógica do provável”.

Aristóteles conseguiu conciliar Heráclito e Parmênides com sua teoria sobre o ato e a potência: as mudanças existem, mas são apenas atualização de potencialidades que já preexistiam, mas, que ainda não tinham desabrochado. O educando seria potencial- mente educado…

No terceiro século depois de Cristo, com o ressur- gimento do platonismo, ressurge também o debate em torno da dialética. Plotino a considera uma parte da filosofia e não apenas um método…

A filosofia “oficial”, escrava da teologia, não demo- rou a condenar a dialética por desconhecer a onipotên- cia divina, comparando-a, pejorativamente, à sofística. No início da Idade Moderna, a dialética foi jul- gada inútil, na medida em que se considerava que Aristóteles já havia dito tudo sobre a lógica e nada havia a se acrescentar. A dialética limitar-se-ia ao si- logismo, uma lógica das aparências. Assim pensavam

Descartes e Kant…

A concepção dialética da história, oposta à con- cepção metafísica da Idade Média, começa a criar forma com o filósofo social e pedagogo suíço Jean-Jacques

do que evolui, muda, progride, é a história. Portanto, a história universal é, ao mesmo tempo, domínio do mutável e manifestação da razão.

Assim, Hegel chega ao real, ao concreto, partindo do abstrato: a razão domina o mundo e tem por função a unificação, a conciliação, a manutenção da ordem do todo. Essa razão é dialética, isto é, procede por unidade e oposição de contrários. Hegel retoma assim, o conceito de “unidade dos contrários” como pensava Heráclito.

Hegel concebe o processo racional como um processo dialético, no qual a contradição não é considerada como “ilógica”, paradoxal, mas como o verdadeiro motor do pensamento, ao mesmo tempo em que é o motor da história, já que a his- tória não é senão o pensamento que se realiza. O pensamento não é mais estático, mas procede por contradições superadas, da tese (afirmação) à antítese (negação) e daí à síntese (conciliação). Uma proposição (tese) não existe sem oposição à outra proposição (antítese). A primeira proposi- ção será modificada nesse processo de oposição e surgirá uma nova. A antítese está contida na própria tese que é, por isso, contraditória. A con- ciliação existe na síntese (que) é provisória na medida em que ela própria se transforma numa nova tese.

 

Rousseau. Para

todas as pessoas nascem li-

Com

Ludwig Feuerbach, a dialética ganha um

 

Rousseau,

vres e só uma organização democrática da sociedade levará os indivíduos a se desenvolverem plenamente. O indivíduo é condicionado pela sociedade. Mas, é só

novo defensor. Para Feuerbach, o homem projeta no céu o sonho de justiça que não consegue realizar na terra: “o homem pobre possui um Deus rico”. Desse

 

a partir de

que a dialética retorna como tema

modo, Deus não é senão uma projeção imaginária do

 

Hegel

central da filosofia e como filosofia. Ele a concebeu como uma “aplicação científica da conformidade às leis, inerentes à natureza e ao pensamento, a via na-

homem que se encontra despojado de algo que lhe per- tence, alienando-se. Portanto, negar a existência de Deus é afirmar-se como homem.

 

 

 

 

 

 

 

 

63 Caio Prado Junior, Dialética do conhecimento, São Paulo, Brasiliense, 1963, p. 10.

64 O Capital, Rio, Civilização Brasileira, vol. I, p. 465.

65 André Lalande. Vocabulaire technique et critique de la philosophie. Paris, P.U.F., 1960, p. 227.

 

 

 

 

 

 

A dialética de Hegel fechava-se no mundo do espírito, e Marx a inverte, colocando-se na terra, na matéria. Para ele, a dialética explica a evolução da ma- téria, da natureza e do próprio homem; é a ciência das leis do movimento, tanto do mundo exterior e como do pensamento humano”. Essa origem hegeliana do pensamento marxista é reconhecida pelo próprio Lênin que afirma nos Cadernos Filosóficos66 não se po- der compreender O Capital sem ter antes estudado e compreendido toda a Lógica de Hegel.

Para Marx e Engels os princípios da dialética he- geliana são “puras leis do pensamento”. “Era preciso evitar, afirma Leandro Konder, que a dialética da histó- ria humana fosse analisada com se não tivesse absolu- tamente nada a ver com a natureza, como se o homem não tivesse uma dimensão irredutivelmente natural e não tivesse começado sua trajetória na natureza”.

Marx não parte, como fizeram os filósofos idealis- tas, de um esquema conceitual, teoricamente constru- ído, procurando identificar a “essência”. Também, não toma como ponto de partida os fenômenos isolados em si, como o faziam os empiricistas. Marx critica essas duas posições e percorre um caminho novo.

Isso é particularmente demonstrado em O Capital. Aí Marx preocupava-se em entender o processo de for- mação histórica do modo de produção capitalista, não como se fosse uma forma acabada de relação homem-

-sociedade, mas como um fieri, um sendo. Para ele não existem fatos em si, como quer fazer crer o empiri- cismo, que se deixariam examinar de maneira neutra, desligado do processo histórico-econômico, psicológi- co e político do homem.

Não é a consciência humana, como sustenta o idealismo, nem a pura realidade, como sustenta o em- piricismo, mas é o próprio homem que figura como ser produzindo-se a si mesmo, pela sua própria ati- vidade, “pelo modo de produção da vida material”. A condição para que o homem se torne homem (porque ele não é, ele se torna) é o trabalho, a construção da sua história. A mediação entre ele e o mundo é a ati- vidade material…

 

 

 

66 V. Lénine. Cahiers philosophiques. Moscou. Ed. Du Progrès, e Paris. Ed. Sociales, 1973, p. 170

 

 

 

 

 

Marx, com isso, não chega a negar o valor e a ne- cessidade da subjetividade no conhecimento. O mundo é sempre uma “visão” do mundo para o homem, o mun- do refletido. Mas ele não tem uma existência apenas na ideia. Sua existência é real, material, independente

do conhecimento deste ou daquele homem. A dialética não é um movimento espiritual que se opera no inte- rior do entendimento humano. Existe uma determina- ção recíproca entre as ideias da mente humana e as condições reais de sua existência…

 

 

 

1º Tudo se relaciona (princípio da totalidade)

 

 

Para a dialética, a natureza se apresenta como um todo coerente, onde objetos e fenômenos são ligados entre si, condicionando-se reciprocamente. O método dialético leva em conta essa ação recíproca e examina os objetos e fenômenos buscando entendê-los numa totalidade concreta…

O pressuposto básico da dialética é que o sen-

tido das coisas não está na consideração de sua in- dividualidade, mas na sua totalidade que é, segundo Kosik, “em primeiro lugar a resposta à pergunta: o que é a realidade?” É o que Engels chama de “lei da interpenetração dos opostos”, onde tudo tem a ver com tudo, lei da interação e conexão universal, “lei da ação recíproca”.

