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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

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GEOVANI PAULINO OLIVEIRA GERSON PIRES DE ARAÚJO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2ª EDIÇÃO

EGUS 2014

 

INTA – Instituto Superior de Teologia Aplicada

PRODIPE – Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica

 

 

 

Diretor Presidente das Faculdades INTA

Oscar Rodrigues Júnior

 

Pró-Diretor de Inovação Pedagógica

Prof. Pós Doutor João José Saraiva da Fonseca

 

Coordenadora Pedagógica e de Avaliação

Profª. Sônia Henrique Pereira da Fonseca

 

Equipe de Pesquisa e Desenvolvimento de Projetos Tecnológico e Inovadores para Educação

 

Coordenador

Anderson Barbosa Rodrigues

 

Analista de Sistemas Mobile

Francisco Danilo da Silva Lima

 

Analista de Sistemas Front End

André Alves Bezerra

 

Analista de Sistemas Back End

LuisNeylor da Silva Oliveira

 

Técnico de Informática / Ambiente Virtual

Luiz Henrique Barbosa Lima

Rhomelio Anderson Sousa Albuquerque

Equipe de Produção Audiovisual

 

Roteirista

Arnaldo Vicente Sá

 

Gerente de Produção de Vídeos

Francisco Sidney Souza Almeida

 

Edição de Áudio e Vídeo

Francisco Sidney Souza Almeida José Alves Castro Braga

 

Gerente de Filmagem/Fotografia

José Alves Castro Braga

 

Operador de Câmera/Iluminação e Áudio

José Alves Castro Braga

 

Desenhista/Ilustrador

Juliardy Rodrigues de Souza

 

Designer Gráfico

Marcio Alessandro Furlani Cícero Romário Rodrigues

 

Assesoria Pedagógica/Equipe de Revisores Sonia Henrique Pereira da Fonseca Anaisa Alves de Moura

Evaneide Dourado Martins

 

Gerente de Execução de Projetos

Anaisa Alves de Moura

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • A Filosofia

Filosofia: Por que e para que?…………………………………… 21

Achegando-se à Filosofia…………………………………………. 29

A especificidade do saber filosófico…………………………… 31

Diversas visões de Filosofia………………………………………. 34

  • Os grandes paradigmas da filosofia na história

O paradigma do ser………………………………………………….. 41

Sócrates…………………………………………………………. 48

Platão……………………………………………………………. 50

Aristóteles……………………………………………………… 53

Pensamento Cristão…………………………………………………. 55

Patrística……………………………………………………….. 55

Escolástica……………………………………………………… 56

O paradigma da consciência……………………………………. 57

Renascença……………………………………………………. 57

Reforma…………………………………………………………. 59

Racionalismo…………………………………………………. 60

 

Empirismo………………………………………………………… 60

Iluminismo……………………………………………………….. 62

O paradigma da linguagem………………………………………… 65

Idealismo………………………………………………………….. 65

Positivismo……………………………………………………….. 66

Ecletismo Filosófico………………………………………………………. 67

Século XX………………………………………………………….. 67

Intuicionismo……………………………………………………. 68

Fenomenologia…………………………………………………. 68

Existencialismo………………………………………………….. 68

Pós-Modernismo……………………………………………….. 70

A filosofia e seus campos de conhecimento

A Ontologia e Axiologia……………………………………………….. 76

A Filosofia Prática…………………………………………………………. 80

Estética……………………………………………………………… 82

Arte………………………………………………………………….. 82

 

 

Leitura Obrigatória…………………………………………………………………………….. 84

Saiba mais……………………………………………………….. 86

Revisando……………………………………………….. 88

Autoavaliação…………………………………………. 92

Bibliografia…………………………………………….. 94

Bibliografia da Web……………………………………….. 96

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Geovani Paulino Oliveira

 

Graduado em Filosofiapela UVA e Mestre em Filosofia pela UECE. Atualmente é coordenador adjunto do curso de Filosofia na UVA e Professor das Faculdades INTA. Tem experiência na área de Filosofia, atuando principalmente nas seguintes temáticas: Angústia, Filosofia da Existência, Filosofia Contemporânea, Teoria Crítica, Dialética, Memória e Identidade.

 

 

 

 

 

Gerson Pires de Araújo

 

Gerson Pires de Araújo é pastor e professor, exercendo suas atividades como educador por mais de meio século, especialmente nas áreas de Filosofia e Psicologia. Destaca-se também em outras atividades como tradutor, palestrante, maestro e conselheiro matrimonial.

Bacharel em Teologia e Letras, licenciado em Letras e Pedagogia, Mestre em Educação pela Andrews University,

USA, e pela Universidade de São Paulo (USP). É doutorando em Liderança pela Andrews University, tendo trabalhado no UNASP ( Centro Universitário Adventistas de São Paulo) por 37 anos. Atua na área de educação de jovens, procurando proporcionar-lhes uma cosmovisão de acordo com a realidade presente e preparando-os para um futuro mais promissor. Membro fundador da Sociedade Criacionista Brasileira, também se dedica a apresentar o criacionismo como a alternativa mais lógica e coerente para explicar a origem da vida humana e do mundo.

Atualmente exerce suas atividades como capelão e professor nas Faculdades INTA, em Sobral, Ceará.

 

Palavra do Professor-Autor

Caro estudante,

Para adentrarmos no mundo da filosofia é necessário nos distanciar dos pré- conceitos que, por vezes, associam a filosofia à ideia do pensar “mais difícil”. A filosofia, se pensada enquanto processo de compreensão do conhecimento à disposição de cada um de nós, está ao alcance de todos.

Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o homem desenvolveu um estilo de vida no qual passou a se submeter e depender do que estas produzem. A maioria das pessoas passa a ter uma existência mecânica, na qual o cotidiano se desvela de maneira automática.

Conectados ao momento presente, ao “aqui e agora”, não resta tempo para analisarmos o significado de nossa existência neste mundo e para a procura de respostas a questionamentos como: De onde surgiu o homem? Por que o homem existe? Qual o significado da existência do mundo e da vida? Somos nós produtos de uma inteligência ou obra cega do acaso? O que é a vida? O que é de fato importante para nossa existência? Há, ou não, significado para aquilo que o homem procura realizar? Está certo tudo o que o ser humano faz? O que é bem, o que é mal? O que é verdade, o que é mentira? Como sei que posso confiar no que a minha mente pensa? Existe realidade ou as coisas são simples aparências? Como posso confiar no que vejo, sinto, ouço? Posso conhecer e ter certeza de que sei alguma coisa?

Esses mesmos questionamentos sobre o mundo e o universo foram colocados pelos gregos e a partir das suas indagações e inquietações surgiu a filosofia.

Bom estudo!

 

Os autores.

 

 

 

O estudo de filosofia aconselha o comprometimento da reflexão, da pesquisa e da busca incessante pela informação que explica os fatos existentes no âmbito das relações moldadas com a natureza, com outros homens e consigo mesmo. Este conhecimento é abrangido em toda a ação humana.

A filosofia resulta de uma ruptura do saber já existente com o saber a ser adquirido, haja vista ela problematizar e convidar à discussão. O estudo de filosofia é essencial porque oferece as condições teóricas para o desenvolvimento da consciência crítica pela qual a experiência vivida é transformada

em experiência compreendida. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos. Procura a inteligibilidade numa dinâmica que considera o saber enquanto alicerce para a transformação. Exige coragem, pois descobrir a verdade obriga o enfrentamento do poder e suas diversas formas de manifestação como também aceitação do desafio à mudança.

As afirmações anteriores foram sintetizadas do prefácio da obra “Antologia de Textos Filosóficos”. Desse modo, possibilita aos estudantes ter afinidade com os textos dos filósofos. Diante do exposto, convidamos você, prezado estudante, a ler essa obra e refletir sobre a importância da filosofia para que possamos atribuir sentido à rede de significações relacionadas aos objetos que percebemos.

 

JAIRO, Marçal. (org.). Antologia de Textos Filosóficos. SEED – Paraná: – Curitiba: 2009.

 

 

 

Você é convidado a conversar com os autores dos livros indicados. Leia a obra Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, na qual a autora aborda o domínio da Filosofia para o ser humano.

 

O saber filosófico é uma aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana. A reflexão filosófica possibilita aprender a partir da problematização da realidade social como ponto de partida e como ponto de chegada das experiências da vida diária, além de advertir o entendimento das situações habituais da vida humana. Esta mesma ponderação também adverte o entendimento das situações habituais da vida humana quando revelamos as características da filosofia.

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2006.

 

A segunda leitura recomendada é a da obra Vivendo a Filosofia, de Gabriel Chalita, a qual traz questões como: De onde provêm todas as coisas? O que é o pensamento, o bem, o belo, o amor? Estes são questionamentos que a filosofia desde a Antiguidade tem investigado. Este livro, por meio de uma linguagem clara, demonstra a habilidade do autor ao dar nova vida aos pensamentos que compõem a base da tradição ocidental e permanecem sendo ferramentas benéficas para compreendermos o mundo contemporâneo.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática, 2008.

 

 

 

A problematização idealiza questionamentos incompreensíveis de atitudes humanas. No cenário do cotidiano acontecem diferentes situações em que o SER HUMANO é sujeitado a afirmar, negar, desejar, aceitar ou recusar coisas, pessoas e situações. As pessoas estão constantemente se questionando e, por esta razão, almejam respostas. Diante dessa situação, a expectativa é a de que alguém, dispondo de um relógio ou calendário, venha a responder questionamentos com exatidão.

A partir do momento que perguntamos e aceitamos a resposta, confiamos que o tempo existe e que ele é medido por horas e dias. Muitos dizem que quando perguntamos estamos filosofando. Você talvez já se perguntou: O que é o homem? Para que serve o homem? A ciência melhora o homem? A espécie humana tem evoluído para melhor? Afinal, a filosofia serve para quê? Por que devo estudar filosofia? O que estuda a filosofia? Qual o seu significado? Por meio da filosofia é possível transmitir conhecimentos?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1

A FILOSOFIA

 

 

 

Conhecimentos

Conhecer o conceito de filosofia a partir de diversos posicionamentos teóricos; Compreender o processo de construção do pensamento filosófico;

Compreender as diversas facetas em que o conhecimento humano se desenvolve.

 

Habilidades

Identificar posturas críticas sobre questões essenciais ao mundo e à vida no

contexto sociocultural em que está inserido;

Reconhecer os fundamentos filosóficos oriundos de qualquer acontecimento, evento, fenômeno ou pensamento de questões relacionadas ao conhecimento.

 

Atitude

Saber ampliar a ação da filosofia na construção do conhecimento a partir de novos olhares.

 

 

 

Filosofia: Por que e para que?

 

Pensar filosoficamente é uma aventura – uma viagem aos limites do pensamento e do entendimento. (LAW, 2008, p. 10)

 

De fato, a filosofia pode ser considerada uma aventura, é um lançar-se no desconhecido, no novo, no que não estamos acostumados. Ao mesmo tempo é um convite a abandonarmos nossas convicções, crenças, nos despojarmos de nossas seguranças, das verdades que nos foram transmitidas. Portanto, filosofar é um ato de coragem que leva ao crescimento intelectual, à reflexão autônoma. Sim, autonomia! Essa, talvez, seja, hoje, a principal tarefa da filosofia: fazer-nos pensar de modo autônomo, crítico, reflexivo, numa época em que a mídia, os grupos religiosos, os partidos políticos, as instituições de ensino etc., nos enquadram numa forma rígida, cristalizada, de pensar. Tal tarefa nos remete ao filósofo alemão Immanuel Kant, que nos leva a pensar sobre o esclarecimento no texto Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento? escrito em dezembro de 1783, mas que nos é bastante atual. Vamos ler um trecho do referido texto:

 

Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é responsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de um outro. É a si próprio que se deve atribuir essa minoridade, uma vez que ela não resulta da falta

para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere aude! Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é portanto a divisa do Esclarecimento.

A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma parte tão grande dos homens, libertos há muito pela natureza de toda tutela alheia (naturaliter majorennes), comprazem-se em permanecer por toda sua vida menores; e é por isso que é tão fácil a outros instituírem-se seus tutores. É tão cômodo ser menor. Se possuo um livro que possui entendimento por mim, um diretor espiritual que possui consciência em meu lugar, um médico que decida acerca de meu regime, etc., não preciso eu mesmo esforçar-me. Não sou obrigado a refletir, se é suficiente pagar; outros se encarregarão por mim da aborrecida tarefa. Que a maior parte da humanidade (e especialmente

 

todo o belo sexo) considere o passo a dar para ter acesso à maioridade como sendo não só penoso, como ainda perigoso, é ao que se aplicam esses tutores que tiveram a extrema bondade de encarregar-se de sua direção. Após ter começado a emburrecer seus animais domésticos e cuidadosamente impedir que essas criaturas tranquilas sejam autorizadas a arriscar o menor passo sem o andador que as sustenta, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça se tentam andar sozinhas. Ora, esse perigo não é tão grande assim, pois após algumas quedas elas acabariam aprendendo a andar; mas um exemplo desse tipo intimida e dissuade usualmente toda tentativa ulterior.

É portanto difícil para todo homem tomado individualmente livrar-se dessa minoridade que se tornou uma espécie de segunda natureza. Ele se apegou a ela, e é então realmente incapaz de se servir de seu entendimento, pois não deixam que ele o experimente jamais. Preceitos e fórmulas, esses instrumentos mecânicos destinados ao uso racional, ou antes ao mau uso de seus dons naturais, são os entraves desses estado de minoridade que se perpetua. Quem o rejeitasse, no entanto, não efetuaria mais do que um salto incerto por cima do fosso mais estreito que seja, pois ele não tem o hábito de uma tal liberdade de movimento. Assim, são poucos os que conseguiram, pelo exercitar de seu próprio espírito, libertar-se dessa minoridade tendo ao mesmo tempo um andar seguro. (KANT, 1783)

 

Sapere Aude! Este é o convite que a filosofia nos faz hoje. Nisso consiste a importância de estudá-la, sua tarefa, no mundo de homens-máquinas, de homens programados. A filosofia é um exame crítico dos fundamentos de nossas convicções, de nossos preconceitos e de nossas crenças e é, conforme Bertrand Russell, filósofo inglês, na não-certeza que chegamos quando filosofamos onde devemos procurar o valor da filosofia, pois o seu valor está nas incertezas que ela nos proporciona, pois quem não pratica o filosofar caminha pela vida preso aos pré-conceitos que são adquiridos ao longo de sua vida.

Porém, mesmo com esta consciência da tarefa da filosofia hoje, muitas pessoas questionam sua utilidade para o cotidiano. De modo imediato a filosofia realmente não tem muita utilidade para as pessoas. No entanto, sua utilidade se apresenta de modo mediato, ou seja, indiretamente. Bem nos explica a Professora Marilena Chauí:

As evidências do cotidiano

Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas, situações. Fazemos perguntas como “que horas

 

são?”, ou “que dia é hoje?”. Dizemos frases como “ele está sonhando”, ou “ela ficou maluca”. Fazemos afirmações como “onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não se resfriar”. Avaliamos coisas e pessoas, dizendo, por exemplo, “esta casa é mais bonita do que a outra” e “Maria está mais jovem do que Glorinha”.

Numa disputa, quando os ânimos estão exaltados, um dos contendores pode gritar ao outro: “Mentiroso! Eu estava lá e não foi isso o que aconteceu”, e alguém, querendo acalmar a briga, pode dizer: “Vamos ser objetivos, cada um diga o que viu e vamos nos entender”.

Também é comum ouvirmos os pais e amigos dizerem que somos muito subjetivos quando o assunto é o namorado ou a namorada. Frequentemente, quando aprovamos uma pessoa, o que ela diz, como ela age, dizemos que essa pessoa “é legal”.

Vejamos um pouco mais de perto o que dizemos em nosso cotidiano.

Quando pergunto “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, minha expectativa é a de que alguém, tendo um relógio ou um calendário, me dê a resposta exata. Em que acredito quando faço a pergunta e aceito a resposta? Acredito que o tempo existe, que ele passa, pode ser medido em horas e dias, que o que já passou é diferente de agora e o que virá também há de ser diferente deste momento, que o passado pode ser lembrado ou esquecido, e o futuro, desejado ou temido. Assim, uma simples pergunta contém, silenciosamente, várias crenças não questionadas por nós.