 

 

2º Tudo se transforma (princípio do movimento)

 

 

A dialética considera todas as coisas em seu de- vir. O movimento é uma qualidade inerente a todas as coisas. A natureza e a sociedade não são entida- des acabadas, mas em contínua transformação, jamais

estabelecidos definitivamente: “a dialética não pode entender a totalidade como um todo já feito e forma- lizado”.69 É o que Engels chama de “lei da negação da negação”.

 

 

3º Mudança qualitativa (princípio da mudança qualitativa)

 

 

A transformação das coisas não se realiza num pro- cesso circular de eterna repetição, uma repetição do velho. Como é gerado o novo? Esta mudança qualitativa dá-se pelo acúmulo de elementos quantitativos que num dado momento produzem o qualitativamente novo. O exemplo

clássico é o da água: “quando está ao lume a tempera- tura eleva-se progressivamente, elevação que constitui uma variação quantitativa; mas vem o momento em que, permanecendo a temperatura constante, se produz um fenômeno qualitativamente diferente, o da ebulição”.70

 

 

4º Unidade e luta dos contrários (princípio da contradição)

 

 

A transformação das coisas só é possível porque no seu próprio interior coexistem forças opostas ten- dendo, simultaneamente, à unidade e à oposição. É o

que se chama de contradição, que é universal, inerente a todas às coisas materiais e espirituais. A contradição é a essência ou a lei fundamental da dialética…

 

 

… A coexistência dos contrários não é um absurdo lógico, ela se funda no real.

 

 

Esses princípios (ou leis) podem ser aplicados tan- to à matéria, como à sociedade humana e aos nossos próprios conhecimentos. Por isso, a Dialética poderia

ser subdividida em “três níveis”, como mostra Ernest Mandel71: 1) a Dialética da natureza, 2) a Dialética da história, 3) a Dialética do conhecimento.

 

 

 

 

 

Que conseqüências a dialética traria para a lógica, isto é, para a estrutura e funcionamento dos processos mentais?

Essa questão parece ter gerado erros grosseiros na própria história do marxismo, verdadeiros desvios “es- querdistas”, notadamente sob o stalinismo, que tentou traçar, mecanicamente, um corte epistemológico entre o que chama de “ciência burguesa” e “ciência proletária”.

Evidentemente, é preciso reconhecer com o eminente filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto, que…

 

“a lógica formal é a lógica da
  lógica dialética

 

metafísica,

assim como a

e a lógica da dialética”72.

 

 

 

 

69 Kosik. P. 49.

70 Paul Foulquié. A dialética, p. 62.

71 Introdução ao marxismo. Porto Alegre, Movimento, 1978, p. 11.

72 Ciência e Existência. Rio. Paz e Terra, 1969, p.72.

 

 

 

 

Marx distingue formalmente “método de ex- posição” de “método de pesquisa”. A exposição é conseqüência de uma pesquisa anterior das “for- mas de desenvolvimento” e das conexões existen- tes entre elas.

Marx é o primeiro pesquisador a adotar, de forma sistemática, o método dialético. “Ao estu- dar uma determinada realidade objetiva, analisa, metodicamente, os aspectos e os elementos contra- ditórios desta realidade (considerando, portanto, todas as noções antagônicas então em curso, mas cujo teor ninguém ainda sabia discernir). Após ter distinguido os aspectos ou os elementos contradi- tórios, sem negligenciar as suas ligações, sem es- quecer que se trata de uma realidade, Marx reen-

contra-a uma só unidade, isto é, no conjunto do seu movimento”.73

 

Por “método de pesquisa” Marx entende uma “apropriação em pormenor” da realidade estudada: é a análise que colocará em evidência as relações internas, cada elemento em si.

Cada objeto de análise requer uma maneira espe- cífica de abordagem determinada pelo próprio objeto; cada período histórico possui suas próprias leis. Por isso, a análise que se faz em filosofia não se empregará, automaticamente, a todas as outras ciências. A análise detalhada de uma coisa ou fenômeno evidenciará as leis particulares que regem o início, o desenvolvimento e o término de cada coisa ou fenômeno.

 

 

 

 

Dirigir-se à própria coisa: por conseguinte, análise objetiva;

 

Apreender o conjunto das conexões internas da coisa,

de seus aspectos, desenvolvimento e o movimento da coisa;

 

Apreender os aspectos e momentos contraditórios: a coisa como totalidade e unidade de contrários;

 

Analisar a luta, o conftito interno das contradições, o movimento, a tendência;

 

Não esquecer que tudo está ligado a tudo;

 

Não esquecer de captar as transições; transições dos aspectos e contradições;

 

Não esquecer que o processo de aprofundamento… é infinito;

 

(…) penetrar sempre mais profundamente na riqueza do conteúdo; apreender conexões e o movimento;

 

Em certas fases do próprio pensamento, este deverá se transformar, se superar;

modificar ou rejeitar sua forma, remanejar seu conteúdo, retomar seus momentos superados,

revê-los, repeti-los, mas apenas aparentemente, com o objetivo de aprofundá-los, mediante um passo atrás, rumo às suas etapas anteriores e, por vezes, até mesmo rumo ao seu ponto de partida, etc.

 

73 Henri Lefèbvre, O marxismo. São Paulo, Difusão Editora do Livro, 1974, p. 34.

 

 

 

 

Madalena Guasco Peixoto. Notas sobre a Introdução e Prefácio Para a Crítica da Economia Política – Karl Marx. In: Manuscritos Econômico – Filosóficos e Outros Textos Escolhidos. Os Pensadores. V. XXXV. São Paulo, Abril Cultural. Julho de 1974.

 

 

     Introdução    

 

 

 

A Introdução À Crítica da Economia Política marca o início dos apontamentos econômicos de Marx, dos anos de 1857 a 1958. Estes apon- tamentos foram publicados, em seu conjunto, pela primeira vez em 1939 em Moscou. No en- tanto a Introdução foi descoberta em 1902, en- tre os manuscritos deixados por Marx, e publi- cada pela primeira vez por Kautsky, na revista “Die Neue Zeit” em 1903.

 

Esta introdução é mencionada por Marx no Prefácio de “Para a Crítica da Economia Política”. No entanto o título “Introdução à Crítica da Economia Política “ não foi dado por Marx, mas representa o título outorgado à obra em sua primeira publicação, tornando-se depois disso seu título tradicional. O texto original não foi preparado por Marx para ser publicado. Por este mo-

 

tivo, quando deparamos com suas várias publicações encontramos palavras entre colchetes, que não fazem parte do manuscrito, mas que foram incluídas na pu- blicação para melhorar a compreensão do texto origi- nal. Encontramos ainda palavras entre parênteses, que são do próprio autor, ou traduções para o português de expressões estrangeiras contidas no texto original. A importância desta obra reside fundamental- mente na elaboração, aplicação e precisão das catego- rias do método dialético do movimento histórico trans- formado em instrumento metodológico do estudo da economia política. O que se encontra nesta Introdução será depois retomado por Marx no Capital de manei- ra mais precisa e conectada. No entanto, é somente nela que encontraremos, destacada pelo autor, uma exposição teórica do método da economia política. Se não fosse por outros elementos, somente esta expo- sição do método já tornaria esta obra fundamental.

 

 

     Prefácio          

 

 

 

A brilhante obra Para Crítica da Economia Política representa um importante marco na construção da economia política marxista, tendo sido escrita no período de agosto de 1958 a janeiro de 1959.

Engels, na resenha que escreveu para o Volk ( MEW.13,486), ressalta o significado des- te livro para o “partido proletário alemão” e o método da “dialética materialista” empregado. A realização de toda a obra, da qual aqui nos referimos apenas ao prefácio, custou a Marx

um trabalho de 15 anos, durante os quais es- tudou uma enorme quantidade de literatura sócio-econômica e elaborou as bases de sua própria teoria econômica.

 

Marx, ao escrever para Engels em 22 de julho de 1859, assinala: “No caso de que escrevas algo [sobre o livro], não deves esquecer: 1º – que o proudhonismo é aniquilado em suas bases, 2º – que exatamente na forma mais simples, a forma de mercadoria, é analisado o ca- ráter especificamente social da produção burguesa, mas

 

 

 

não se trata de forma alguma de seu caráter absoluto.” Marx refere-se neste trecho enviado para Engels à im- portância teórico ideológica da obra. [Proudhonismo:

pequenos proprietários e terem eles próprios os seus meios de produção. A critica de Marx à Proudhon as- sumiu profundidade teórica na medida que o estudo

 

liga-se a

(1809-1865). O proudhonismo di-

da economia política em geral e da economia política

 

Proudhon

fundiu-se amplamente na França. Pode-se dizer que se tratava de ideologia pequeno-burguesa, que sonhava em perpetuar a pequena propriedade privada, critican- do a grande propriedade capitalista de um ponto de vista pequeno-burguês. Propunha reformar o regime capitalista e colocar em seus fundamentos a pequena propriedade privada. Proudhon propunha entre outras coisas a organização de um Banco Popular Especial que supostamente, através do “crédito gratuito”, como ele chamava, ajudaria os operários a se converterem em

do capitalismo em particular colocaram abaixo as te- ses defendidas por Proudhon. Mas a crítica de Marx à Proudhon teve também profundo caráter ideológico. Isto porque representou um profundo embate com as ideias pequeno-burguesas defendidas na época pelos socialistas utópicos (entre os quais Proudhon), ideias estas que causavam confusão ideológica e contribuí- am para manter a classe operária dividida em escala nacional e internacional. Isto numa época na qual já se amadureciam as condições para a sua unidade.]

 

 

 

 

 

O TEXTO ESTÁ DIVIDIDO EM QUATRO PARTES:

Œ Produção;  A Relação Geral da Produção com a Distribuição, Troca e Consumo; Ž O Método da Economia Política;  Produção, Meios de Produção e Relações de Produção. Relações de Produção e Relações Comerciais. Formas de Estado e de Consciência em relação com as Relações de Produção e de Comércio. Relações Jurídicas. Relações Familiares.

 

Destaco neste fichamento duas partes deste texto: A primeira parte, denominada por Marx de Produção. Nela o autor evidencia as categorias básicas do mate- rialismo histórico dialético que darão sustentação me- todológica para os seus estudos de Economia Política.

Nesta parte elabora uma crítica teórica à Economia Política Clássica, representada por Smith e Ricardo, e a obras como O Contrato Social, de Rousseau. Marx salienta uma essencial diferença entre a sua concepção e as anteriormente citadas. Para Marx, elas cometeram um erro fundamental ao se apoiarem nas “aparências”, quando não enten- dem o indivíduo na sociedade “como um resultado histórico – porque o consideram como um indivíduo conforme à natureza -, dentro da representação que tinham de natureza humana; que não se originou historicamente, mas foi posto como tal pela nature- za. Esta ilusão tem sido partilhada por todas novas épocas até o presente.”

Uma produção material entendida da seguinte maneira: “indivíduos produzindo em sociedade, por- tanto a produção dos indivíduos determinada social- mente, é por certo o ponto de partida.”

Quando se trata de produção, trata-se de produ- ção em um grau determinado do desenvolvimento so- cial, da produção dos indivíduos sociais.