Quando digo “ele está sonhando ”, referindo-me a alguém que diz ou pensa alguma coisa que julgo impossível ou improvável, tenho igualmente muitas crenças silenciosas: acredito que sonhar é diferente de estar acordado, que, no sonho, o impossível e o improvável se apresentam como possível e provável, e também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto a vigília se relaciona com o que existe realmente. Acredito, portanto, que a realidade existe fora de mim, posso percebê-la e conhecê-la tal como é, sei diferenciar realidade de ilusão.

A frase “ela ficou maluca” contém essas mesmas crenças e mais uma: a de que sabemos diferenciar razão de loucura e maluca é a pessoa que inventa uma realidade existente só para ela. Assim, ao acreditar que sei distinguir razão de loucura, acredito também que a razão se refere a uma realidade que é a mesma para todos, ainda que não gostemos das mesmas coisas.

 

Quando alguém diz “onde há fumaça, há fogo” ou “não saia na chuva para não se resfriar”, afirma silenciosamente muitas crenças: acredita que existem relações de causa e efeito entre as coisas, que onde houver uma coisa certamente houve uma causa para ela, ou que essa coisa é causa de alguma outra (o fogo causa a fumaça como efeito, a chuva causa o resfriado como efeito). Acreditamos, assim, que a realidade é feita de causalidades, que as coisas, os fatos, as situações se encadeiam em relações causais que podemos conhecer e, até mesmo, controlar para o uso de nossa vida.

Quando avaliamos que uma casa é mais bonita do que a outra, ou que Maria está mais jovem do que Glorinha, acreditamos que as coisas, as pessoas, as situações, os fatos podem ser comparados e avaliados, julgados pela qualidade (bonito, feio, bom, ruim) ou pela quantidade (mais, menos, maior, menor). Julgamos, assim, que a qualidade e a quantidade existem, que podemos conhecê-las e usá-las em nossa vida. Se, por exemplo, dissermos que “o sol é maior do que o vemos”, também estamos acreditando que nossa percepção alcança as coisas de modos diferentes, ora tais como são em si mesmas, ora tais como nos aparecem, dependendo da distância, de nossas condições de visibilidade ou da localização e do movimento dos objetos. Acreditamos, portanto, que o espaço existe, possui qualidades (perto, longe, alto, baixo) e quantidades, podendo ser medido (comprimento, largura, altura). No exemplo do sol, também se nota que acreditamos que nossa visão pode ver as coisas diferentemente do que elas são, mas nem por isso diremos que estamos sonhando ou que ficamos malucos.

Na briga, quando alguém chama o outro de mentiroso porque não estaria dizendo os fatos exatamente como aconteceram, está presente a nossa crença de que há diferença entre verdade e mentira. A primeira diz as coisas tais como são, enquanto a segunda faz exatamente o contrário, distorcendo a realidade. No entanto, consideramos a mentira diferente do sonho, da loucura e do erro porque o sonhador, o louco e o que erra se iludem involuntariamente, enquanto o mentiroso decide voluntariamente deformar a realidade e os fatos. Com isso, acreditamos que o erro e a mentira são falsidades, mas diferentes porque somente na mentira há a decisão de falsear.

Ao diferenciarmos erro de mentira, considerando o primeiro uma ilusão ou um engano involuntários e a segunda uma decisão voluntária, manifestamos silenciosamente a crença de que somos seres dotados de vontade e que dela depende dizer a verdade ou a mentira. Ao mesmo tempo, porém, nem

 

sempre avaliamos a mentira como alguma coisa ruim: não gostamos tanto de ler romances, ver novelas, assistir a filmes? E não são mentira? É que também acreditamos que quando alguém nos avisa que está mentindo, a mentira é aceitável, não seria uma mentira “no duro”, “pra valer”.

Quando distinguimos entre verdade e mentira e distinguimos mentiras inaceitáveis de mentiras aceitáveis, não estamos apenas nos referindo ao conhecimento ou desconhecimento da realidade, mas também ao caráter da pessoa, à sua moral. Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade é livre para o bem ou para o mal.

Na briga, quando uma terceira pessoa pede às outras duas para que sejam “objetivas” ou quando falamos dos namorados como sendo “muito subjetivos”, também estamos cheios de crenças silenciosas. Acreditamos que quando alguém quer defender muito intensamente um ponto de vista, uma preferência, uma opinião, até brigando por isso, ou quando sente um grande afeto por outra pessoa, esse alguém “perde” a objetividade, ficando “muito subjetivo”. Com isso, acreditamos que a objetividade é uma atitude imparcial que alcança as coisas tais como são verdadeiramente, enquanto a subjetividade é uma atitude parcial, pessoal, ditada por sentimentos variados (amor, ódio, medo, desejo). Assim, não só acreditamos que a objetividade e a subjetividade existem, como ainda acreditamos que são diferentes e que a primeira não deforma a realidade, enquanto a segunda, voluntária ou involuntariamente, a deforma.

Ao dizermos que alguém “é legal” porque têm os mesmos gostos, as mesmas ideias, respeita ou despreza as mesmas coisas que nós e tem atitudes, hábitos e costumes muito parecidos com os nossos, estamos, silenciosamente, acreditando que a vida com as outras pessoas – família, amigos, escola, trabalho, sociedade, política – nos faz semelhantes ou diferentes em decorrência de normas e valores morais, políticos, religiosos e artísticos, regras de conduta, finalidades de vida.

Achando óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais discordam e com os quais entram em conflito, acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores, finalidades só podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocínio.

 

Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.

 

 

A atitude filosófica

Imaginemos, agora, alguém que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A loucura? A razão?

Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas afirmações por outras: “Onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não ficar resfriado”, por: O que é causa? O que é efeito?; “seja objetivo”, ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é a objetividade? O que é a subjetividade?; “Esta casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é “mais”? O que é “menos”? O que é o belo?

Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: O que é a verdade? O que é o falso? O que é o erro? O que é a mentira? Quando existe verdade e por quê? Quando existe ilusão e por quê?

Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o amor? O que é o desejo? O que são os sentimentos?

Se, em lugar de discorrer tranquilamente sobre “maior” e “menor” ou “claro” e “escuro”, resolvesse investigar: O que é a quantidade? O que é a qualidade?

E se, em vez de afirmar que gosta de alguém porque possui as mesmas ideias, os mesmos gostos, as mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O que é um valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade?

Alguém que tomasse essa decisão estaria tomando distância da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Ao tomar

 

essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica.

Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.

Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu:

“Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”. (CHAUÍ, 2000, p. 5 – 9).

 

Portanto, a filosofia não está apartada de nós, faz parte da nossa vida, está diretamente ligada ao que somos de mais essência, seres inacabados, em construção. As perguntas e respostas que buscamos através da filosofia é uma forma de nos tornarmos humanos.

 

 

O termo “filosofia” vem do grego e significa “amor à sabedoria”. O ser humano possui profundo desejo de saber, fato que o leva a buscar as causas dos acontecimentos.

É possível encontrar dois motivos para a busca de conhecimento:

  • Considerações teóricas (saber simplesmente por saber, para satisfazer as exigências de seu intelecto);
  • Razões práticas (a necessidade de conhecimento a fim de agir com retidão moral ou com eficiência técnica).

Um ser humano experimenta, por exemplo, a necessidade de descobrir o propósito de sua própria existência; para isso, ele precisa encontrar as respostas de muitas perguntas acerca das coisas existentes ao seu redor.

 

 

 

 

 

 

 

Contemplação: Ação de contemplar: contemplação dos astros.

Concentração

do espírito sobre assuntos intelectuais ou religiosos; meditação; viver na contemplação.

Os homens observam certas coisas acontecendo ao seu redor como o crescimento das plantas, a chuva que cai, o sol nascendo… E eles começam a se perguntar sobre as causas destas coisas.

Um verdadeiro filósofo é uma pessoa que se dedica à vida aparentemente “inútil” de contemplação. Por esse motivo, um filósofo é, muitas vezes, considerado ridículo: uma pessoa que está “fora de contato” com o mundo ao seu redor.

Sobre Thales de Mileto, por exemplo, foi dito que ele caiu em um poço, enquanto estava olhando para o céu. Esse fato provocou o riso de uma empregada doméstica.

Através do uso de imagens, Platão, em seus diálogos, mostra as pessoas que estão imersas no mundo dos “bens úteis” – o grupo de atenienses que possuem dinheiro e sucesso. Estas pessoas são incapazes de tornarem-se filósofas, pois não têm nenhum desejo de verdade, apenas sucesso; não aspiram conhecer o sentido da vida.

O que os filósofos procuraram demonstrar é que o espírito filosófico é a busca de um conhecimento acerca da realidade espontânea, que vai além do conhecimento alcançado pelas artes e ciências técnicas.

O objetivo de um filósofo consiste na busca do conhecimento em si, não tem um fim utilitário (não para ganhar dinheiro, fama, etc.; não é uma ciência de produção).

Então, por que começamos a filosofar?

Para Aristóteles, todos os homens, naturalmente, desejam saber. Pertence à natureza humana a busca das causas dos acontecimentos. Há a busca por respostas, razões, explicações, levando a outras questões (não é igual a um direito de saber tudo – curiosidade, invasão de privacidade, etc.). A mente humana é obrigada, por sua própria constituição, a fazer as perguntas que os filósofos discutem. O objeto do intelecto é a busca pela verdade.

É de Aristóteles a seguinte premissa: “Você diz que é preciso filosofar. Então você deve filosofar. Você diz que não se deve filosofar. Então, para provar sua alegação, você deve filosofar. Em qualquer caso, você deve filosofar”. Portanto não podemos fugir da filosofia. Podemos até não cultivar um espírito filosófico, mas as questões fundamentais da filosofia sempre andam conosco, pois são questões essencialmente humanas.

 

Achegando-se à Filosofia

 

O primeiro contato com a filosofia, no entanto, pode, para muitos, ser extremamente difícil, doloroso, árduo, devido a diversos fatores, tais como, o questionamento que ela põe às nossas crenças, ao modo peculiar da argumentação filosófica, a abstração de seus conceitos etc. Contudo, isso não deve servir de justificativa para permanecermos na minoridade intelectual.

Estudar filosofia, começar pelo entendimento que já existe uma filosofia, não se trata de aprender pensamentos dos pensadores, mas sim aprender a pensar filosoficamente. Sempre houve filosofia, uma vez que em seu sentido mais amplo, filosofar consiste em pensar sobre tudo que envolve o ser humano na tentativa de explicar as coisas.

As questões fundamentais que o pensamento humano procura esclarecer giram em torno daquilo que nos cerca e está além do que nos chega através dos órgãos dos sentidos. O que vem a ser real e imaginário, haja vista a possibilidade da mente criar e desenvolver ideias e pensamentos que provavelmente, ou não, correspondem à realidade?

“O que é a vida?”, “O que é o homem?”, “Existe algum sentido para a existência do ser humano neste planeta?”, “Existe algo que se encontra além do que percebemos pelos sentidos?”. Perguntas como estas fazem parte de inúmeras questões levantadas pelo ser humano e, de acordo com as respostas dadas ou encontradas, o homem vai pautando sua existência. Certamente a maioria das pessoas vive sem pensar nessas questões ou pensa apenas no imediato sem se preocupar com as perguntas mais profundas da existência e da vida humana.

O estudo de filosofia objetiva despertar o estudante para as grandes questões que determinam e dirigem a vida humana. Todavia, essa forma de estudar fica restrita a especialista nas academias. No entanto, não deveria ser reservado somente para os estudantes das áreas humanas, mas também para aqueles que buscam profissões em outras áreas de conhecimento, por exemplo, técnicos e profissionais das áreas de ciências exatas e biológicas.

 

Será que você realiza uma ação sem antes pensar?

É impossível admitir a existência humana sem reflexão. Somos obrigados a pensar antes de qualquer ação; isso significa que o ser humano tem um ponto de vista sobre o mundo, uma linha de conduta ética e política para manter ou transformar os modos de pensar e agir do seu tempo histórico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dogmatismo : O dogmatismo filosófico é a contestação

do ceticismo, é quando as verdades são questionadas, para fazer com que os indivíduos não confiem e nem se tornem submissos perante as verdades estabelecidas.

Alguns dos filósofos dogmáticos mais conhecidos são Platão, Aristóteles e Parmênides.

 

 

Sátira:

Construção poética, livre e repleta de ironia que se opõe aos costumes, ideias ou instituições da época (em questão).

Construção poética com o propósito de criticar: sátira política.

Esta maturidade do homem é resultado da aquisição da sua autonomia sobre o pensar e o agir no mundo. A filosofia dá condições teóricas para a superação da consciência ingênua e promove aquisição da consciência crítica. Por exemplo, tente responder as seguintes questões: Quais são os limites da liberdade em uma sociedade civilizada? É errado comer carne ou usar animais para investigação científica? Devemos respeitar a natureza? O que é a mente e como esta se relaciona com o corpo? Existe vida após a morte?

Certamente você concordará que estas questões dizem respeito a todos nós e que as respostas podem afetar profundamente a forma como conduzimos nossas vidas no cotidiano. Você, provavelmente, já pensou em muitas delas e pode ter discutido esses temas com amigos ou parentes. Algumas pessoas pensam uma coisa, outros pensam outra.

A filosofia possibilita modos de pensar sobre essas questões. Os filósofos tentam construir argumentos racionais para seus pontos de vista seguindo pressupostos lógicos. Filósofos também tentam construir argumentos contra as posições de seus oponentes. Esses processos nem sempre vão levar a um acordo universal, mas eles possibilitarão o debate, ajudando-nos a entender os pontos fortes e fracos das diferentes posições e as relações entre eles.

Os filósofos também devem submeter as suas próprias crenças aos padrões de argumentação racional, e devem estar preparados para mudar as suas mentes, caso existam bons argumentos contra suas opiniões. Ao questionar suas crenças e testá-las de forma rigorosa, eles podem identificar seus preconceitos e suposições e substituí-los coerentemente. A filosofia é, pois, um antídoto útil ao dogmatismo. Ao estudar filosofia, as pessoas, muitas vezes, percebem que suas opiniões não eram tão firmes como pensavam e tornam-se mais dispostas a ouvir a opinião de outras pessoas.

Essa preocupação com o esclarecimento de ideias é fundamental para a filosofia e tem aplicações em muitas áreas. Por exemplo, os políticos falam sobre liberdade, democracia e direitos humanos, mas o que exatamente eles têm em mente quando usam essas palavras?

Contudo, apesar da relevância que pode ser atribuída à filosofia, nem sempre ela é compreendida. Vejamos o exemplo de uma sátira entre dois comediantes sobre o papel da filosofia na vida cotidiana.

  • John: Pode me esclarecer que relevância a filosofia tem para a vida cotidiana?
  • Smith: Sim, eu posso fazer isso com bastante Esta manhã

 

fui a uma loja e o vendedor estava discutindo com um cliente. O vendedor disse “sim”. E que o cliente disse: “O que quer dizer “sim”?. E o vendedor falou: “Eu quero dizer sim”.

  • John: Isso é muito
  • Smith: Aqui está um exemplo esplêndido da vida cotidiana entre duas pessoas comuns trabalhando com questões filosóficas essenciais – ‘Você quer dizer ‘sim’?” – “Eu quero dizer ‘sim’. “- E onde eu, como filósofo, poderia ajudá-los?”
  • John: E você ajudou?
  • Smith: “Bem, não. Eles estavam com bastante ..”

John e Smith estavam satirizando as tendências filosóficas de seu tempo, mas seu diálogo ilustra dois pontos de vista sobre a filosofia que ainda estão bastante difundidos. Um deles é que os filósofos estão fora de contato com a vida cotidiana e as preocupações das pessoas comuns. A outra é que os debates filosóficos são muito abstratos e muitas vezes descem ao nível de discutir o significado das palavras (‘O que quer dizer, “sim”? ‘).