Diante disto se coloca um novo problema: é pos- sível falar em Produção Geral, quando se parte do en- tendimento de Produção em um determinado grau do desenvolvimento social? A isto Marx responde: “Por isso, poderia parecer que ao falar da produção em geral seria preciso querer seguir o processo de desenvolvi- mento e suas diferentes fases, quer declarar desde o primeiro momento que se trata de uma determinada época histórica, da produção burguesa moderna, por exemplo, que propriamente constitui o nosso tema”. Continua Marx: “Mas todas as épocas da produção têm certas características comuns. A produção em geral é uma abstração, mas uma abstração razoável, na medi

 

 

 

da em que, efetivamente sublinhando e precisando os traços comuns , poupa-nos a repetição”.

O que há de particular no processo histórico da produção material? Sobre este problema afirma Marx: “Esse caráter geral, contudo, ou este elemento comum, que se destaca através da comparação, é ele próprio um conjunto complexo, um conjunto de determinações di- ferentes e divergentes.” E continua Marx: “as determi- nações que valem para a produção em geral devem ser precisamente separadas, a fim de que não se esqueça a diferença essencial.”

Ao estudar a produção material em determinado momento histórico, deve-se compreender como os ele- mentos gerais se efetivam na produção material parti- cular, é preciso “desenvolver em outro lugar a relação entre as determinações gerais da produção, num dado grau social, e as formas particulares de produção.”

Passo a destacar agora mais o item 3 do texto em questão, intitulado O Método da Economia Política. Nele Marx não só evidencia o método aplicado ao en- tendimento do movimento dos fenômenos econômicos, como explicita porque é este o método que entende e revela de maneira cientificamente exata suas determi- nações.

Marx inicia a exposição sobre o método da se- guinte maneira: “Quando estudamos um dado país do ponto de vista da Economia Política, começamos por sua população, divisão de classes, sua repartição entre cidade e campo, na orla marítima; os diferentes ramos de produção, a exportação e a importação, a produção e o consumo anuais, os preços das mercadorias, etc. Parece que o correto é começar pelo real e pelo con- creto, que são a pressuposição, que são a base e o sujeito do ato social de produção como um todo.”

Mas aquilo que aparentemente parece o corre- to, revela-se depois de uma “observação mais atenta” completamente falso isto porque: “A população é uma abstração, se desprezarmos, por exemplo, as classes que a compõem. Por seu lado, estas classes são uma palavra vazia de sentido se ignorarmos os elementos em que repousam, por exemplo: o trabalho assalaria- do, o capital, etc. Estes supõem a troca, a divisão do trabalho, os preços etc.” … “assim, se começarmos pela população, teríamos uma representação caótica do todo, e através de uma determinação mais precisa, através de uma análise, chegaríamos a conceitos cada vez mais simples; do concreto idealizado passaríamos a abstrações cada vez mais tênues até atingirmos deter- minações as mais simples.”

Marx revela então a existência de dois métodos de es- tudo da Economia Política: “O PRIMEIRO constitui o cami- nho que foi historicamente seguido pela nascente econo- mia. Os economistas do século XVIII, por exemplo, come- çam sempre pelo todo vivo: a população, a nação, o Estado, vários Estados, etc., mas terminam sempre por descobrir, por meio da análise, certo número de relações gerais abs- tratas que são determinantes, tais como a divisão do traba- lho, o dinheiro, o valor, etc. Estes elementos isolados, uma vez mais ou menos fixados e abstraídos, dão origem aos sistemas econômicos, que se elevam do simples, tal como o trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca, até o Estado, a troca entre nações e o mercado mundial.”

Marx depois de descrever o caminho percorrido pelo primeiro método acentua as diferenças em relação ao SEGUNDO: “O ultimo método é manifestamente o método cientificamente exato. O concreto é concre- to porque é síntese de muitas determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso o concreto aparece no pensamento como processo de síntese, como re- sultado, não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação.”

A diferença entre os dois métodos é a seguinte: “No primeiro método, a representação plena volatiza-

-se em determinações abstratas, no segundo, as deter- minações abstratas conduzem a reprodução do concre- to por meio do pensamento.”

O pensamento se movimenta assim: ele se eleva do abstrato ao concreto, para se apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado. O primeiro método, ao considerar o concreto o que não é concreto mais, é abstrato; deixa de compreender as muitas de- terminações que compõem o próprio concreto. O pensa- mento deixa de entender as determinações do concreto. “O todo, tal como aparece no cérebro, como um todo de pensamentos, é um produto do cérebro pen- sante que se apropria do mundo do único modo que

lhe é possível.”

Para a consciência, pois, o movimento das catego- rias aparece como ato de produção efetivo – que recebe infelizmente apenas um impulso do exterior – , cujo resultado é o mundo, e isto é certo … na medida em que a totalidade concreta, como totalidade de pensa- mentos, como um concreto de pensamentos, é de fato um produto do pensar, do conceber; não é de modo al- gum o produto do conceito que pensa separado e acima da intuição e da representação, e que se engendra a si mesmo, mas da elaboração da intuição em conceitos”.

 

 

 

O não entendimento deste movimento próprio do pensamento, segundo Marx, fez com que Hegel caísse “na ilusão de conceber o real como resultado do pen- samento que se sintetiza em si, se aprofunda em si, se move por si mesmo.”

Utilizando as próprias palavras do autor , desta- quei neste fichamento algumas das principais ideias contidas no Texto (Introdução à crítica da Economia Política) dando ênfase em duas de suas partes: 1. A Produção e 3. O Método da Economia Política.

 

 

 

Sobre o Texto: Prefácio Para a Crítica da Economia Política

Este prefácio tem extrema importância para o entendimento do Marxismo

CONCEPÇÃO FILOSÓFICA,

em suas partes constitutivas:                                                           ECONOMIA POLÍTICA,

SOCIALISMO CIENTÍFICO.

e                                                         Neste texto Marx sintetiza o núcleo da teoria Marxista,

aponta as conclusões basilares de sua teoria da história social. O texto em questão está estruturado da seguinte maneira:

 

Em seu início Marx sintetiza como deve ser en- tendidos os seus estudos do Sistema da Economia Burguesa. “capital, propriedade fundiária, traba- lho assalariado; Estado, comércio exterior, recado mundial.” O prefácio antecede a publicação da pri- meira parte de seus estudos, representando a pri- meira parte do livro Primeiro, que trata do CAPITAL e de suas subdivisões em capítulos.