 

 

 

A especificidade do saber filosófico

 

A filosofia, assim como a ciência, busca o conhecimento. Porém, esses campos têm seus métodos próprios e atingem determinadas “verdades”. Além dos saberes filosófico e científico, existe ainda o saber do senso comum, que é uma série de crenças admitidas por um determinado grupo social, cujos membros acreditam ser compartilhadas por todos. E produzido por meio das percepções sensíveis e imediatas. É caracterizado pela falta de fundamentação, de coerência e sistematicidade. As pessoas não sabem o porquê das coisas, mas aglutinam acriticamente juízos. Nessa forma de saber, as verdades provisórias e parciais são tomadas por definitivas e absolutas. As descrições são imprecisas e os relatos dos fatos e acontecimentos são abordados de maneira superficial, impregnados de opiniões, que geram uma infinidade de pré-conceitos os quais, aos poucos, vão se tornando parte do conhecimento popular. Por fim, o senso comum é um conhecimento prático, utilitário,

 

sem ou quase sem nenhuma teoria, integrante da chamada cultura popular.

Contudo, nem todos os conhecimentos integrantes do senso comum são irrelevantes, já que partem da própria realidade. Algumas concepções são, de fato, precisas, faltando a elas, entretanto, o rigor, o método, a objetividade e a coerência típica do senso crítico.

Já o saber científico é forma especializada, metódica, observacional de estudo da realidade. Não se contenta com as opiniões, com as verdades disseminadas culturalmente. O saber, para ser cientificamente validado, precisa passar por uma série de investigações, experimentos, verificações etc. Somente após um longo processo de investigação é que uma afirmação pode ser tomada por uma verdade científica.

Por sua vez, o saber filosófico é uma atividade reflexiva que deixa de ver os elementos que compõem determinada realidade como dados naturais, universais, óbvios, eternamente válidos, para serem analisados, relativizados, examinados criticamente, compreendidos como construções histórico-sociais. É fruto de uma metodologia orientada pela razão e pela pesquisa reflexiva. O filósofo tem a incumbência de questionar a realidade das aparências, de ilusões dos sentidos, abrindo a perspectiva do logos. Esse espírito filosófico é expresso de modo magistral pelo poeta:

 

 

“Nós pedimos com insistência:

Não digam nunca: isso é natural!

Diante dos acontecimentos de cada dia.

Numa época em que reina a confusão.

Em que corre sangue,

Em que se ordena a desordem, Em que o arbítrio tem força de lei,

Em que a humanidade se desumaniza.

Não digam nunca: isso é natural!”

(Bertoldo Brecht)

 

 

Tem-se comumente a ideia que o filósofo é aquele que divaga em questões abstratas, desconectadas da vida cotidiana com um discurso que não diz respeito aos interesses da maioria. Já o cientista, pelo contrário, é um pesquisador confinado

 

em seu laboratório e preocupado com problemas práticos, imbuído na elaboração

de um saber útil.

No entanto, podemos questionar: até que ponto o saber filosófico não tem utilidade e o quanto o saber científico está próximo das expectativas práticas?

Na modernidade, filosofia e ciência seguem caminhos diferentes, determinados por uma metodologia própria. O método determina a diferença de abordagem dos problemas em cada área e a lógica é o instrumento comum entre a ciência e a filosofia. Com a separação entre filosofia e ciência, a partir da revolução científica do século XVI, cada qual passou a guardar características próprias:

 

 

CIÊNCIA FILOSOFIA
Trabalha com métodos científicos, ou seja, baseia-se na observação de dados

empíricos.

Trabalha com elementos teóricos e não

condiciona o objeto de sua análise as experimentações.

Saber especializado. Visão de conjunto.
Descritiva. Crítica.

 

 

O saber filosófico designa o conjunto dos conhecimentos racionais. Portanto, um saber amplo e universalista. Como a ciência passou a direcionar suas investigações a campos delimitados da realidade, a filosofia, hoje, passou a ter a função de buscar a unidade do saber e de examinar a validade dos métodos e dos saberes formulados pelas ciências.

Entretanto, a filosofia pode se valer dos resultados alcançados pelas ciências e questioná-los. Já as ciências podem se valer dos elementos teóricos da filosofia. É o que faz, por exemplo, a Filosofia da Mente, a Filosofia da Natureza, a Filosofia da Ciência etc.

 

 

Diversas visões de filosofia

 

 

Etimológico: Ciência que investiga a origem, étimo, das palavras procurando determinar as causas e circunstâncias

de seu processo evolutivo. Matéria ou disciplina que analisa a descrição de uma palavra em vários âmbitos

linguísticos anteriores a sua formação.

Procedência de um termo tanto em sua forma mais antiga quanto nos aspectos relacionados a sua evolução.

 

 

 

 

 

Razão: Capacidade para resolver (alguma coisa) através do raciocínio; aptidão para raciocinar, para compreender, para julgar; a inteligência de modo abrangente:

todo indivíduo é dotado ou faz uso da razão. Raciocínio através do qual se consegue induzir

ou deduzir (alguma coisa).

Habilidade para fazer avaliações de maneira correta; em que há juízo; bom senso.

Você sabia que a filosofia tem vários significados? Vamos elencar alguns deles: do ponto de vista etimológico, filosofia significa “amigo da sabedoria”. Para muitas pessoas, a palavra filosofia quer dizer a maneira própria de uma pessoa ver e explicar as coisas. Quando dizemos que cada pessoa tem sua própria filosofia, estamos nos referindo a este conceito. Embora a explicação seja um verdadeiro absurdo do ponto de vista da lógica, um mito ou superstição, por exemplo, mas é sua filosofia.

Outro significado que o termo filosofia desenvolveu foi o de conhecimento adquirido de maneira sistemática, pensada, examinada. Não se trata de simples opiniões, mas de conhecimentos baseados num processo lógico de pensamento em que se usa determinado método para chegar a alguma conclusão.

A filosofia consiste num conjunto de conhecimentos sobre certos assuntos sistematizados e obtidos por meio de métodos definidos que procuram explicar todas as coisas por suas causas mais profundas e não imediatas. Para isto, são usadas a observação sensível e a razão natural.

O conjunto dessas regras chama-se lógica. Nota-se que este segundo conceito está ligado apenas ao mundo sensível e à razão natural, excluindo o campo da ciência e da religião.

Um terceiro conceito é o da mente humana quando esta procura explicação para todas as coisas e relaciona todo o conhecimento dos diversos campos, como o conhecimento especulativo, experimental, entre outros. Reunindo todos num processo de integração, elabora-se uma visão do mundo ou do universo.

Esta visão desenvolve um sistema de pensamento que compreende a existência de todas as coisas do universo e é denominada de cosmovisão. Dentro desse conceito, inclui-se tanto o campo da ciência experimental, quanto da religião fundamentada na Revelação Escrita, isto é, da Teologia Bíblica e do conhecimento adquirido pelo processo sensitivo racional.

Finalmente chegamos a um significado da palavra filosofia, um modo de pensar, que inclui não apenas uma compreensão intelectual ou teórica, mas também um saber que faça parte do nosso “eu”, de nosso ser psíquico. Abrange o conjunto total de nossas experiências vividas e modos de viver. Filosofia, então, é vivência.

 

Portanto, essa forma de conhecimento é, essencialmente, prática, na qual o ser humano passa a viver de acordo com sua visão de mundo. Esse modo de viver deverá ser coerente com a cosmovisão obtida a fim de que o ser humano não experimente uma dicotomia entre a psique, que se refere à mente, e a soma, que se refere ao corpo material.

Podemos perceber então que diferentes são os conceitos de filosofia, o modo como cada pessoa vê as coisas no mundo e as maneiras pelas quais os seres humanos elaboram sua visão sobre este.

Cada conceito diferente de filosofia também provoca mudança na natureza do saber filosófico. Ao considerar a função, ou funções, da filosofia, constatamos que sua natureza é tríplice e culmina em aspectos amplos e globalizantes. Vejamos cada uma delas:

  • Em primeiro lugar, ao expor seu sistema, analisar as causas fundamentais e explicar a existência/essência das coisas, a filosofia é descritiva em sua Discorre sobre tudo o que existe, explica conceitos, enumera e descreve os componentes, procura integrar as partes, relacionando-as de modo apropriado e buscando abranger o todo.
  • Quando a filosofia estabelece as regras do pensamento válido e a aplicação destas no processo do raciocínio, passa a ter um caráter Este caráter normativo também ocorre ao se tratar da Filosofia Prática na qual são estabelecidas normas de conduta para servir como modelo de comportamento aos indivíduos, determinando as noções de dever e direito, certo e errado.
  • Finalmente, a parte da filosofia que faz uma avaliação do conhecimento adquirido pela especulação e verifica se as regras foram obedecidas na conduta ou na produção de uma obra de arte, chama-se Filosofia Crítica ou Avaliativa. Isso também ocorre quando a filosofia procura se certificar da validade deste conhecimento, bem como dos argumentos empregados, procurando trazer à mente mais certeza e convicção da realidade e da verdade das coisas.

 

Ainda verifica-se esse caráter de crítica quando a filosofia julga o valor e a legitimidade dos métodos empregados pelas ciências particulares e quando fornece a essas ciências postulados fundamentais sobre os quais elas estão construídas. O conceito de crítica equivale a analisar os aspectos positivos e negativos, justificando as colocações feitas nas funções anteriores. É quando se verifica a coerência das exposições com a realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Normativo: Que estabelece normas ou regras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Postulados: Ideia que se pode, sem demonstração

admitir como verdadeira.

 

Devemos mencionar que para se pensar de maneira correta, é preciso conhecer e obedecer as regras que comandam o pensamento a fim de que este seja válido em sua forma e verdadeiro em sua aplicação. É necessário, portanto, que se conheçam essas leis estudadas pela lógica.

Para concluir, dizemos que a filosofia é sintética em sua natureza quando procura compreender, dentro de seu campo, tudo o que existe e é acessível à inteligência humana. A filosofia, enquanto cosmovisão tem em si esse caráter sintético. Ela deve admitir que todos os métodos usados na ciência, na filosofia especulativa e na religião são válidos e possíveis de serem empregados para se descobrir a verdade. Também é necessário estabelecer princípios pelos quais seremos orientados em nosso processo de filosofar, usando todas as formas e campos de conhecimento.

Podemos então dizer que todos os métodos serão usados, tais como a lógica, experimentação, observação sistematizada, revelação, intuição, entre outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2

OS GRANDES PARADIGMAS DA FILOSOFIA NA HISTÓRIA

 

Conhecimentos

Conhecer a história da filosofia no período clássico, moderno, contemporâneo e suas respectivas fases a partir dos grandes paradigmas que perpassaram cada época.

 

Habilidades

Identificar a função dos diversos ciclos da filosofia no processo de construção do conhecimento.

 

Atitude

Vincular os conhecimentos advindos do pensamento filosófico à vida cotidiana.

 

 

 

Os grandes paradigmas

da Filosofia na História

 

Você sabia que quando estudamos a história da filosofia podemos fazê-

lo de duas maneiras?

 

A cronológica, que é o estudo de cada época da filosofia, seus pensadores e as principais correntes e escolas; paradigmática, que estuda as épocas históricas da filosofia a partir dos grandes temas, paradigmas, que perpassaram as discussões filosóficas de cada época. Será nesta perspectiva que abordaremos a história da Filosofia. De antemão afirmamos que ao longo de sua história, a Filosofia teve três grandes paradigmas: o paradigma do ser, que marcou a antiguidade clássica e a Idade Média e que tinha como principal tarefa a busca do ser, da essência, de todas as coisas; o paradigma da consciência, que assinalou a modernidade e que teve seu marco com a reviravolta antrocêntrica-subjetal; o paradigma da linguagem, que marca a filosofia contemporânea. Veremos cada um deles a seguir.

 

 

O Paradigma do Ser

 

O grande paradigma que marcou as filosofias da antiguidade grega e da Idade Média foi o do SER. Mas em que consiste esse paradigma? E o que é esse ser que os filósofos buscavam?

Para entendermos bem esse paradigma, é preciso, antes de mais nada, entender a postura filosófica destas épocas. A questão fundamental era saber qual o fundamento, a essência, de todas as coisas. Os filósofos gregos, por exemplo, buscavam o ser, o princípio (arché) que era a origem de tudo. Procuravam descobrir quais os elementos primários constituidores das coisas existentes como a terra, as plantas, os animais, a água, o ar, o fogo, etc.

O ser pode ter dois sentidos, a saber: significar Existência: existir, estar aí; significar Consistência: ser isto, ser aquilo. Quando perguntamos: Que é o homem? Que é a água? Que é a luz? Não queremos perguntar se existe ou não existe o homem, se existe ou não existe a água ou a luz. Queremos dizer: qual é a sua essência? Em que consiste o homem? Em que consiste a água? Em que consiste a luz?

 

Apogeu:

O mais alto grau ou ponto de elevação, o auge, chegou ao apogeu da carreira.

Durante o tempo que antecedeu o período considerado áureo no qual o pensamento grego chegou a seu apogeu, houve um grupo de pensadores que se dedicaram aos assuntos já mencionados sem, contudo, ter a preocupação de construir um sistema de pensamento coordenado e integrado. A este período denominou-se período naturalista e se estendeu desde o século VI até o séc. IV a.C. Os filósofos desse período ficaram conhecidos como pré-socráticos, porque viveram antes de Sócrates.

 

As questões fundamentais para os filósofos pré-socráticos eram:

 

  • Por que existe algo e não o nada?
  • Se existe algo, em que consiste esse algo?
  • Qual a essência do que existe?
  • Qual o elemento fundamental, o ser em si, que constitui a realidade?

 

Podemos afirmar que a filosofia pré-socrática caracterizava-se como um Realismo Metafísico (res = coisa ► realismo = o que existe), na medida em que eles se perguntavam sobre a existência do ser que era o pressuposto de qualquer existência, o fundamento de toda a realidade, o ser que é em si, que não se decompunha em outras coisas. Com os gregos começou um esforço para discernir entre aquilo que tem uma existência meramente aparente e aquilo que tem uma existência real, uma existência em si, uma existência primordial, irredutível a outra. Estes filósofos gregos procuram qual é ou quais são as coisas que têm uma existência em si. Eles chamavam a isto o “princípio” (arché), nos dois sentidos da palavra: como começo e como fundamento de todas as coisas.

Vamos conhecer alguns filósofos pré-socráticos:

 

 

Tales de Mileto (640 – 548 a.C.)

  • O princípio de toda a realidade era a ÁGUA;

Não consiste em nada; existe, com uma existência primordial, como princípio essencial, fundamental, primário.

 

Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.)

 

  • O princípio fundamental da realidade era o APEIRON (INDEFINIDO);

 

Uma coisa indefinida que não era nem água, nem cerra, nem fogo, nem ar, nem pedra, mas antes tinha em si, por assim dizer, em potência, a possibilidade de que dela se derivassem as demais coisas.

 

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.)

 

  • O princípio fundamental da realidade era o AR INFINITO (pneuma ápeiron);
  • Foi quem pela primeira vez denominou o princípio de

arché;

 

O universo era o resultado das transformações do ar, da sua rarefação, o fogo, ou condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra. Esse era o processo pelo qual se passava da substância primordial para a multiplicidade dos elementos.

 

 

Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.)

 

Não procurou um, mas vários princípios para a realidade, com a ideia de salvar as qualidades diferenciais das coisas, admitindo, não uma origem única, mas uma origem plural; não uma só coisa, da qual fossem derivadas todas as coisas, mas várias coisas. Assim, ele admitiu que eram quatro as coisas realmente existentes, das quais se derivam todas as demais e que essas quatro coisas eram: a água, o ar, a terra e o fogo, que ele chamou “elementos”, isto é, aquilo com que se faz “tudo o mais”.

 

Pitágoras de Samos (séc. VI a.C.)

 

Foi o primeiro filósofo que pensou como fundamento da realidade um ser não- material, não acessível aos sentidos. Para Pitágoras a essência última de todo ser, dos que percebemos pelos sentidos, é o número.

As coisas são números, escondem dentro de si números. As coisas são distintas umas de outras pela diferença quantitativa e numérica.

O 1 é o ponto, o 2 determina a linha, o 3 gera a superfície e o 4 produz o volume.