No início do texto Marx faz uma interessantíssima abordagem explicitando qual o percurso que o levou a estudar Economia Política.

Neste percurso destaca-se o trabalho por ele ela- borado de revisão crítica da Filosofia do Direito em Hegel da qual retirou em síntese as seguintes conclu- sões: “relações jurídicas, tais como formas de Estado, não podem ser compreendidas nem a partir de si mes- mas, nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas, pelo contrário, elas se enraízam nas relações materiais de vida, cuja totalida- de foi resumida por Hegel sob o nome de “sociedade civil”.”

Após ter terminado este trabalho de Crítica da Filosofia do direito em Hegel, Marx, pelas conclusões a que chegou, compreende que a anatomia da sociedade burguesa deveria ser procurada na Economia Política. Tendo como indicativo este caminho, inicia seus estu- dos em Paris, continuando-os em Bruxelas, explicita então neste prefácio a conclusão geral que serviu de fio condutor a estes estudos.

Passarei agora, utilizando as palavras do autor, a destacar algumas das interfaces desta grande conclusão geral: “Na produção social da própria vida, os homens

contraem relações determinadas, necessárias e indepen- dentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvi- mento de suas forças produtivas materiais.”

“A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência”.

“Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que deter- mina sua consciência”.

Sobre o movimento dialético da sociedade, mo- vimento este que constitui o seu processo histórico, Marx conclui: “Em uma certa etapa de seu desenvol- vimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que nada mais é do que sua expres- são jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais aquelas até então tinham se movido”. De maneira que: “De formas de desenvolvimento das forças produ- tivas estas relações de produção se transformam em seus grilhões. Sobrevem então uma época de revolução social”.

Quando ocorre esta contradição coloca-se na pau- ta histórica a necessidade de transformação de uma dada formação social. “Uma formação social nunca perece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais ela é suficiente- mente desenvolvida, e novas relações de produção mais adiantadas jamais tomarão o lugar antes que suas condições materiais de existência tenham

 

 

 

sido geradas no seio mesmo da velha sociedade. É por isso que a humanidade só se propõe as tarefas que pode resolver, pois, se considera mais atenta- mente, se chegará à conclusão de que a própria ta- refa só aparece onde as condições materiais de sua solução já existem, ou, pelo menos, são captadas no processo de seu devir”.

 

Marx descreve da seguinte maneira o pro- cesso de transformação social: “Com a transfor- mação da base econômica, toda a enorme supe- restrutura se transforma com maior ou menor rapidez. Na consideração de tais transformações é necessário distinguir sempre entre a trans- formação material das condições econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa veri- ficação da ciência natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo as formas ideológicas pelas quais os ho- mens tomam consciência deste conftito e o con- duzem até o fim”.

 

Marx termina o prefácio relatando o intercâmbio de ideias que manteve com Engels, de grande impor- tância no desenvolvimento de seus estudos, destaca o Manifesto do Partido Comunista escrito conjuntamen- te com Engels; o Discurso sobre o livre – comércio; Miséria da Filosofia e Trabalho assalariado e Capital como importantes obras através das quais se explici- ta, de maneira científica, os pontos decisivos de sua concepção teórica.

 

 

 

Que aqui se afaste toda a suspeita. Que neste lugar se despreze todo o

(parafraseando Dante Alighieri)

 

 

 

 

Algumas questões fundamentais marcaram este intenso debate teórico. Destacam-se as seguintes ideias:

  1. É possível o homem conhecer a natureza e a sociedade?
  2. Como se dá o processo de produção do conhecimento?
  3. Como ocorre o processo de transformação histórica?
  4. Qual a relação entre a objetividade

e a subjetividade no movimento histórico social?

 

 

Na história das ideias esta não foi a primeira vez em que estas questões foram colocadas como centrais. No entanto, o que neste período havia de novo era o contexto histórico no qual elas estavam sendo reco- locadas e, dentro deste contexto, a nova capacidade adquirida em respondê-las.

Em conjunto, elas compõem questões de caráter epistemológico e as respostas que lhes foram formula- das representou um grande salto qualitativo no campo teórico e prático.

A luta teórica na modernidade se produziu como parte integrante da luta de classes, representando pri- meiramente o antagonismo entre a velha sociedade feudal e a nova sociedade capitalista que se erguia po- derosamente. Depois passou a expressar os novos anta- gonismos que a sociedade burguesa produziu.

Por este motivo, a modernidade, que é apresenta-

da pela ideologia dominante como monolítica, não foi. O que constituiu o moderno foi o contraditório.

Marx e seu parceiro Engels são herdeiros e cons- trutores da modernidade. Dela participaram colhendo os avanços científicos e teóricos e criticando as con- cepções produzidas com base ideológica dominante. Deste movimento resultou a única teoria conseqüente- mente crítica da sociedade burguesa.

O marxismo se produziu, assim, como parte e crí- tica da modernidade.

Os textos A Introdução à crítica da Economia Política e o Prefácio para a crítica da Economia Política são basilares desta complexidade teórica produzida por Marx. Neles Marx descreve a trajetória de sua produção teórica, situa os interlocutores e as ideias com quem debate, nos dando uma panorâmica da modernidade em toda sua fertilidade.

 

 

 

Nestes textos Marx construiu uma potente e crítica teoria da história, contribuindo para o desenvolvimento da epistemologia moderna com a estruturação do método mais avançado de conhecimento, o materialismo dialético, tornado por ele também instrumento do estu- do da economia e da história social.

O século XX incorporou e desenvolveu o debate da modernidade. A luta de ideias de forma atualizada em suas bases manteve os mesmos antagonismos. O novo século foi marcado por um desenvolvimento do sistema capitalista e pela construção das primeiras experiên- cias socialistas e, estas, sendo palco histórico também da produção de ideias que se desenvolve no sentido de uma avaliação crítica destas experiências.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sugestões de

FILMES

 

 

  • Fahrenheit 11 de Setembro (EUA – 2004)

 

 

DIREÇÃO: Michel Moore

RESUMO: Numa época de guerra, em que o mun- do expressa um sentimento anti-imperialista, o filme Farenheit 11 de setembro é uma bomba para George W. Bush. Isso explica o sucesso no Festival de Cannes: os mais de vinte minutos de aplausos e o prêmio Palma de Outro.

Mas Michael Moore não fez somente um filme con- tra a guerra e contra Bush. É preciso talento para mos- trar a cena do 11 de Setembro sem a imagem das torres e sem dizer uma palavra e, ainda assim, mostrar mais do que toda a imprensa.

O nome remete-se ao livro de Ray Bradbury, Farenheit 451, de 1953, que François Truffaut trans- formou em filme em 1966. o livro de Bradbury fala de um mundo dominado por uma organização totalitária que queimava livros, sendo que a temperatura neces- sária para isso é de 451 graus da escala Farenheit. A resistência consistia em decorar livros e divulgá-los.

Da mesma forma que na história da Farenheit 451, Moore divulga em Farenheit 11/9 as informações que o poder quer ocultar. É a temperatura em que Moore faz

a verdade arder.

Um exemplo é a cena em que Bush permanece lendo o livro infantil Minha Cabra de Estimação em uma escola por mais de sete minutos, após saber que a primeira torre do Wold Trade Center havia sido atacada. Moore fala da fraude nas eleições e mostra a vergonho- sa cena de posse, com manifestantes gritando que era fraude e ovos sendo arremessados no carro de Bush. As relações comerciais que a família Bush mantinha com a família Bin Laden, por décadas, também são escancara- das. Nos dias seguintes ao 11 de Setembro, o documen- tário mostra que ninguém podia voar de avião, mas a Casa Branca liberou jatos para retirar 24 membros da família Bin Laden dos EUA.

Fica claro que o maior beneficiário do ataque de 11 de Setembro foi Bush. Moore mostra nos rostos das pessoas a disseminação do medo e como esse medo manteve Bush no poder.

O filme possui um importante papel político in- ternacional e uma inegável qualidade cinematográfica. Como se explicaria o público rir num filme que fala sobre os horrores de uma guerra?

 

 

  • A Classe Operária Vai ao Paraíso (Itália – 1971)

 

 

DIREÇÃO: Elio Petri

RESUMO: Lulu é um operário metalúrgico, que perde um dedo em acidente de trabalho e é envolvi- do em movimento de protesto. Descobre assim a vida sindical. Ele divide-se entre as tentações da sociedade

 

  • A Lista de Schindler (EUA – 1993)

de consumo e as convocações da esquerda tradicional, numa radiografia do impasse ideológico de muitos tra- balhadores. Ganhou o prêmio David di Donatello 1972 de melhor filme, além da Palma de Ouro no Festival de Cannes 1972.

 

 

 

 

DIREÇÃO: Steven Spielberg

RESUMO: Vencedor de 7 Oscars e baseado no livro de Thomas Keneally o filme mostra a vida e a trajetória do industrial tcheco Oskar Schindler. Ao comprar em 1939 uma fábrica de esmaltados qua- se falida, na Polônia dominada pela Alemanha de Hitler, Schindler usou suas boas relações com altos funcionários nazistas, para recrutar trabalhadores

entre prisioneiros judeus do gueto da Cracóvia, pas- sando a fornecer produtos para o exército alemão. Quando os nazistas iniciam a “solução final” (exe- cução em massa dos judeus), Schindler intercede junto ao comandante Amon Goeth, subornando ou- tros oficiais e garantindo tratamento diferenciado para seus operários, salvando-os dos campos de ex- termínio.

 

104 • Introdução à Sociologia

 

  • Viva Zapata! (EUA – 1952)

 

 

DIREÇÃO: Elia Kazan

RESUMO: Filme que acompanha a trajetória do líder revolucionário mexicano Emiliano Zapata, desde que era um fazendeiro lutando por seus direitos até se tornar presidente do México. O roteiro (que abre mão de retratar, fielmente, acontecimentos e personagens históricos) concentra o seu foco na corrupção causa-

da pelo poder naqueles que o detêm. Destaque para a cena em que o presidente Zapata repete, com seus ex-

-companheiros, as mesmas atitudes que seu antecessor tomou com ele próprio, quando era um dos fazendei- ros que reclamava justiça. Grandes atuações de Marlon Brando (Zapata) e Anthony Quinn (como seu irmão), vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante.

 

 

  • O Nome da Rosa (Itália/França/Alemanha – 1986)

 

 

DIREÇÃO: Jean Jacques Annaud

RESUMO: Estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa idade média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma

 

  • Zona de conftito (EUA – 2006)

imensa biblioteca, onde poucos monges têm acesso às publicações sacras e profanas. A chegada de um mon- ge franciscano, incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da santa inquisição.

 

 

 

 

DIREÇÃO: Ronit Avni, Julia Bacha

RESUMO: Um colono israelita, um ex-prisioneiro palestino, uma mãe israelita em luto e um irmão pales- tino em luto: estas quatro figuras reais arriscam suas vi-

 

  • Baile Perfumado (Brasil – 1996)

das e suas posições públicas com o intuito de promover um movimento que põe fim ao sangrento conflito Israel/ Palestina. Nessa jornada, eles irão a lugares desconheci- dos, confrontando-se com o ódio em cada comunidade.

 

 

 

 

DIREÇÃO: Paulo Caldas e Lírio Ferreira

RESUMO: Homem de confiança de Padre Cícero, o fotógrafo árabe Benjamin Abrahão, parte de Juazeiro, no Ceará, nos anos 30, para levantar recursos e filmar

Lampião e seu bando. Graças à sua habilidade para estabe- lecer contatos, Benjamim localiza o cangaceiro e registra o cotidiano do grupo. O filme foi proibido pela ditadura do governo de Getúlio Vargas, durante o Estado Novo.