Por exemplo, Pitágoras descobriu que na lira se as notas das diferentes cordas soam diferentemente, é porque umas são mais curtas que as outras e não somente descobriu isso, mas também mediu o comprimento relativo e encontrou que as notas da lira estavam entre si numa simples relação numérica de comprimento: na relação de um dividido por dois, um dividido por três, um dividido por quatro, um dividido por cinco. Descobriu, pois, a oitava, a quinta, a quarta, a sétima musical. Assim, Pitágoras chegou à ideia de que tudo quanto vemos e tocamos as coisas tais e como se apresentam, não existem de verdade, mas antes são outros tantos véus que ocultam a verdadeira e autêntica realidade, a existência real que está atrás dela e que é o número.

É a primeira vez que na história do pensamento grego surge como coisa realmente existente, uma coisa não material, nem extensa, nem visível, nem tangível.

 

 

Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)

 

Foi o primeiro filósofo a perceber que as coisas são e não-são, ao mesmo tempo, ou seja, que a realidade está em constante movimento. Quando nós queremos fixar uma coisa e definir sua consistência, dizer em que consiste esta coisa, ela já não consiste no que consistia um momento antes. O existir é um perpétuo mudar, um estar constantemente sendo e não-sendo, um devir perfeito; um constante fluir. O elemento que representa o princípio de todas as coisas é o fogo, pois este mostra a fluidez de tudo, o contínuo deixar de ser para tornar-se ser. O fogo consome, destrói, para tornar-se o que é.

 

Parmênides de Eléia (544-470 a.C.)

 

 

 

Sua filosofia está diametralmente oposta à filosofia de Heráclito. Enquanto este afirmava que o ser é e o não-ser também é, Parmênides afirmava que o ser é e o não-ser não é.

Parmênides verifica, pois, que dentro da ideia do devir há uma contradição lógica, há esta contradição: que o ser não é; que aquele que é não é, visto que o que é neste momento já não é neste momento, antes passa a ser outra coisa. Qualquer olhar que lancemos sobre a realidade nos confronta com uma contradição lógica, com um ser que se caracteriza por não ser. E diz Parmênides: isto é absurdo; a filosofia de Heráclito é absurda, é ininteligível, não há quem a compreenda. Porque como pode alguém compreender que o que é não seja, e, o que não é seja? As qualidades do ser de Parmênides são:

 

  • Idêntico a si mesmo – (princípio da identidade);

 

  • Único – não pode haver dois seres;

 

Suponhamos que haja dois seres; pois, então, aquilo que distingue um do outro “é” no primeiro, porém “não é” no segundo. Mas se no segundo não é aquilo que no primeiro é, então chegamos ao absurdo lógico de que o ser do primeiro não é no segundo. Tomando isto absolutamente, chegamos ao absurdo contraditório de afirmar o não-ser do ser. Dito de outro modo: se há dois seres, que há entre eles? O não-ser. Mas dizer que há o não- ser é dizer que o não-ser, é. E isto é contraditório, isto é absurdo, não tem cabimento; essa proposição é contrária ao princípio de identidade.

 

  • Eterno – não tem princípio nem fim;

 

Se tem princípio, é que antes de começar o ser havia o não ser. Mas, como podemos admitir que haja o não-ser? Admitir que há o não-ser, é admitir que o não-ser é. Pela mesma razão não tem fim, porque se tem fim é que chega um momento em que o ser deixa de ser. E depois de ter deixado

Diametralmente:

Na direção

do diâmetro –

transversalmente.

Em direções opostas

– ausência de confluência para um mesmo ponto: ideias dia¬me¬tralmente opostas.

 

de ser o ser, que há? O não-ser. Mas, então, temos que afirmar o ser do não-ser, e

isto é absurdo.

 

  • Imutável

 

Toda mudança do ser implica o ser do não-ser, visto que toda mudança é deixar de ser o que era para ser o que não era, e, tanto no deixar de ser como no chegar a ser, vai implícito o ser do não-ser, o que é contraditório.

 

  • Infinito – não está em parte algum;

 

Estar em uma parte é encontrar-se em algo mais extenso e, por conseguinte, ter limites. Mas o ser não pode ter limites, porque se tem limites, cheguemos até estes limites e suponhamo-nos nestes limites. Que há além do limite? O não-ser. Mas então temos que supor o ser do não-ser além do ser. Por conseguinte o ser não pode ter limites e se não pode ter limites, não está em parte alguma e é ilimitado.

 

  • Imóvel – mover-se é deixar de estar em um lugar para estar em outro;

 

Mas como predicar-se do ser o estar em um lugar? Estar em um lugar supõe que o lugar onde está é mais amplo, mais extenso que aquilo que está no lugar. Por conseguinte, o ser, que é o mais extenso, o mais amplo que há, não pode estar em lugar algum, e se não pode estar em lugar algum, não pode deixar de estar no lugar; ora: o movimento consiste em estar estando, em deixar de estar num lugar para estar em outro lugar.

 

Mas, na realidade, as coisas estão em movimentos, os seres são múltiplos, vão e vêm, que se movem, que mudam, que nascem e que perecem. Não podia, pois, passar despercebido a Parmênides a oposição em que sua metafísica se encontrava frente ao espetáculo do universo. Então Parmênides não hesita um instante, daí tira a conclusão: este mundo heterogêneo de cores, de sabores, de cheiros, de movimentos, de subidas e descidas, das coisas que vão e vêm, da multiplicidade dos seres, de sua variedade, do seu movimento, de sua heterogeneidade, todo este mundo sensível é uma aparência, é uma ilusão dos nossos sentidos, uma ilusão da nossa faculdade de perceber. Assim como um homem que visse forçosamente

 

o mundo através de uns cristais vermelhos diria: as coisas são vermelhas, e estaria errado: do mesmo modo quando dizemos: o ser é múltiplo, o ser é movediço, o ser é mutável, o ser é variadíssimo, estamos errados. Na realidade, o ser é único, imutável, eterno, ilimitado e imóvel. Desse modo, Parmênides cria dois mundos, um sensível e outro inteligível. Pela primeira vez na história da filosofia aparece esta tese da distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível.

 

 

Demócrito de Abdera (460-370 a. C.)

 

  • O princípio fundamental da realidade é o Átomo;

 

Partículas minúsculas indivisíveis e invisíveis a olho nu e eternos. Se fossem divisíveis, a natureza acabaria por se diluir. E como nada pode surgir do nada, são eternos.

  • Um dos primeiros materialistas;
  • Tenta resolver os impasses surgidos nas teorias de Heráclito e Parmênides;

O ser, o átomo é eterno (como pensava Parmênides), mas está em constante movimento (como pensava Heráclito), como, por exemplo, os átomos que compõem a alma (feita de átomos sutis, que se movem, lisos e arredondados), já que esta se move.

 

Após o período da filosofia naturalista ou pré-socrática, temos o período das grandes sínteses. Os principais pensadores dessa época são Sócrates, Platão e Aristóteles. Estes filósofos dão uma configuração mais rebuscada às questões e teorias dos pré-socráticos, a partir da tentativa de desenvolver sistemas de ideias capazes de abarcar todas as dimensões da realidade. Daí o nome de período das grandes sínteses ou período sistemático. Nele procurou-se coordenar e sistematizar

o que se havia pensado até então e continuar se aprofundando no pensamento sobre elementos constituintes do nosso universo. Tais elementos diziam respeito não somente ao que se podia perceber através dos sentidos como também daquilo que estava além, isto é, a metafísica.

 

Sócrates

 

 

Sócrates considera o uso do raciocínio e o ato de elogiar os outros ao fazê-los na busca de respostas. As histórias dos deuses tinham muitas contradições em si e tornou-se difícil acreditar neles. Como alguns devem, eventualmente, acreditar em Papai Noel, também muitos precisaram desistir de sua crença nos deuses. Mas, assim como a crença no Papai

 

Noel é reconfortante e traz presentes físicos, a crença nos deuses era reconfortante para fornecer uma base de ordem moral. Uma vez que a crença nos deuses foi removida, o que os gregos colocaram em seu lugar? O que serviria de base para a ordem social e moral? Sócrates foi em busca dessas respostas no momento de sua morte.

 

Platão achava que ele tinha encontrado, mas Sócrates obteve julgamentos sobre as histórias dos deuses. Ele sabia que certos atos dos deuses devem ser seguidos e outros definitivamente evitados. Sócrates foi à procura de uma base para afirmar a existência de um padrão moral ou conjunto de regras ao qual até os deuses estão sujeitos. Isto é conhecido como Ética em Filosofia.

Sócrates foi um dos primeiros seres humanos a prosseguir na resposta para a pergunta “O que é o bem?” usando razão e não crença. Concluiu que não há realmente princípios válidos de pensamento e de ação que devam ser seguidos para desfrutarmos de uma vida boa se quisermos ser, ao mesmo tempo, genuinamente felizes e verdadeiramente bons. Estes princípios são objetivos e verdade para todos os homens e mulheres, sempre e onde quer que vivam. Algumas pessoas são injustas, autoindulgentes, obcecadas com metas inúteis, confusas e cegas sobre o que é verdadeiramente importante. Estas pessoas precisam encontrar a verdade e viver de acordo com ela.

Tornou-se famoso por dar uma volta em torno da ágora (mercado) e questionar os cidadãos sobre: “O que é a justiça”, “O que é o conhecimento”. Desafiava as pessoas questionando de volta cada resposta que elas davam.

Filho de uma parteira, preocupou-se em purificar e esclarecer os conceitos através do método de questionar seus alunos. Reuniu em torno de si um grupo de jovens estimulando o pensamento, questionando conceitos e fazendo perguntas a fim de tornar as ideias mais claras e precisas. Buscava retirar da mente o que, em potencial, já se encontrava no íntimo.

 

A este processo deu-se o nome de maiêutica, comparando-o com o processo do parto em que a parteira procurava tirar a criança do ventre materno. Dessa forma, Sócrates procurava retirar conhecimento do íntimo das coisas.

Este filósofo, cujo aforismo atribuído era “Conhece-te a ti mesmo”, demonstrava também as incoerências e inconsistências da sociedade de sua época apresentando a injustiça das leis. Motivava seus alunos a buscar conhecimentos sobre si mesmos. A verdade está dentro de cada um de nós, não nas estrelas, nem na tradição, ou nos livros religiosos, ou nas opiniões das massas. Cada um tem ocultado dentro de si os verdadeiros princípios de pensar e agir. Por isso, ninguém pode ensinar a verdade sobre a vida a ninguém. Se isso não fosse verdade dentro de você, você nunca encontraria tais princípios, mas eles existem e somente por intermédio de um implacável autoexame de crítica, eles se revelarão para você.

Sócrates não deixou nada escrito. Seus ensinamentos vieram-nos através de dois alunos seus: Platão e Xenofonte. Ele procurava induzir as pessoas através do questionamento de algo, sem necessidade de palestra ou dizer qual é a resposta. Ele orientava as pessoas para os valores universais cujo primado era conhecer o fundamento dos processos de introspecção, indução e definição empregando isso na conduta moral que procurou estabelecer pela prática das leis. Segundo Sócrates, o fim do homem é a prática do bem através de uma vida virtuosa que deve acompanhar o conhecimento.

Sócrates afirmava: “A vida não examinada não vale a pena ser vivida.” Ele acreditava que o conhecimento é virtude e os seres humanos nunca, intencionalmente, cometem erros. Em outras palavras, é indigno quem simplesmente vive o dia a dia sem nunca se perguntar: “O que estou fazendo aqui? Por que estou vivendo como eu sou?”. Para ser verdadeira e completamente humano, no pensamento de Sócrates, cada ser humano deve submeter sua vida e convicções à prova de crítica do autoexame. Por intermédio desse processo de autoexame, podemos alcançar a verdadeira felicidade.

Além disso, defendia que a ignorância é o mal e para ser moral, o ser humano deve educar-se. Em sua opinião, a única coisa da qual ele realmente sabia era que não sabia de nada e ser fiel a si mesmo era a coisa mais importante a fazer. Por intermédio de seu método de interrogatório, pensava poder levar os homens a reavaliar suas respostas e examinar suas crenças.

Maiêutica :

Na filosofia socrática, arte de levar o interlocutor, através de uma série de perguntas, a descobrir conhecimentos que ele possuía sem que

o soubesse. (Significa “arte de partejar”; daí, o sentido figurado de “dar à luz ideias”.).

 

 

 

 

 

 

 

 

Introspecção: Análise íntima e reflexiva que uma pessoa faz sobre si mesma; exame profundo acerca de suas próprias experiências ou

daquilo que ocorre de modo íntimo; introversão.

 

A sabedoria consiste em admitir que não sabemos de nada e que a busca pelo conhecimento é o mais elevado bem. Por causa de sua ignorância confessada, ele pode parecer contraditório, para ser sábio. No entanto, Sócrates percebeu que não sabia de nada e estava ciente de sua ignorância; de fato, foi esse reconhecimento que o fez sábio. Na realidade, muitas pessoas que se diziam sábias, não o eram.

A prática do que é errado ocorre devido à falta de conhecimento. Sócrates preocupava-se com o comportamento moral e devia obedecer às leis embora mostrasse a seus alunos que muitas vezes estas são injustas. Este filósofo foi levado a julgamento por “corromper a juventude” ao criticar a sociedade e as leis de Atenas e por “questionar os deuses”. Ele tinha a opção de ser exilado ou beber cicuta, um veneno que iria matá-lo. Mantendo-se fiel às suas crenças, ele bebeu a cicuta.

Sócrates afirmou também que a tarefa mais importante na vida era cuidar da alma. Ele acreditava que a alma de uma pessoa era verdadeiramente a pessoa e o centro de seu caráter. Assim como o corpo, a alma deve ser mantida saudável; Sócrates propôs uma maneira de manter a alma saudável: por meio da introspecção e a busca por livrar-se da ignorância.

Este mesmo filósofo acreditava também que uma boa pessoa não poderia ser prejudicada por terceiros. Claro, as pessoas podem ser machucadas fisicamente por outras, mas Sócrates estava se referindo ao fato de uma pessoa de alma boa não poder ser prejudicada por forças externas. Ou seja, se a parte mais importante de uma pessoa é a alma e esta não é física, e sim algo dentro do ser humano, então a pessoa não poderia ser prejudicada pela alma. O corpo pode ser prejudicado por outra pessoa, mas a alma não, a menos que exista uma permissão a si mesmo para tornar-se suscetível aos outros e mudar suas crenças, valores e percepções sobre a vida.

 

 

 

 

Platão

 

 

 

Considerando o governo que condenou o mestre, Platão, discípulo de Sócrates, acreditava que a democracia, o governo dirigido pela maioria, estava fadado ao fracasso e dizia que o rei deveria ser um filósofo. Procurava definir o que é justiça e o que é o estado. Busca então resposta a questões mais fundamentais como: Qual é a natureza da realidade? Qual

 

a natureza do mundo físico? Qual a natureza humana? Qual o maior bem para o homem?

 

A teoria das ideias é a base da filosofia de Platão: as ideias não são apenas os objetos reais, ontologicamente falando; elas são, também, objetos de conhecimento autêntico e epistemológico.

Platão defende um claro dualismo ontológico em que existem dois tipos de realidades ou mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível, ou, como ele chama, o mundo das ideias. O mundo sensível é o mundo das realidades individuais, e assim, é múltiplo e em constante mutação; é o mundo da geração e destruição, é o reino do sensível, do material, das coisas temporais e de espaço.

O mundo inteligível, ao contrário, é o mundo das realidades universais, eternas e invisíveis chamadas ideias (ou formas), que não mudam (imutáveis) porque não são materiais, temporais ou espaciais. As ideias podem ser compreendidas e conhecidas, pois são a realidade autêntica. Elas não são apenas conceitos ou eventos psíquicos de nossas mentes; existem como seres objetivos e independentes de nossas consciências.

As ideias são ordenadas hierarquicamente, há diferentes tipos e elas não têm, todas, o mesmo valor. Os tipos de ideias que estão incluídas no mundo inteligível são: ideia de retidão, ideias morais e outras como justiça, virtude, etc.; ideias estéticas (especialmente a ideia de beleza); ideias de multiplicidade, unidade, identidade, diferença; ideias matemáticas.