 

 

  • Casanova e a Revolução (Itália – 1982)

 

 

DIREÇÃO: Ettore Scola

RESUMO: Belo filme que retrata a Revolução Francesa. Na verdade, retrata os diversos olhares da- quele momento em relação à revolução. A Revolução Francesa se iniciou em 1789, momento de grave crise socioeconômica no país e de apogeu das ideias ilumi- nistas. Tse auto-proclama a “Assembleia Constituinte” e lidera o processo revolucionário. O rei, acuado, pede

para que seus aliados do clero e da nobreza participem da Assembleia, mas, não consegue evitar a ação po- lítica liderada pela burguesia, nem a mobilização das camadas populares, percebidas, principalmente, com a Tomada da Bastilha, com as revoltas camponesas que ficaram conhecidas como o “Grande Medo” e com a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

 

 

  • Central do Brasil (Brasil – 1998)

 

 

DIREÇÃO: Walter Salles

RESUMO: O filme retrata a vida de Dora e Josué. Ela, uma professora aposentada que ganha a vida es- crevendo cartas para analfabetos, na maior estação de trens do Rio de Janeiro, (Central do Brasil). Ele, um ga- roto pobre que, com oito anos de idade, perde sua mãe no Rio de Janeiro e sonha com uma viagem ao Nordeste para conhecer o pai.

Dora conhece Josué, que após a perda da mãe fica perdido e entregue às várias formas de violência urba- na típicas de uma cidade grande, num país subdesen- volvido. Após um grave acidente, onde Josué quase foi vítima de uma tentativa de tráfico para o exterior, Dora rendeu-se ao apelo do menino e o acompanhou em busca de seu pai e irmãos numa longa viagem para o sertão da Bahia e de Pernambuco.

 

 

  • Em nome do Pai (Irlanda/Grã-Bretanha/EUA – 1993)

 

 

DIREÇÃO: Jim Sheridan

RESUMO: Em 1874, um atentado a bomba pro- duzido pelo IRA (Exército Republicano Irlandês) mata cinco pessoas num pub de Guilford, arredo- res de Londres. O jovem rebelde Gerry Conlon e

três amigos são presos e condenados pelo crime. Giuseppe Conlon, pai de Gerry, tenta ajudar o filho e também é condenado, mas pede ajuda à advogada Gareth Peirce, que investiga as irregularidades do caso.

 

 

 

  • Feios, Sujos e malvados (Itália – 1976)

 

 

DIREÇÃO: Ettore Scola

RESUMO: Giacintto (Nino Manfredi em uma de suas melhores atuações) vive com a mulher, dez filhos e vários parentes num barraco de uma favela na peri- feria de Roma. É uma descrição impiedosa da miséria

material e moral dos cidadãos mais carentes da socie- dade. Ettore Scola, que aqui explora seu lado satírico, intercala momentos grotescos e de humor, entre a po- esia e o drama. Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes 1976.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Indicações

Bibliográficas

 

 

Indicações Bibliográficas

 

 

  • BOFF, Ética da Vida. Editora Letraviva, Brasília, 1999.

              . Ecologia, Grito da Terra, Grito dos Povos. 3a. Edição. Editora Ática, São Paulo, 1999.

              . O despertar da água: o dia -bólico e o sim -bólico na construção da realidade.

11a. Edição. Editora Vozes. Petrópolis, 1999.

  • CAPRA, O Tao da Física – um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental. Editora Cultrix, São Paulo, 1999.

              . O Ponto de Mutação: a ciência, a sociedade e a cultura. Cultrix. São Paulo, 1981.

              . A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Cultrix, São Paulo, 1997.

  • CARDOSO, Miriam O mito do método. PUCSSRJ, Rio de Janeiro, 1972.
  • CARVALHO, Alba Maria Pinho A Questão da Transformação e o Trabalho Social Uma análise gramsciana. 2a. Edição, Cortez Editora, São Paulo, 1986.
  • CHAUI, Convite à Filosofia. Editora Ática, 5a. Ed. São Paulo, 1995.
  • COHEN, Percy Teoria Social Moderna. 2ª Edição. Zahar Editores, Rio de Janeiro.
  • DURKHEIN, Émile. As Regras do Método Sociológico. Martins Fontes, São Paulo,
  • FERRARI, Alfonso Fundamentos da Sociologia. McGraw-Hill, São Paulo, 1983.
  • FOUCAULT, A vontade de saber. Graal Ed. Rio de Janeiro, 1984.
  • FREI BETTO. ONU Reprova o Brasil e Censura a Globalização. In Caros Amigos 30, setembro/1999.
  • FREIRE, Educação e Mudança, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979.

              . Educação como Prática de Liberdade. 23a. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1999.

              . Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1975.

              . A Importância do Ato de Ler. Cortez/Autores Associados, São Paulo.

  • GADOTTI, Pedagogia da Práxis.

              . Educação e Poder. Introdução à pedagogia do conflito. 11a. Ed. Cortez Ed. São Paulo, 1998.

              . Concepção Dialética da Educação. 5a. Ed. Cortez Editora, São Paulo, 1987.

  • GEERTZ, A Interpretação das Culturas. Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1990.
  • GEERTZ, O Saber Local. Editora Vozes, Petrópolis, 1998.
  • GRAMISCE, Alguns temas da questão meridional. Temas de Ciências Humanas 1, 1977.

              . Cartas de Cárceres. Trad. Noêmia Spinola. 2a. Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1978.

              . Concepção Dialética da História. Trad. Carlos N. Coutinho. 3a. Ed. Civilização Brasileira, 1979.

  • HOBSBAWM, Eric A Era das Revoluções (1789-1848), 9a. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1977.

              . A Era dos Extremos – breve século XX (1914-1991). 2a. Edição, Campanha das Letras, SP, 1998.

 

 

 

 

 

 

 

  • IANNI, Octávio. A Sociologia e o Mundo Aula Inaugural. Unicamp, Campinas, IFCH, março-1988, mimeo.

              . A Crise de Paradigma em Sociologia. IFCH, UNICAMP, Capinas, 1992.

              . Globalização: Novo Paradigma das Ciências Sociais. In Adorno, Sérgio (org.). A Sociologia entre a Modernidade e a Contemporaneidade. Ed. da Universidade, Porto Alegre, 1993.

  • LAKATOS, Eva Sociologia Geral. 4a. Edição, Ed. Atlas, São Paulo, 1982.

              . Desafios da Globalização. Editora Vozes, Petrópolis, 1998.

  • LÊNIN, I. Las Clases Sociales. Una gran iniciativa.