Platão localizava a ideia de retidão na posição mais alta do mundo inteligível; às vezes ele se identificava com a ideia de beleza e até mesmo com a ideia de Deus. A ideia de retidão é a origem da existência de tudo, pois o comportamento humano depende dele próprio e tudo tende a ele (intrínseco propósito na natureza).

De alguma maneira misteriosa, as coisas materiais individuais participam da realidade de ideias, assim como sombras dependem de objetos reais. Platão ensinou que o nosso conhecimento acerca das ideias existia dentro de nós a partir de outra vida, quando já existia em um mundo superior, sem um corpo.

Platão acreditava que um ser humano alcança conhecimento por recordar o que era conhecido antes da alma deste ter entrado no corpo. Há um mundo de formas eternas, de ideias que nunca mudam. Estas formas ideais existem em um reino além deste universo físico.

O referido filósofo elabora sua teoria do mundo material, imperfeito, que está sempre em mudança e seria sobra de outro mundo, perfeito, imutável, o mundo ideal para onde se dirigiam as almas que eram partes do homem e se desprendiam do corpo após a morte. Para Platão, o início da filosofia é a ideia, que seria a realidade objetiva, eterna, perfeita, imutável.

 

A ideia platônica é centrada no Bem Absoluto, que é Deus; este é a felicidade suprema do homem. Essa ideia de outro mundo, ideal, perfeito e deste, material, imperfeito e passageiro, é ilustrada no Mito da Caverna que engloba os pontos cardeais de sua filosofia. Ele quer que ela seja uma metáfora de nossa natureza quanto à sua educação e a sua falta de educação, isto é, serve para ilustrar questões relativas à teoria do conhecimento.

 

O mito descreve a nossa situação acerca do conhecimento: somos como os prisioneiros de uma caverna que somente observam as sombras dos objetos e assim vivem na mais completa ignorância. Somente a filosofia pode nos libertar e permitir que saiamos da caverna para o mundo verdadeiro, ou mundo das ideias.

 

Platão pede-nos para imaginar que somos prisioneiros em uma caverna subterrânea. Estamos acorrentados e imobilizados desde a infância, de tal forma que somente podemos ver as sombras dos objetos projetadas na parede extrema da caverna e as pessoas que caminham junto a essa parede, falando e levando esculturas que representam objetos diferentes (animais, árvores, objetos artificiais…). Nesta situação, naturalmente, os prisioneiros pensariam que as sombras e os ecos das vozes que se ouvem são a verdadeira realidade.

Platão defende que um prisioneiro libertado aos poucos iria descobrir diferentes níveis de realidade autêntica: primeiro ele veria os objetos e a luz dentro da caverna, mais tarde ele veria de fora, em seguida ele veria o reflexo desses objetos da água e, finalmente, os objetos reais. Finalmente, ele veria o sol e concluiria que ele é a razão das estações, que governa o reino dos objetos visíveis e é a razão de tudo o que os prisioneiros podem ver. Lembrando a sua vida na caverna e seus companheiros de cativeiro, ele se sentiria feliz por estar livre e, apesar dos perigos, voltaria para o mundo subterrâneo para libertá-los.

Estas são as chaves que Platão nos dá para ler o mito: a fuga para o mundo exterior visando a contemplação dos seres reais (metáfora do mundo das ideias) deve ser comparada com o caminho de nossas almas para elevar-se ao mundo inteligível.

A teoria das ideias responde a pergunta sobre a possibilidade de conhecimento. Esta teoria divide o mundo em duas esferas de realidades distintas, ontologicamente, que correspondem a duas sabedorias diferentes. Os tipos de conhecimento são: ciência, que cuida das ideias imutáveis e está dividida em dialética e pensamento discursivo e parecer, que é o conhecimento do mundo sensível e mutável e, por sua

 

vez, está dividido em crença (animais que nos rodeiam, plantas e objetos artificiais) e conjecturas (que se ocupam de “tons” e coisas semelhantes).

Platão trabalha a ideia de ciência (conhecimento estritamente falando) baseada na sensação como critério de verdade não possível, pois não podemos ter ciência das coisas mutáveis (do mundo sensível), que somente aparecem aos nossos sentidos. A ciência deve ser baseada na razão, que estuda a natureza ou essência das coisas (ideias). A ciência estritamente falando não consegue lidar com as coisas que estão mudando continuamente; o mundo sensível está em constante mudança, por isso a ciência não pode estudá-lo. Esta deve estudar um mundo imutável.

Platão concebe o homem como um composto de duas substâncias diferentes: o corpo, que nos liga ao mundo sensível, e a alma, que nos retira dessa esfera material e se relaciona com um mundo superior – esta é entendida como imortal e tem um destino superior ao corpo. Essa superioridade vem do fato de que a alma, ao contrário do corpo, é, em essência, um princípio de retidão e conhecimento. O corpo é governado pela corrupção e pela morte, enquanto a alma é imortal.

 

 

 

 

Aristóteles

 

 

 

Com Aristóteles, a filosofia grega chega a seu ápice no que se refere à sistematização do conhecimento. Estabelece as leis norteadoras do pensamento válido para dedicar-se depois à cosmologia, na qual ele observa a matéria e a forma mostrando que foi profundo investigador da natureza e caracterizando-se por seu realismo, elemento que estimulava suas observações.

 

Depois de estudar o mundo físico e o homem, Aristóteles passa para a metafísica, na qual, através de abstração, ele constrói sua ontologia, estudando o ser, suas causas, possibilidades e realizações com as ideias de potência e ato. Potência significa que uma coisa pode ser, mas ainda não está na realidade. O ato significa existência plena e perfeita, como se a ação mais perfeita de uma coisa existisse apenas para ser o que é.

As coisas reais da natureza são compostas pelos dois fatores acima mencionados. Eles estão em ato porque realmente existem, mas sua existência é incompleta porque eles estão sujeitos a alterações e por isso têm uma potência de certos tipos de mudanças. O homem seria, como todos os seres da natureza, formado de matéria de modo que o corpo seria a matéria e a alma, a forma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Teodiceia: Doutrina, tratado sobre a justiça de

Deus.Parte da filosofia que trata da justiça de Deus.

Aristóteles estranha alguém pensar que a sabedoria prática é a mais excelente forma de conhecimento. Ele diz que a sabedoria teórica produz felicidade por ser uma parte da virtude, e que a sabedoria prática olha para o desenvolvimento da sabedoria teórica emitindo comandos para a sua atuação. Assim, é evidente que o exercício da sabedoria teórica é um componente mais importante do nosso objetivo final do que a sabedoria prática.

Em seus escritos, trata ainda da ética e política. Nestas o comportamento moral seria de acordo com a razão e seu fim seria a felicidade do homem e a política na qual o estado é um organismo moral em que se objetiva o bem da sociedade. Aristóteles defende a ideia de que existem diferenças de opinião sobre o que é melhor para os seres humanos e que devemos resolver essa divergência.

Ao levantar a questão “O que é o bem-estar?”, Aristóteles não está à procura de uma lista de itens. Ele assume que essa lista pode ser reunida com bastante facilidade. A maioria concorda, por exemplo, que é bom ter amigos, sentir prazer, ser saudável, honrado e ter virtudes como a coragem. A questão difícil e controversa surge quando perguntamos se alguns desses itens são mais desejáveis do que outros. A busca de Aristóteles pelo bem- estar é uma busca pelo bem-estar maior e ele assume que este tem três características: é desejável por si mesmo e não pode ser a finalidade da vida, pois embora seja desejável por si mesmo, não é válido por si mesmo, mas como um relaxante que nos torna aptos a uma atividade séria.

Finalmente Aristóteles chega à conclusão da existência de um Ser que é o motor do universo, a causa primeira de tudo o que existe: Deus. Este seria

o real absoluto, puro. A Teodiceia se fundamenta na razão natural e não na

Revelação Escrita.

Como já dissemos, com Aristóteles a filosofia da Grécia chega a seu apogeu, pois trata de tudo que nos cerca e que é objeto do pensamento. Embora, em vários aspectos, o pensamento de Aristóteles esteja ultrapassado, nosso mundo ocidental ainda sofre sua influência. Costumamos dizer que “ou contra Aristóteles ou a favor de Aristóteles, mas nunca sem Aristóteles”, pois quando se trata da retrospectiva da filosofia em geral, está presente a visão aristotélica, defensora da ideia de que o homem é a medida de todas as coisas.

 

Pensamento Cristão

O Cristianismo não é considerado uma filosofia, no sentido de ser um conjunto de conhecimentos fundamentados na razão natural, mas uma religião. Seu estabelecimento foi fundado em princípios recebidos por um processo sobrenatural de seu fundador, Jesus Cristo, e nos ensinos de apóstolos e profetas supostamente inspirados pelo Espírito Santo. Desta forma, o Cristianismo não se constitui como filosofia pelo fato de buscar suas respostas no campo místico.

 

Patrística

Com o advento do Cristianismo e sua disseminação por todos os recantos do império romano, os princípios por ele estabelecidos entraram em contato com o pensamento greco-romano. Na busca de explicar e defender os princípios pregados por Jesus Cristo, os pais da Igreja procuravam fazê-lo justificando esses princípios pela argumentação lógica da razão. Houve a tentativa de fazer uma síntese entre as doutrinas cristãs, refutar as objeções dos pensadores pagãos e esclarecer as verdades do evangelho de Cristo, usando-se os argumentos da lógica.

Durante os primeiros séculos da era cristã, o pensamento dos pais da Igreja Cristã incipiente que se espalhava rapidamente pelo império passou por três fases distintas: período de formação do apogeu com a figura destacada de Santo Agostinho e um período de transição para a Escolástica que surgiria depois.

Santo Agostinho domina o pensamento da época da patrística como Tomás de Aquino o faz na Escolástica. Agostinho procurou, ao expor as doutrinas cristãs e o pensamento filosófico cristão, harmonizar elementos da filosofia pagã grega, especialmente de Platão, desenvolvendo um sistema metafísico em que tentou integrar elementos estranhos ao Cristianismo autêntico como é o caso do dualismo antropológico, em corpo e alma, em vez de ser o homem um ente uno e indivisível. A alma seria um ente espiritual que se separa do corpo por ocasião da morte; esta doutrina é aceita até hoje pelo catolicismo.

Para Santo Agostinho, a maior verdade é Deus e Sua criação. Segundo ele, há uma disposição hierárquica dentro da natureza na qual somente Deus é maior do que a razão humana. Ele argumentou que deve haver uma “concordância necessária” entre razão e fé. A fé pode ajudar a “iluminar” verdades de filosofia e de raciocínio ao longo do caminho para conhecer a Deus, e a razão pode ajudar a fé na compreensão da perfeição de Deus.

 

Santo Agostinho correlacionava as etapas da vida cristã com as etapas da história na sua obra Enchirdion. Em primeiro lugar, os seres humanos viviam na ignorância e “perturbados por qualquer luta da razão”. Na história, este é o tempo da queda de Adão e da primeira aliança com Abraão.

Em segundo lugar, os seres humanos tornam-se conscientes da lei do pecado, sem o auxílio da fé, vivendo como um escravo do pecado, mas na culpa. Esta fase corresponde ao tempo anterior à graça de Deus.

Em terceiro lugar, com a consciência de Deus, os seres humanos lutam contra o pecado. Esta fase corresponde a viver sob a graça de Deus, ou seja, a partir da Encarnação de Cristo até a idade dos escritos de Agostinho.

Em quarto lugar, os homens são recompensados por sua fé com a tranquilidade do espírito e a ressurreição do corpo. Esta etapa corresponde à descoberta da verdadeira paz e o fim da história.

 

Escolástica

Na tentativa de justificar e expor os ensinamentos do Cristianismo por meio de argumentação lógica estabelecida por Aristóteles, Tomás de Aquino deixou sua obra Suma Teológica em que procurou fazer uma síntese harmonizando a doutrina cristã e a lógica aristotélica. Nesta tentativa, o Cristianismo passou a constituir-se de elementos que não eram parte do Cristianismo primitivo pregado por Seu fundador, Jesus Cristo.

Podemos afirmar que o Cristianismo foi além de Cristo, isto é, em sua forma global, elementos estranhos aos ensinos de Cristo entraram na constituição dessa filosofia medieval. Foi uma obra gigantesca e se constitui, ainda hoje, na maior parte da filosofia e doutrina do catolicismo romano.

Tomás de Aquino trabalha a reconciliação entre fé e razão. A razão pode ser usada para explicar, colocar em ordem e desenvolver as doutrinas reveladas. Os dogmas da religião cristã não são aceitos por toda a humanidade. Acontecem algumas tentativas de debilitar os alicerces da fé, e alguns, sem prestar atenção aos fundamentos, atacam o edifício sagrado em pontos que para eles parecem fracos.

Contra tais ataques, não podemos usar todas as armas, exceto aquelas fornecidas pela razão porque os nossos adversários não admitem os princípios da fé. A razão, diz São Tomás, pode defender a fé de duas maneiras: em primeiro lugar, mostrando que as objeções apresentadas se baseiam em mentiras; e em segundo lugar, mostrando que, seja qual for a verdade, não é possível provar a falsidade do dogma cristão. Resumindo, a razão prepara a mente para a fé, assim como também explica e defende as verdades desta.

 

O paradigma da Consciência

O período da história que se seguiu à Idade Média, cujo fim data de 1453 com a queda de Constantinopla, é chamado de Era Moderna. Não vamos aqui alinhar todas as características desse período, mas nos reportaremos aos movimentos que caracterizaram o pensamento.

Nesse período, a filosofia voltou a libertar-se dos elementos sobrenaturais da religião cristã constituída em seus fundamentos pelo pensamento oriundo da razão natural, sendo seu mais lídimo representante, René Descartes.

A era moderna caracterizou-se por maior liberdade de pensamento, de publicações e disseminação de obras produzidas em virtude da invenção da imprensa. Grandes navegações descobriram outras partes do mundo; desse modo, também houve mais possibilidade de ampliação e diversificação do pensamento bem como sua disseminação.

Esse período, que vai desde meados do século XV até o século XVIII, na história do pensamento teve vários aspectos e passou por várias fases, em sequência: Renascença e Reforma (séculos XV e XVI); Racionalismo (século XVII); Empirismo (séculos XVII e XVIII) e Iluminismo (século XVIII).

 

Renascença

A primeira fase da Idade Moderna caracterizou-se pelo movimento de reação à Escolástica que dominou a segunda parte da Idade Média. Esta reação foi uma revolta contra a autoridade e atitudes religiosas como forma de restaurar e valorizar a dignidade do espírito humano. Foi uma reação ao catolicismo, pois certos ensinamentos da Igreja mostraram-se como não sendo verdadeiros em suas declarações científicas.

No entanto, entre os aspectos dessa forma de pensamento renascentista, salientamos o imanentismo e o humanismo. No aspecto da religião propriamente dita surge a Reforma Protestante.

A Renascença, enquanto movimento, foi o renascer do pensamento clássico grego, principalmente com a influência de Platão e Aristóteles, e também do epicurismo (um sistema filosófico, que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo), estoicismo (filosofia segundo a doutrina originada por Zenão de Cício, o homem sábio o que prega a rigidez moral e a serenidade diante das dificuldades, e ceticismo (é um estado de quem duvida de tudo, de quem é

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lídimo:

O mesmo que legítimo, autêntico, vernáculo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Humanismo: No sentido amplo, significa valorizar o ser humano e a condição humana

acima de tudo. Está relacionado com generosidade, compaixão e preocupação em

valorizar os atributos e realizações humanas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Retidão: Característica, condição ou qualidade do que é reto.

descrente). O imanentismo nega a existência de influências transcendentais sobre o mundo. Tudo poderia ser explicado de maneira lógica sem haver necessidade de algo sobrenatural.

O humanismo se caracteriza como um sistema ou modo de pensamento em que os interesses e valores humanos estão acima de quaisquer outros, inclusive da crença em Deus. O homem volta a ser o centro do sistema; se há uma crença em Deus, Ele se encontra na periferia do pensamento sem ter qualquer ação sobre o mundo. O homem é que passa a ser considerado, celebrado e até divinizado.

Pela descoberta das leis naturais e pela aplicação do método científico, o homem julga-se o senhor do mundo e dominador da natureza. Na reação contra a escolástica sobressai o nome de Giordano Bruno que foi condenado pelo tribunal da Inquisição. Outros nomes despontam: Maquiavel, Galileu e Campanella. Mas o maior nome da Renascença é Erasmo de Roterdam que critica a vida social da época e exalta a religião natural de maneira humanista.

Desiderius Erasmus of Rotterdam (1467-1536), ou Erasmo de Roterdã, viveu numa época que tinha como pano de fundo a crescente Reforma Religiosa Europeia. Contudo, sendo um defensor da tolerância religiosa e crítico dos abusos dentro da Igreja, ele procurou manter uma distância com Lutero e continuou a reconhecer a autoridade do papa.

Erasmo enfatizou um profundo respeito pela fé tradicional, piedade e graça, e permaneceu como membro da Igreja Católica durante toda a sua vida. Em relação aos abusos clericais na Igreja, Erasmo continua empenhado em reformar a Igreja a partir de dentro.

A revolta de Erasmo contra as formas de vida da Igreja não resultou tanto de dúvidas como a verdade da doutrina tradicional. Sentiu a necessidade de aplicar seus conhecimentos na purificação da doutrina e na libertação das instituições do cristianismo.

Como acadêmico, Erasmo tentou libertar os métodos da Escolástica da rigidez e do formalismo das tradições medievais, mas não ficou satisfeito. Ele viu-se como o pregador da retidão. Acreditava que o necessário para regenerar a Europa era uma aprendizagem sã, aplicada liberalmente e sem receios pela administração de assuntos públicos da Igreja e do Estado. Esta convicção confere unidade e consistência a uma vida que, de outra forma, pode parecer plena de contradições.

 

Reforma

 

 

 

Na religião há o despertar de um estudo direto das Escrituras Sagradas que provocou a Reforma Protestante a partir de um monge católico alemão, Martinho Lutero, que, pelo estudo da Bíblia, descobriu que doutrinas defendidas pela Igreja eram contrárias aos princípios bíblicos.

 

Entretanto, as principais afirmações do protestantismo contrárias aos ensinamentos do catolicismo são: a corrupção do homem em virtude do pecado, a salvação do homem do pecado mediante a graça de Jesus Cristo e não por obras humanas, a autoridade suprema da Bíblia como regra de fé e prática sem ser necessária a interpretação exclusiva da Igreja conforme era ensinada, entre outras.

Lutero foi excomungado pela Igreja e passou a pregar e ensinar a doutrina fundamental do protestantismo: a salvação pela graça mediante a fé em Jesus Cristo que assumiu a culpa do pecado do homem, morrendo em seu lugar e possibilitando a salvação da humanidade. Esse movimento deu origem às Igrejas protestantes onde se dividiu o movimento da reforma nos anos posteriores.

O movimento da Reforma Protestante motivou um movimento dentro da Igreja Católica em reação e defesa da fé: a Contra-Reforma, liderada por Inácio de Loyola ao fundar a Companhia de Jesus.

Embora a Reforma se opusesse à Renascença, houve o mesmo espírito de reação contra a Igreja Medieval. Isso abriu portas para a fase seguinte do pensamento moderno: o Racionalismo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Excomungado: Considerado ruim, não aceitado.

 

Racionalismo

 

 

Gnosiologia (ou gnoseologia): É a parte da

Filosofia que estuda o conhecimento humano. É formada a partir do termo grego “gnosis” que significa “conhecimento” e “logos” que significa “doutrina, teoria”.

 

Subjetivismo: Sistema filosófico que só admite a realidade do sujeito pensante. Propensão para o que é subjetivo; tendência a considerar e

avaliar as coisas de um ponto de vista meramente pessoal.

O movimento do racionalismo preocupou-se com a questão do conhecimento. Como podemos conhecer as coisas e saber se elas são como parecem?

 

Essa preocupação com o problema gnosiológico deu origem a duas vertentes de pensamento: o racionalismo e o empirismo. Ambas se fundamentam no subjetivismo e no fenomenismo: um dando primazia à razão (racionalismo) e outro ao sensível (empirismo). O empirismo floresceu mais na Inglaterra enquanto o racionalismo foi na França.

O racionalismo está intimamente ligado às ciências em que os fenômenos são examinados à luz da razão. René Descartes, seu maior representante, através da obra “Discurso sobre o Método”, estabelece o caminho pelo qual o conhecimento deve ser adquirido e desenvolvido até que o pensamento se torne claro, preciso e adequado.

Quanto à expressão “raciocínio cartesiano”, (advinda de Cartesius, nome dado a Descartes na academia) significa um raciocínio claro, límpido, preciso. A verdade trata-se daquilo que é deduzido pelo intelecto; para Descartes, o fim da vida seria a procura pela verdade. Exerceu grande interesse pelo método racionalista, pelo espírito crítico na procura da verdade. Entre outros nomes do racionalismo, podemos mencionar Spinoza, Malebranche, Leibniz e Wolff.

 

Empirismo

No empirismo o conhecimento se fundamenta nas sensações e na experiência. Estas nos dão as aparências das coisas, como nós percebemos através dos órgãos dos sentidos. É um fenomenismo sensível em que se enaltecem a experiência e o método.

Portanto, todo o conhecimento é reduzido ao que obtemos através dos sentidos; não podemos conhecer a realidade das coisas, mas o modo como elas aparecem a nós em nosso subjetivismo. Verdade é aquilo que nós sentimos e o modo como sentimos. A religião não se encontra numa revelação especial, mas no processo de sentir a Deus e isso depende da subjetividade de cada um.

 

Os diferentes representantes do empirismo têm o mesmo fundamento: os sentidos. Contudo, variam entre si em certos aspectos do conhecimento e na forma como admitem a existência de Deus, a moral, a religião, a política e o próprio raciocínio. Entre os nomes mais conhecidos do empirismo citamos: Bacon, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume.

Com Francis Bacon encontramos a primeira tentativa sistemática para mostrar a importância do argumento indutivo na formação do conhecimento científico em oposição ao dedutivismo vigente à época. Os argumentos indutivos são argumentos de risco. Basearmo-nos em premissas verdadeiras não permite excluir a possibilidade da conclusão ser falsa.

 

 

Argumento indutivo

(1) Todos os corvos observados até hoje são pretos.

∴ Todos os corvos são pretos.

Estamos perante um raciocínio indutivo por generalização. A premissa refere-se à informação da qual dispomos acerca das características da amostra. A conclusão estende esta característica a todos os indivíduos pertencentes à classe nela representada, i. e., à população. Embora não se tenha a garantia de que todos os corvos têm tal característica, a amostra torna-se mais provável do que o contrário. É, portanto, mais racional, com base na amostra, concluir que todos os corvos são pretos do que concluir que há corvos que não são pretos.

Suponha agora que você está indeciso entre comprar uma de duas caixas de maçãs. O preço é convidativo, mas talvez por isso, o número de maçãs podres na caixa pode não ser compensador. Imagine que você tira, ao acaso, três maças da caixa A, verificando que duas estão podres; volta a fazer isso com a caixa B e verifica que todas as maçãs estão sãs. Como decidir?

O método de Bacon procura levar os homens aos próprios fatos particulares para que eles renunciem suas noções e se habituem às coisas: formação de noções e axiomas pela verdadeira indução e, assim, repelir os ídolos. Desse modo, ao invés de haver criação dos fenômenos, o homem conhece por meio da constatação, ou seja, os resultados do conhecimento advêm da adequada aplicação das regras estipuladas.

O autêntico conhecimento, para o pensador, somente é possível mediante a observação passiva e objetiva dos fenômenos da natureza com o objetivo de se alcançar as leis (universais) que os explicam. Bacon tentou desvelar a realidade

 

por meio de explicações objetivas ou isentas da subjetividade do cientista, decorrentes de observações neutras. Este empirista afirmou que o homem que deseja conhecer a natureza deve estar em contato com ela. Somente pode conhecê-la mediante a via empírica e experimental, nunca por meio da especulação – da antecipação mental, um produto da imaginação humana. Ademais, as observações devem ser registradas e catalogadas. As leis da natureza não estão no intelecto humano, mas na própria natureza, e o método de Bacon permitiria, por meio da observação, conhecer essas leis naturais e universais.

Existe, nas ideias de Bacon, um modelo que propõe a formulação de um novo método para a investigação da natureza de modo que se permita alcançar o verdadeiro conhecimento sobre os fenômenos. Segundo esse método indutivo, devemos partir dos fatos concretos – a experiência – para ascender às formas gerais – a abstração – no intuito de descobrir suas causas e leis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Associacionismo: Doutrina que faz da associação de ideias a base da vida mental.

Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento que pretendia iluminar com a razão o que havia de obscuro, místico e nebuloso na religião e tradição medieval. Em seu pensamento remontam as origens da humanidade e sofre a influência do racionalismo e empirismo do período anterior.

Como já vimos, o racionalismo contribuiu com o espírito crítico, analítico e com a atitude de demolir a tradição trazendo à cena a evidência, a clareza e a razão. O empirismo influenciou no pensar simples pelo mecanismo e associacionismo, processos fundamentados nos sentidos.

Este movimento, Iluminismo, almejava a capacidade de, através do conhecimento das leis naturais, do que o homem havia aprendido e acumulado, resolver os problemas deste e assim penetrar em todos os níveis da vida social, cultural, econômica e política.

O desenvolvimento do pensar e agir da sociedade veio eclodir na Revolução Francesa. O homem, usando de suas capacidades de raciocínio e ação, não poderia falhar, uma vez que conhecia agora tudo o que a humanidade havia acumulado pelos séculos. Este conhecimento foi reunido numa série de obras que, organizadas por alguns dos iluministas, deram origem à Enciclopédia Francesa.

 

Com esse conhecimento e a ação do homem, seriam resolvidos os problemas fundamentais da humanidade: liberdade, igualdade e fraternidade, ideais defendidos pela Revolução Francesa. A religião da Igreja é abolida e a religião natural, juntamente com a moral natural, é que vai determinar a conduta e a fé da sociedade.

O Iluminismo, surgido na Inglaterra, passou à França e então se espalhou pela Alemanha e Itália. Seus maiores nomes foram: D`Alembert, Diderot, Voltaire, Rousseau, Condillac, Vico, entre outros. O Iluminismo abriu as portas para outras correntes de pensamento da era que se seguiu: o pensamento contemporâneo.

François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694 – 1778), é umas das figuras centrais do movimento intelectual intitulado Iluminismo. Voltaire foi um filósofo francês do século XVIII, época em que a liberdade de pensamento era suficiente para estimular novos desafios à ordem estabelecida.

Recorrendo a uma crítica social mordaz, Voltaire condenou a injustiça, os abusos clericais, o preconceito e o fanatismo. Ele enfatizava a razão, desprezava a democracia, enquanto regra da multidão, e acreditava que uma monarquia esclarecida, informada pelos conselhos dos sábios, seria a proposta mais adequada para governar.

Os escritos de Voltaire são conhecidos por sua defesa à autonomia do indivíduo e do Estado com respeito à Igreja. Longe de ser um ateu, Voltaire acreditava no “eterno, supremo, ser inteligente” e pensava que a religião era uma coisa boa em uma sociedade civilizada. No entanto, ele discordava do fanatismo religioso. “Vi homens que apoiaram a ‘loucura de assassinato’ e homens que mataram por ‘amor a Deus’. E eu vi isso acontecendo em toda a Igreja. Se esta era a religião, que efeito teria sobre a sociedade, se ela somente iria criar uma ‘doença epidêmica’?”

Provavelmente sua obra mais famosa é a sátira Cândido, publicada em 1759. O pequeno volume faz oposição à doutrina filosófica e teológica de Leibniz, segundo a qual nosso mundo é o melhor de todos os mundos possíveis.

Respondendo a um desafio revivido na filosofia moderna de Descartes, Leibniz argumentou que o mundo onde vivemos é o melhor que Deus poderia ter criado para justificar o fato de Sua benevolência ser compatível com Sua onipotência.

Na representação mais genuína do espírito do Iluminismo, Voltaire mostrou, por uma sequência de exemplos, que o argumento de Leibniz não resiste ao teste da razão. No início do livro, um jovem chamado Cândido, é convencido por seu mentor, Pangloss, que este é o melhor de todos os mundos. O mentor orienta o jovem a realizar uma viagem ao redor do mundo e a testemunhar, em primeira mão, alguns dos mais cruéis e infelizes acontecimentos na história recente (por exemplo,

 

o terremoto de Lisboa de 1755 e a Guerra dos Sete Anos). Porém, Cândido muda de ideia com respeito à lição de Pangloss. No final, decide não aceitar qualquer forma de crença com respeito à benevolência de Deus e decide cuidar de assuntos mais imediatos para a sobrevivência: sua fazenda. “Devemos cultivar nosso jardim”.

Outra figura de destaque do Iluminismo foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).

Sua influência é considerada fonte de inspiração durante a Revolução Francesa.

Este filósofo suíço criou uma filosofia revolucionária baseada em uma oposição rígida: a natureza é boa, a sociedade é ruim. Rousseau afirma que, por natureza, o homem que não foi atingido pela civilização, é bom e sociável.

O pensamento de Rosseau propõe a construção utópica de um estado natural sobre a estrutura do estado da sociedade. Para este, a natureza pertence a todos, não é artificial, mas real; a natureza também se pode associar o sentimento, a espontaneidade, sinceridade, vida rural, os povos primitivos, selvagens e a criança, que não é corrompida pela sociedade.

Por outro lado, pertencem à sociedade as convenções, a moda, hipocrisia, elegância, bondade, as instituições. É na sociedade que os indivíduos tentam controlar seus próprios impulsos por consideração aos outros.

A transição do homem do estado natural, associado à imagem do “bom selvagem” (espécie de inocência natural, sem o pecado original), para o estado da sociedade, torna-o um ser menos feliz, menos livre. Para Rousseau, uma comunidade de cidadãos é única. É uma parceria, e não uma personalidade total, moral e coletiva.

Rousseau afirmou que a vontade popular é a única forma de organização política. Ele acreditava que o povo soberano não pode ser representado, nem pode delegar sua autoridade ou seu direito de governar.

A ideia de progresso está claramente sob ataque. Aparecendo a sociedade, o homem começa a perder a liberdade e a desigualdade começa a ganhar terreno quando se define o direito de propriedade e autoridade. Assim, a sociedade é uma farsa, que supostamente procura unir os homens em defesa dos mais fracos, mas na realidade o que acontece é a defesa dos interesses dos ricos. As diferenças são claras: rico, pobre, poderoso, fraco, senhor e escravo. A consciência é o único reduto intacto, mas praticamente ignorada. O homem, fora de si, é considerado alienado.

A ordem social, segundo Rousseau, é um direito sagrado que subjaz a todos os outros. É uma forma de associação que protege não apenas seus associados como também seus bens, e pela qual, unindo-se cada um a todos, terminam obedecendo a si mesmos e permanecem tão livres quanto antes.

 

Para Rousseau, o estado ou a cidade é uma pessoa moral, cuja vida é a união de seus membros. É na comunidade que os homens dão início à liberdade civil (liberdade de direito natural e não apenas moral).

Como a natureza dá a cada homem um poder absoluto sobre todos os seus membros, o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus. O retorno do homem às exigências do “natural” é fundamental. O primeiro passo é a transformação do indivíduo por intermédio da educação.

 

 

O paradigma da Linguagem

 

Durante os séculos XIX e XX, o pensamento se dividiu em correntes influenciadas pela era moderna e continuou em diferentes direções. Tendo como fundamento o imanentismo e subjetivismo, diversas correntes surgem como o idealismo, positivismo, espiritualismo, entre outras.

 

Idealismo

Uma grande reviravolta ocorre no pensamento de Immanuel Kant. Procurando sintetizar o racionalismo e empirismo, Kant faz uma crítica especulativa em que surge como primado o argumento de que não podemos realmente conhecer a realidade das coisas, apenas sua aparência. Não podemos saber se realmente as coisas são como aparecem para nós. Conhecemos as ideias, mas não temos como conhecer a realidade. Immanuel Kant (1724-1804) descreveu que os atos de qualquer tipo devem ser realizados a partir de um sentido de dever ditado pela razão.