Obras escogidas (Em doce tomos), Vol. X Ed. Progreso, Moscú, 1977.

  • LOWY, Método Dialético e Teoria Política. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1978.

               Ideologias e Ciência Social: Elementos para uma análise marxista. 10a. Cortez, São Paulo, 1985.

  • MACHADO, Ciência e Saber: A Trajetória da Arqueologia de Foucault. 2a. Edição. Graal Editora, Rio de Janeiro, 1981.
  • MARX, Contribuição à Crítica da Economia Política. Martins Fontes, São Paulo, 1986.
  • MARX, K e ENGELS, A Ideologia Alemã (Feuerbach). 6a. Ed. Hucitec, São Paulo.

              . Teses sobre Feuerbach. Tese XI, 1987.

              . Manifesto do Partido Comunista. Editora Democracia Proletária. Brasil, 1978.

  • MORIN, Ciência com Consciência. Bertrand Brasil, 2a. Ed. Rio de Janeiro, 1998.
  • PASSERON. Jean-Claude. O Raciocínio Sociológico.

O espaço não-popperiano do raciocínio natural. Vozes, Petrópolis, 1995.

  • PLATÃO. A República. Editora Bauru, SP, 1994.
  • SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus (Livros I a X), Edição. Editora Vozes, Petrópolis, 1999.

              . A Cidade de Deus (Contra os pagãos). – Parte II (Livros XI a XXII).

3a. Edição. Editora Vozes, Petrópolis, 1999.

  • SKIDMORE, Pensamento Teórico em Sociologia. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1976.
  • TAVARES DOS SANTOS, José A Construção da Viagem Inversa. In Cadernos de Sociologia, Porto Alegre, v.3, n. 3, p. 55-88, jan./jul. 1991).
  • THIOLLENT, Crítica Metodológica, Investigação Social e Enquete Operária. Coleção. Teoria e História n. 6. São Paulo, Polis, 1981.
  • WEBER, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 12a. Ed. Liv. Pioneira, São Paulo, 1997.

              . Economia e Sociedade. Vol. 1. 3a. ed. UNB, Brasília, 1994.

 

 

Bibliografia do projeto de pesquisa

 

BACHELARD, Gaston. “Le rationalisme appliqué”. In: BOURDIEU, P. & CHAMBOREDON, J.C. & PASSERON, J. Le métier de Sociologue. Paris, Mouton, 1986, p. 117-120. O livro O Ofício do Sociólogo já se encontra publicado em Espanhol e em Português.

 

BACHELARD, Gaston. La formation de l’esprit scientifique. Paris, Vrin, 13. Ed. 1986. “A formação do espírito científico” foi publicado em Espanho e em Português.

CARDOSO, Mirian Limoeiro. O mito do método. Ver bibliografia geral.

 

CARDOSO, Ruth (org.). A aventura antropológica. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1986.

 

FERNANDES, A sociologia no Brasil. Vozes, Petrópolis, 1976.

              . Fundamentos Empíricos da Explicação Sociológica. 2a. Ed. Nacional, São Paulo, 1967.

 

KAPLAN, Abraham. A conduta na pesquisa. EDUSP/Herder, São Paulo, 1969.

 

NUNES, Edson de Oliveira (org). A aventura sociológica. Zahar, Rio de Janeiro, 1978.

 

 

Contribuição bibliográfica ao estudo do novo paradigma

 

 

  • Aristóteles. A Política. Editora Bauru, SP, 1995.
  • Aurélio Cem Páginas para o Futuro, Ed UNB, Brasília, 1981.
  • Edgar Ciência com consciência. Tradução de Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio. 2a Ed. Sindicato
  • Nacional de Editores de Livro, Rio de Janeiro,
  • Félix Três ecologias (As), Papirus Editora, Campinas, SP, 1993.
  • Francisco Ecopedagogia e Cidadania Planetária – Editora Cortez, São Paulo, 1999.
  • Pedagogia para el desarrolllo Heredia. Costa Rica. Consejo de la Tierra/ICEA- LA/ILPEC EditoriaIlpec, 1994.
  • Fritjof Capra:

              . O Tao da Física, Ed. Cultrix, São Paulo, 1995.

              . Ponto de Mutação, Ed. Cultrix, São Paulo, 1995.

              . Teia da Vida, Ed. Cultrix, São Paulo, 1997.

  • James Olhando pela Terra, Editora Gaia, São Paulo, 1998.
  • Jeremy O Século da Biotecnologia, Makron Books, São Paulo, 1999.
  • John O Fim da Ciência, Companhia das Letras, São Paulo, 1998.
  • Leonardo Ecologia – Grito da Terra, Grito dos Pobres. 3a. Ed. Editora Ática, São Paulo, 1999.
  •              . Ética da Editora Letraviva, Brasília, 1999.
  •              . Águia e a Galinha: uma metáfora da condição 28 ed. Editora Vozes, Petrópolis, 1997.

              . O Despertar da Águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade. 11a. Ed. Editora Vozes, Petrópolis,1999.

  • Marcelo A Dança do Universo, Companhia das Letras, São Paulo, 1997.
  • Nicolas Witkowski (Coordenador). Ciência e Tecnologia Hoje, Editora Ensaio, São Paulo,
  • Niels Física Atômica e Conhecimento Humano, Ed. Contraponto, Rio de Janeiro, 1995.
  • Paul Devereux e Gaia, la Tierra Inteligente, Ed. Martinez Roca, Barcelona, 1991.
  • Platão. A República. Editora Edipro, Bauru, SP,
  • Rubem Filosofia da Ciência, Editora Brasiliense, São Paulo, 1981.
  • Ubiratan D’Ambrosio. A Era da Consciência, Fundação Peirópolis, São Paulo, 1997.
  • Wener Parte e Todo, Ed. Contraponto, Rio de Janeiro, 1996.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Projeto Gráfico

Esta publicação foi elaborada em 21 x 27,5 cm, com mancha gráfica de 18 x 23,5 cm,

fonte ITC Officina Serif 11 pt, papel offset 90g, P&B, impressão offset, encadernação colado quente.

 

Edição Impressa

Tiragem: 1.000 exemplares

Supernova Soluções Gráficas e Editora Julho de 2014

 

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