Será que o bem e o mal, o certo e o errado, poderão ser universais sem necessidade de recorrer a um Deus único? Kant foi um dos que pensaram ser possível justificar a existência de regras universais de comportamento apelando à sua origem racional. Se quisermos defender a universalidade das regras de conduta, precisamos nos embasar na razão, algo que todos os seres humanos têm em comum. Kant falava de regras de conduta moralmente significativas.

O indivíduo deve evitar ser influenciado por constrangimentos externos e rejeitar a autoridade externa, que seria arbitrária e caprichosa, porque a mais alta autoridade somente pode estar na razão. A condição para isso é a liberdade de fazer uso público da razão. Seu desejo é a liberação de dogmas metafísicos, de preconceitos morais, de relações desumanizadas entre homens e tiranias políticas.

 

Por outro lado, somente conhecendo o seu potencial enquanto ser racional, o homem pode ser verdadeiramente livre.

Kant influenciou o pensamento de outros filósofos que seguiram a linha do idealismo desenvolvendo sistemas de pensamento com características próprias e que influenciaram a vida moderna. Entre eles, podemos mencionar: Fichte, Hegel, Schelling, Schleiermacher, Schopenhauer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imanentismo : Doutrina metafísica segundo a qual a presença do divino

Positivismo

 

 

O positivismo representa uma reação ao idealismo imanentista e procura limitar-se à experiência imediata, pura, sensível. Tenta aplicar os métodos da ciência à filosofia buscando assim resolver os problemas do mundo e da vida, embora fique no mesmo âmbito do imanentismo idealista.

 

é pressentida pelo homem, mas não pode ser objeto de qualquer

conhecimento claro.

Do ponto de vista do conhecimento, o positivismo admite como fonte de verdade a experiência, os fatos positivos, os dados sensíveis. Teve um impulso graças ao desenvolvimento dos problemas econômico-sociais que necessitavam de uma visão materialista para sua solução.

August Comte destaca-se como o maior representante do positivismo francês e exerceu influência sobre várias correntes que derivaram do pensamento positivista. Para Comte, o pensamento da humanidade passa por três fases: a teológica – quando a humanidade procura explicar os fenômenos da experiência recorrendo a seres divinos; a metafísica – quando busca a solução através da razão; e a positiva – procurando entender os fatos através da ciência, bem como solucionar seus problemas por meio dela.

A filosofia de Comte se conecta com o pressuposto da razão e da ciência como o único guia da humanidade, capaz de estabelecer a ordem social, sem apelar para o que ele considera obscurantismo teológico ou metafísico.

August Comte propõe a ciência enquanto único guia para a humanidade e a adoção do método científico como base para a organização política da sociedade.

No processo de evolução, a sociedade passou por três momentos:

  1. Estado Teológico: diz que dois fenômenos naturais sociais são causados por forças divinas – “Tudo o que acontece no mundo é a força divina”.

 

  1. Estado Metafísico: o mundo é explicado pela entidade ontológica como a metafísica.
  2. Estado Positivo: a explicação dos fenômenos sociais e naturais por meio do método científico.

 

 

Ecletismo Filosófico

Da segunda metade do século XIX e durante o século XX nota-se que houve um posicionamento em que o homem tendeu a refletir sobre sua consciência e sobre o fato de haver em cada um a capacidade de ver as coisas a seu modo.

Assim surgiu um ecletismo em que cada um sofria influência dos modos de pensar anteriores; surgiram então diferentes direções e correntes de pensamento dependendo da posição de seus iniciadores. Alguns chamam estes movimentos de espiritualistas em que a autoconsciência exerce papel preponderante.

Podemos mencionar correntes como o evolucionismo de Spencer, o monismo materialista de Feuerbach, o socialismo e o materialismo histórico de Marx, o psicologismo de Wundt, o pragmatismo de William James, entre outros.

 

Século XX

Durante o século XX, percebemos uma reação ao idealismo e ao positivismo, bem como às formas ecléticas anteriores. Provavelmente em decorrência das duas grandes guerras mundiais, desenvolveu-se uma forma de pensamento pessimista, mas que procura encontrar uma saída para a solução dos problemas do homem.

Foi considerado o século mais violento, época de recusa de dogmas desprovidos de uma sustentação nos interesses essenciais de cada um. Século em que mais houve confronto de ideias, pois o aumento da violência na era contemporânea resultou não apenas em morte massiva, mas também na perda de autoridade dos governos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Psicologismo: explicação psicológica dos atos humanos

em detrimento da explicação por uma qualquer outra ciência

 

Intuicionismo

Para essa forma de pensar, o conhecimento se fundamenta não nos conceitos da mente, mas na intuição. Somente a intuição será o tipo de conhecimento concreto e absoluto. Entre esses pensadores destacamos Bergson, que procura iniciar seu conhecimento num impulso vital que seria o início de seu processo de conhecimento. Esse impulso inicial se encontraria no próprio Ser, e este seria o próprio Deus, embora não fale muito nisso em sua obra.

 

Fenomenologia

Embora muitas correntes existissem sem muita influência, uma se notabilizou exercendo papel de movimento mais generalizado: a fenomenologia. Nesta se deu um valor ao fenômeno, isto é, como as coisas aparecem diante da consciência. Tornou-se o objeto da pesquisa a essência das coisas, como as coisas são, sem atribuir a elas qualquer significado. Seria um estudo descritivo do que a coisa é em si, em sua essência.

A função da fenomenologia é apenas conhecer e descrever as coisas, independente dos elementos referentes ao sujeito psíquico. O objeto é o que é dado ao sujeito, o que está presente na consciência. Conhece-se o fenômeno e não o que a coisa representa.

Entre os estudiosos de fenomenologia, Husserl se destaca como um de seus iniciantes, seguindo-se Scheler e Hartmann. Cada um deles procurou levar sua filosofia mais adiante contribuindo com outros detalhes e direções. A fenomenologia conduziu o pensamento humano para outra manifestação durante o século XX: o Existencialismo.

 

Existencialismo

Limpando as coisas de qualquer significado e examinando-as em si, o espírito humano, ao tomar consciência de sua existência, também percebe que é livre para atribuir a estas coisas significados diferentes. A declaração inicial é que a existência precede à essência.

A análise da existência humana surge como ponto de partida para qualquer reflexão sobre a realidade. O homem é o único animal que tem existência; esta é concebida como um presente absoluto e não como algo estático. A existência apresenta-se como algo que depois de criado é liberado e torna-se projeto. A existência, portanto, é algo pertencente apenas aos seres que podem viver em liberdade.

 

De acordo com esta distinção entre essência e existência, a posição metafísica tradicional sobre a relação Deus/seres humanos poderia ser reduzida a uma simples explicação: Deus pensou o homem (sua essência) e, posteriormente, criou, ou seja, deu existência ao pensamento. A mente pode decidir que rumo vai tomar e o que vai ser. É a total independência do espírito humano em construir sua própria natureza.

O ser humano, ao perceber-se no mundo sem qualquer significado, traz à mente um senso de total desamparo sem ter apoio em mais nada a não ser em si mesmo. O estar no mundo provoca no espírito humano a necessidade de se autodefinir buscando construir sua própria essência. Esta filosofia, portanto, é um humanismo, na qual, desprovida de Deus e de significado, a vida se torna sem sentido a não ser que o sujeito lhe dê significado e direção.

O existencialismo reflete sobre o estar no tempo e o caminhar para a morte. O ser estaria direcionado para a morte. O significado da existência seria elaborado pelo próprio homem, daí o significado de humanismo.

Dos principais existencialistas, mencionamos Kierkegaard (seu iniciador), Heidegger, Jaspers, Paul Sartre, Merleau Ponty, Simone de Beauvoir, entre outros. Sem dúvida, o representante mais notável do existencialismo no século XX foi Jean Paul Sartre com grande número de obras, especialmente “O Ser e o Nada”, na qual apresenta as linhas mestras de seu pensamento.

Jean Paul Sartre explica que o homem é existência e com esta existência ele vai construindo a sua própria essência, que é a sua autobiografia. A existência antecede e é superior à essência. O homem não apresenta uma essência universal; ele desenvolve a sua própria essência, única, que não coincide com nenhuma outra. Esta essência é elaborada pela liberdade, que caracteriza para Sartre a própria existência humana.

Com a liberdade, o homem constrói sua própria essência e atribui sentido às coisas; ela é o fundamento da essência que ele vai construindo. O homem que vive sua liberdade sente o peso esmagador desta responsabilidade e isso causa-lhe angústia. Por este motivo, a grande maioria das pessoas prefere fugir da existência autêntica, que é livre, responsável e angustiada, refugiando-se em valores e regras anteriormente elaborados.

Sartre nega a existência de Deus. Se Deus existir, o homem já não pode ser livre, pois Ele, enquanto Ser infinito e criador, estaria de posse de todas as essências que criou. O homem seria, nesse caso, uma essência já feita, determinada, incompatível com a liberdade. Posto que o homem é livre, segundo Sartre, Deus não pode existir.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Idiossincrasias:

Particularidade comportamental própria de um indivíduo ou de um grupo de pessoas.

Pós-Modernismo

Desde o final do século XX, a tendência geral do pensamento humano é totalmente diversificada, não apenas no pensamento como também na ação.

O pós-modernismo é caracterizado como eclético, haja vista misturar tendências, estilos, questões culturais e modos de pensar dentro de um individualismo e subjetivismo aceitos como libertação de todo pensamento pré-fabricado. Não há regras a serem seguidas e sua ideia básica consiste no seguinte: “É proibido proibir”.

Um ideal não pode ser imposto a uma sociedade de indivíduos. Tudo é incerto, inseguro, contudo, cada qual tem seus direitos, idiossincrasias, modos de pensar e agir. A ciência não pode mais ser considerada fonte de verdade, pois a verdade é relativa a cada indivíduo.

Não existe um sistema de pensamento, pois o pós-modernismo defende o fim dos sistemas. Repudia-se a objetividade, a disciplina formal. Não é possível chegar-se a uma conclusão única. Não há clareza de pensamentos, nem definições ou conceitos objetivos.

No entanto, percebe-se que, deste modo, a humanidade caminha para um caos. Dos principais representantes deste modo de pensar destacamos Lyotard, Derrida, Foucault, Lacan, entre outros.

Para onde caminha o pensamento humano? Somente o tempo nos dirá. É oportuno e conveniente que reflitamos sobre nossa atual situação e procuremos encontrar uma filosofia que seja consistente, coerente com as leis do pensamento válido e traga confiança, tranquilidade e paz ao inquieto espírito do homem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3

A FILOSOFIA E SEUS CAMPOS DE CONHECIMENTO

 

Conhecimentos

Compreender os diversos campos do saber filosófico atual.

 

Habilidades

Identificar a essência das ideias e a forma como elas são abstraídas, formadas ou construídas a partir da realidade concreta das coisas;

Reconhecer as suas ações práticas, relacionadas à própria vida e à vida de outros seres.

 

Atitude

Ampliar o conhecimento filosófico sobre os diversos campos da vida humana, articulando esse conhecimento às práticas cotidianas, especialmente nas ações ético-políticas, epistemológicas e estéticas.

 

 

 

A Filosofia e seus

Campos de Conhecimento

 

Como já tivemos a oportunidade de estudar, a filosofia nasceu na Grécia. É difícil saber a data exata em que a palavra filosofia começou a ser utilizada num sentido próximo do atual. Filosofia é a atividade a que se dedicam os que amam/procuram o saber. Os primeiros filósofos começaram a se interessar pelo estudo dos fenômenos naturais de maneira a tentar compreender as causas que lhes deram origem.

Apesar de suas teorias terem sido ultrapassadas, elas representaram um avanço considerável em relação às explicações do seu tempo, baseadas na ação de seres ou forças sobrenaturais, como deuses, espíritos. A tarefa do filósofo consistia em descobrir essas causas através da observação cuidada da natureza e da utilização correta da razão. No entanto, a filosofia incluía a procura de conhecimento em todos os domínios, e não apenas acerca da natureza. Aos poucos, a explicação tradicional para a origem e ordem do mundo foi substituída por uma nova visão científica da natureza, das suas leis e dos seus padrões de funcionamento.

Hoje, filosofia e ciência tornaram-se áreas distintas, ao contrário do que sucedia no início, quando os primeiros filósofos foram também os primeiros cientistas. O estudo da natureza passou a ser feito por diferentes disciplinas voltadas para a investigação de certos setores específicos do mundo natural. Ciências como a astronomia, física, química, biologia, psicologia, sociologia, ganharam autonomia desenvolvendo-se de forma cada vez mais independente da filosofia. O mesmo sucedeu com a matemática e a geometria. Com o decorrer do tempo, a filosofia tornou-se uma disciplina particular, com temas próprios, distintos daqueles de que se ocupam as várias ciências. Algumas das disciplinas filosóficas, tais como a filosofia da religião, a ética (ou filosofia moral), a filosofia política, a estética e a metafísica serão discutidas nesta unidade de estudo.

 

A Ontologia e Axiologia

A parte da filosofia preocupada em estudar a essência das ideias que são abstraídas, formadas ou construídas, a partir da realidade das coisas, denomina-se Ontologia. Podemos afirmar que a ideia é a representação intelectual de um objeto qualquer; ela é construída exatamente pelo processo de abstração, o qual tira de um objeto os elementos essenciais que o constituem e formam a representação na mente.

 

Assim, os elementos essenciais estão presentes tanto na ideia como nos objetos concretos.

Tomemos como exemplo o objeto cadeira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mocho:

Assento de madeira sem braço nem encosto.

Quando olhamos para uma cadeira, verificamos que ela é constituída de três elementos essenciais: uma base (que pode ser de quatro pernas, três, ou apenas uma, com largura que possa dar suporte ao segundo elemento), um assento e um encosto.

Para nossa mente, na cadeira estão presentes esses três elementos; se faltar um dos três, ou mesmo se houver os três e estes se encontrarem de uma forma diferente da que se apresenta no objeto, não é mais cadeira, mas outro objeto. Se não tiver o encosto, será um banquinho ou mocho. Se a cadeira tem apoio para os braços, chamamos de poltrona. Assim, se retirarmos ou acrescentarmos elementos ao objeto, já teremos outro ser.

No estudo do ser podemos nos referir à sua existência e aos elementos que o constituem; estes correspondem à essência do ser. Podemos também analisar as causas pelas quais o ser existe, as diferentes maneiras pelas quais o ser se apresenta e ainda o valor que ele tem, ou que lhe atribuímos. Quando examinamos a ideia de ser, notamos esses dois aspectos: essência

e existência.

 

Tudo o que há na realidade, ainda que esta seja no campo abstrato, existindo apenas na mente como uma ideia, tem uma essência, algum elemento ou substância que a forma. Se pensarmos em paciência, por exemplo, e analisarmos essa ideia, notamos que ela é constituída de outros elementos também abstratos como tolerância, generosidade, esperança, tranquilidade, entre outros.

 

 

Agora no caso concreto da cadeira, ela é construída de madeira, tecido, estofo de algodão ou outra matéria qualquer: é a sua essência. Existe, porém, uma correspondência entre os elementos concretos e abstratos da cadeira.

Já mencionamos que tudo o que existe tem uma essência. É o princípio racional da essencialidade. Naturalmente, se pensarmos na existência de um objeto ou ideia, primeiro deverá haver uma essência que, adequadamente relacionada, deve dar origem à existência de um ser. É a essência antecedendo a existência.

Entretanto, quando consideramos o ser e suas possibilidades de se desenvolver ou adquirir para si alguns atributos sem, contudo, mudar sua essência, denominamos este conjunto de possibilidades de potência. Quando esses atributos passam a existir no ser, dizemos que é o ser em ato. Nenhum ser tem sua existência espontaneamente, casualmente. Todo ser pressupõe a existência de outros seres que promovem sua existência, exceto o ser primeiro.

É o princípio da relação causa-efeito da causalidade. Ao fator que promove a existência do ser denominamos causa eficiente. O conjunto de elementos que constituem o ser, sua essência, quer seja um objeto concreto ou ideia abstrata, compõe a causa material.

 

O ser se apresenta de alguma forma que o identifica. É o que se denomina de causa formal.

Quando o ser é concebido, tem um propósito a cumprir. Este propósito chama- se causa final.

 

A axiologia é a parte da filosofia que estuda a existência e importância dos valores. A palavra origina-se de dois termos gregos: axis: valor e logia: estudo

 

Trata-se do estudo dos valores que as coisas têm, ou que nós, seres humanos, atribuímos às coisas. O valor é uma qualidade que as coisas têm em si, ou que nós lhes atribuímos.

Com isso, podemos, desde o início, perceber pela definição que um valor é objetivo quando a coisa tem valor em si mesmo, ou subjetivo, quando nós atribuímos às coisas alguma qualidade que elas não têm em si mesmas.

Em relação ao tempo, os valores podem ser classificados em: temporais, temporários, permanentes e eternos. Dizemos que um valor é temporal quando ele existe enquanto durar o tempo. Será temporário quando existir por certo tempo e depois não servir mais como valor. Será permanente enquanto durar o objeto, e eterno, quando não depender de tempo nem de circunstâncias, durar para sempre.

Se considerarmos a natureza da qualidade em si e o que o homem pode ter, podemos ainda classificar os valores em:

Volitivo: Capacidade que o homem tem de fazer escolhas entre duas ou mais possibilidades e força de vontade em executar suas decisões.

Espiritual: Capacidade que o homem tem em relação às coisas transcendentais,

 

isto é, que ultrapassam ao âmbito humano, da vida presente e do mundo natural. Estabelecer relação com Deus e obter respostas às questões levantadas pela mente bem como os pedidos que Lhe foram feitos é um exemplo.

Intelectual ou mental: Capacidade que a mente tem de pensar, efetuar processos e tirar conclusões, entendendo o mundo, seu lugar e papel a realizar neste.

Social: Capacidade de estabelecer relação com outros seres humanos e executar tarefas em comum ou coletivamente.

Ético ou moral: Capacidade de estabelecer, aceitar e agir de acordo com princípios de conduta pelos quais o ser humano se deixa conduzir durante sua vida.

Afetivo: Capacidade de desenvolver e deixar-se envolver por sentimentos,

emoções e paixões.

Estético: Capacidade do ser humano de estabelecer, aceitar e desenvolver princípios de percepção, apreciação e produção de beleza.

Físico: Capacidades físicas que o homem pode ter naturalmente ou desenvolver através de exercícios ou prática.

Material: Qualidades dos objetos ou coisas existentes na matéria.

Nem todos os objetos têm o mesmo valor. Alguns são mais importantes ou necessários que outros. A importância do valor pode ser dada pela pessoa ou pode ter valor em si mesmo. Exemplificando: um rapaz quer dar um presente a uma garota, então resolve comprar flores. A pergunta é: será que esse presente tem valor para ela? Os valores não estão nas coisas em si, eles dependem de quem avalia, por isso os valores variam de pessoa para pessoa. Quando nossos valores mudam, nosso olhar sobre o mundo também muda.

O homem quer entender as coisas, explicá-las e transmitir o conhecimento a respeito delas. Isso ele pode fazer através do processo da linguagem e do ensino prático. Mas esse ensino e essa linguagem devem expressar a verdade. Assim é que devemos entender a verdade. Nossa inteligência precisa entender as coisas para somente depois dizer que as conhece. Quando expressamos ou dizemos alguma coisa que corresponde à realidade, dizemos que aquilo é uma verdade. Portanto, verdade é a expressão exata da realidade.

Quando nossas ideias correspondem exatamente às coisas exteriores, dizemos que é uma verdade lógica; quando as coisas correspondem ao que pensamos sobre elas, dizemos que é verdade ontológica.

São quatro as posições da mente em relação ao conhecimento da realidade:

  1. Quando não temos nenhum conhecimento sobre o assunto, não podendo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Teocentrismo: Crença, ou doutrina, segundo a qual Deus é centro do universo.

afirmar ou negar qualquer coisa a respeito, dizemos que isso é ignorância.

  1. Quando nossa mente fica entre duas posições diferentes não podendo afirmar, convictamente, sobre qual posição é a verdadeira, dizemos que é dúvida.
  2. Quando afirmamos alguma coisa, mas temos receio de que podemos nos enganar, pensando que estamos certos, isso é opinião.
  3. Quando afirmamos, convencidamente, que estamos certos e não temos receio de estar errados, é certeza.

Para afirmar que as coisas são como pensamos, precisamos estar baseados em algum sinal de certeza. Sobre este sinal que usamos para servir de fundamento à nossa maneira de pensar, dizemos que se trata de um critério de verdade. Entre os vários critérios que podem servir de fundamento para nossas afirmações, mencionamos: os sentidos, a razão, o senso comum, o uso de instrumentos, a autoridade e a revelação.

O Teocentrismo cristão tem como verdade as afirmações feitas pela Bíblia. Este livro sagrado é aceito como verdade para a elaboração de uma cosmovisão cristã coerente com a realidade do mundo exterior e que explique a existência do bem e do mal, da origem de todas as coisas.

 

 

A filosofia prática

Uma das funções da filosofia é estabelecer regras de conduta para o ser humano. É a função normativa que apresenta regras, não somente para o processo de pensar de modo correto e válido (lógica) como também para indicar como o homem deve proceder em relação a si mesmo, aos outros seres humanos e ao ambiente em que ele vive e do qual depende para sua sobrevivência.

Essa parte da filosofia corresponde a Ética. Esse termo veio do grego ethos que quer dizer, caráter, costume, modo de ser. A ética é a parte que se preocupa em estabelecer um conjunto de leis que devem reger a conduta do homem. Trata-se de um conceito que engloba uma série de elementos destinados a conduzir o ser humano. Quando é aplicado esse conjunto de regras, temos a moral, cuja origem vem do latim mores e significa costumes. Os costumes de um povo, ou indivíduo, devem estar de acordo com as normas da ética.

 

Os seres humanos devem respeitar e compreender o ambiente em que vivem e precisam de liberdade para decidir, ou não, seguir os princípios éticos. Nesse sistema não há mais do que duas posições: obedecer, ou não, às determinações das regras. Tal sistema deve ter um conjunto de normas de conduta ao qual damos o nome de lei. Esta consiste na expressão da vontade de uma autoridade que tem o poder de impor uma regra e fazê- la cumprir. É expressa em forma de proposições que sejam inteligíveis ao ser humano. A lei estipula o padrão de conduta que o homem deve seguir estabelecendo ordem e harmonia na sociedade humana.

 

 

 

Em virtude da lei surgem outros elementos como:

Certo e Errado: Pela lei, passamos a conhecer o que é certo, adequado e próprio à conduta e o que está errado e que não devemos fazer.

A lei ainda expressa quais são os deveres e os direitos de uma pessoa em sua conduta. O que ela deve, ou não, fazer, quais são seus direitos para obedecer e porque ela obedeceu. Isso porque em virtude de sua obediência à lei, ela adquire mérito, ou merecimento, e no caso de desobediência, ela acumula demérito, ou desmerecimento.

Cada membro de uma sociedade ética deve responder por seus atos diante da autoridade do sistema. Daí surge a responsabilidade de um ser ético por sua conduta. Além de responder diante da autoridade, o ser humano tem uma consciência ética que julga o mérito ou demérito de suas ações.

No entanto, essa consciência deve estar estruturada de acordo com o sistema implantado para que seu julgamento seja coerente com este sistema. Portanto, assumir responsabilidade implica em sofrer as consequências resultantes dos atos praticados conforme a decisão de outro componente do sistema.

Cada sistema ético deve ter como elementos constituintes um corpo ou conjunto de pessoas que julgam as ações dos membros do sistema, verificando e avaliando-os de acordo com a lei. Se a avaliação indicar que o ser ético cumpriu a lei, recebe então a recompensa. Se for encontrado o transgressor da lei, este sofrerá as penalidades determinadas por ela.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Demérito: Desmerecimento; o que faz perder a consideração e a estima

 

Estética

Há uma parte da filosofia que trata sobre a natureza do que é belo e dos fundamentos da beleza: a estética.

 

A palavra estética, originada do grego aiesthetike, significa percepção, sensação, emoção. Refere-se a tudo o que provoca emoção, causa admiração e contribua para o desenvolvimento do ser humano.

Definimos aqui estética como a parte da filosofia que trata da beleza, dos princípios e regras que determinam o belo, conduzindo o homem à percepção, apreciação e produção de obras tidas como belas. Estas provocam nele emoções que vão enobrecer, elevar e conduzi-lo na direção de perfeição em sua personalidade.

 

Arte

Se a estética está preocupada em estabelecer os princípios e leis que regem as coisas belas, quando aplicamos estas leis e princípios na elaboração   de algo que expresse beleza, estamos diante do que denominamos de arte. Esta seria a aplicação das regras de beleza na produção de obras belas. É a obediência ao que denominamos de cânone estético.

Existem pessoas que têm um dom natural, uma tendência para as obras de arte; têm facilidade para produzir e interpretar obras estéticas. Já outras necessitam de estudo e treinamento para aprender alguma coisa sobre arte. Mas todos podem aprender, apreciar e produzir alguma obra de arte entre as várias artes existentes: música, pintura, escultura, dança, desenho, arquitetura, entre outras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Prezado estudante, sugerimos que leia a obra A Filosofia na crise da Modernidade, de Manfredo Araújo de Oliveira. Nesta o autor tece considerações sucintas sobre o mundo em que vivemos e fala da consciência como uma de suas principais características. O homem percebe que as coisas e o mundo estão mudando. Nosso mundo necessita urgentemente de uma reflexão sobre o sentido da virada que a cultura ocidental viveu e sobre as mudanças da modernidade.

 

 

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. A Filosofia na crise da Modernidade. 3ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

 

 

 

Sugerimos a leitura da entrevista de Fernando Savater, professor de Ética na Universidade de Madri, com o tema Da ética como método de trabalho. Nesta entrevista ele mostra como levar a filosofia para dentro de sala de aula e afirma que a ética é o caminho para uma vida melhor. Vale a pena conferir!

 

 

 

No decorrer da disciplina, estudamos sobre a Filosofia Clássica, onde um grupo de pensadores procurava descobrir quais os elementos que constituíam as coisas.

A Era Moderna é composta por várias fases. Vimos a Renascença, cuja essência era o humanismo, no qual a figura humana era mais importante. Deus continuava soberano, mas sem se opor a essa ideia, o homem era o centro das reflexões.

Martinho Lutero, durante a reforma, foi um dos primeiros a contradizer a doutrina da Igreja Católica. Após ser sido amaldiçoado pela Igreja, passou a ensinar a doutrina do Protestantismo.

Quanto ao movimento do Racionalismo, preocupou-se com o conhecimento. Já o Empirismo se fundamentava nas sensações e experiências, enquanto o Iluminismo defendia o uso da razão como sendo a ponte para alcançar a liberdade.

Na Era Contemporânea o pensamento foi dividido em várias correntes como o Idealismo, que procura a unificação da experiência mediante a razão, e o Positivismo, que tenta aplicar os métodos da ciência, buscando resolver os problemas do mundo.

Na segunda metade do século XIX surgiu o Ecletismo. Neste, cada homem reflete

sobre sua consciência e vê as coisas por seu próprio ponto de vista.

O Intuicionismo se fundamenta não nos conceitos da mente, mas na intuição. Já a Fenomenologia apresentou notoriedade dando valor ao fenômeno; e no Existencialismo, o espírito humano, ao tomar consciência de sua existência, entende que é livre para atribuir significado às coisas.

No Pós-Modernismo o pensamento humano é diversificado, não somente no

pensamento como no modo de agir.

Aprendemos a etimologia da palavra filosofia e seus conceitos atuais, que são os seguintes: cada pessoa vê o mundo que a cerca de sua maneira e o explica a seu modo; notemos que esse é um conceito mais amplo da palavra.

Outro significado que o termo filosofia desenvolveu foi o de conhecimento adquirido de forma sistemática, pensando e examinando as coisas; o conjunto dessas regras chama-se lógica. A filosofia, como modo de pensar, inclui não apenas uma compreensão intelectual, que denominamos de Cosmovisão – esta inclui todo conhecimento verdadeiro da ciência, da filosofia e da religião-, mas compreende também um saber que faça parte do nosso “eu”, de nosso ser psíquico. Abrange o conjunto total de nossas experiências vividas e modos de viver.

Considerando a função, ou funções, da filosofia, verificamos que sua natureza é tríplice, culminando em aspectos abrangentes e globalizantes:

  1. Ao expor seu sistema, analisando as causas fundamentais, explicando a essência das coisas, a filosofia é descritiva em sua natureza;

 

  1. Quando a filosofia estabelece as regras do pensamento válido bem como a aplicação destas no processo do raciocínio, ela passa a ter um caráter normativo;
  2. A parte da filosofia que faz uma avaliação do conhecimento adquirido pela especulação e verifica se as regras foram ou estão sendo obedecidas na conduta de uma obra de arte chama-se Filosofia Crítica. O conceito de crítica equivale à análise dos aspectos positivos e negativos, argumentando as colocações feitas nas funções

Um das formas de se conhecer é através da percepção de nossos sentidos, pois estes fazem parte de um processo de tomada de consciência sobre o que ocorre no mundo exterior.

A compreensão da realidade faz parte do conhecimento através do raciocínio e dos processos mentais que compõem a razão.

Da vivência, ou familiarização, fazem parte outros aspectos constitutivos do homem como afetividade, atividade e experiência prática em lidar com o objeto conhecido. Para conhecer o homem, precisa-se estar envolvido em sua totalidade.

Em primeiro lugar, devemos verificar se o que julgamos conhecer está de acordo com nossa experiência. Devemos saber que nossa experiência se inicia pelos sentidos. Se o que julgamos conhecer está de acordo com aquilo que é evidente e podemos sentir, consideremos então ser um componente que nos dá mais certeza e convicção sobre o que pensamos conhecer.

Se a sucessão de experiências confirma o que sabemos, a certeza vai se fortalecendo. Para conhecermos o todo da verdade, é recomendável que se examine cada parte da verdade global e como essas partes se relacionam logicamente com o todo. O conhecimento pode ser objeto de busca constante e permanente do homem. Ninguém pode se julgar conhecedor de tudo, uma vez que somos imperfeitos, falhos e limitados em nossas capacidades.

A filosofia apresenta diversos paradigmas: a metafísica, a ontologia, a axiologia, o conhecimento, entre outros. Esses paradigmas foram pensados e criados para tentar conhecer, responder e solucionar os problemas humanos, sejam eles ontológicos ou práticos. Outras questões relevantes estão associadas ao modo como os conceitos de conhecimento e verdade são construídos, a relação entre eles e as questões que os circundam.

Os conceitos de moral e ética, apesar de diferentes, são frequentemente aplicados como sinônimos. No entanto, é possível encontrar diferenças entre esses conceitos: a moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou grupo de pessoas; a ética centraliza a discussão em torno das noções e princípios que fundamentam a vida moral.

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Estética é a parte da filosofia que trata da beleza de sua natureza; há várias teorias de como se vê o belo dentro de um contexto da filosofia. Se a estética está preocupada em descobrir os princípios que regem as coisas belas, quando aplicamos esses princípios na elaboração de algo belo denominamos arte.

 

 

 

  1. A partir dos conceitos atuais da filosofia, procure interpretar a frase: “A filosofia não é a revelação feita ao ignorante por quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e não à razão da força” (Fernando Savater).
  2. De que forma você utiliza a filosofia na sua vida profissional?
  3. Elabore um conceito pessoal de filosofia a partir do texto da competência.
  4. A ciência tem na sociedade atual mais importância que a filosofia?
  5. Descreva de que forma ocorre a elaboração do conhecimento filosófico.
  6. Qual a relação da filosofia com a religião?
  7. Qual a importância da verdade na estrutura dos conhecimentos filosóficos?
  8. Relacione os conceitos de Metafísica, Ontologia e
  9. Conceitue ética e moral e elenque suas diferenças.
  10. Discorra sobre estética e
  11. Teça comentários sobre as características da Era Moderna e da Era Contemporânea.
  12. Quais as principais características do Pós-Modernismo?

 

 

 

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